A moça do caixa quer ir ao banheiro

Naquela famosa cadeia mundial de fast food ou junk food, como queiram, a moça varria o espaço em que vários outros funcionários passavam apressados, encaminhando pedidos e entregando lanches. Em dado momento ela parou e fez uma advertência: – Fulano, se você continuar jogando lixo no chão eu te dou uma vassourada! O rapaz riu e deu de ombros. No instante seguinte, a moça da vassoura já havia abandonado o instrumento e se ocupava agora de abastecer copos e mais copos de refrigerantes para os famosos pedidos “combo”.

Nisso, uma das funcionárias que tirava novos pedidos no caixa, falou em alto e bom som: – Você pode ficar um pouco aqui, tenho que ir ao banheiro. A moça da vassoura, que se ocupava dos refrigerantes, franziu o cenho e se dirigiu para alguém que parecia ser o gerente. – Olha aí, ela quer ir ao banheiro, bradou.

Enquanto não se decidiam, todos que estavam no estabelecimento já sabiam que a moça do caixa precisava ir ao banheiro, porque ela não parava de falar da urgência em ter que fazer as necessidades. Num tom meio envergonhado, a pessoa que parecia ser o gerente do restaurante consentiu para o alívio de todos, principalmente da moça do caixa.

Agora a cena é de uma grande rede de supermercados. Um grupo de funcionários comenta sobre o salário. Acham que o contracheque está minguado. Os homens eram contidos, mas as mulheres que trabalham na reposição de sucos estrilam. – Quanto que veio? R$ 600? A senhora arrematou os comentários com palavrões, enquanto de uma escada arremessava as caixas de sucos da prateleira para um carrinho. Jogou tantos e com tanta força, que as caixas de sucos começaram a estourar e logo o chão estava banhado em suco de laranja.

E a mulher, nem aí com a torcida. – O que adianta trabalhar desse jeito, resmungava.

Minutos mais tarde no mesmo supermercado, o locutor das ofertas começou fazer um comercial bonito sobre oportunidades de emprego na rede de supermercados. – Venha trabalhar conosco, dizia com voz gutural, complementando a informação com os documentos necessários que os possíveis candidatos teriam que portar, além do endereço onde se apresentar. Enquanto o locutor se esmerava em destacar as qualidades da empresa, um repositor sem notar que era observado sacudia a cabeça e ria com desdém, ao mesmo tempo que dava palmadas nos pacotes de farinha para fazer a pilha nas prateleiras.

Provavelmente, estas pessoas nunca ouviram falar em etiqueta social do trabalho. Sou contra este nome pomposo porque soa como inatingível. Etiqueta no trabalho nada mais é do que bom senso dentro da empresa. Pode até parecer besteira falar isso num momento em que vivemos o pleno emprego, mas não é. Quem está numa ocupação em que não pretende seguir carreira, como parecem ser ambos os casos, deve encará-la como tal. Mas não se deve esquecer que esta ocupação “passageira” vai contar no currículo. Então, é recomendável ter bom comportamento, evitando comentários íntimos, brincadeiras com colegas na frente do cliente e comentários depreciativos do salário e sobre a empresa em público.

Boas referências, mesmo em atividades humildes, contam muitos pontos para qualquer profissional. Indica que o trabalhador conseguiu bom desempenho desenvolvendo tarefas que a maioria torce o nariz. Portanto, está preparado para grandes desafios. Sem contar que qualquer trabalho bem feito sempre aparece e se não rende dividendos, pelo menos arranca elogios. Um trabalhador bem conceituado no ambiente de trabalho é meio caminho andado para a promoção. E de repente aquele emprego passageiro pode virar um emprego de carreira.

* Miguel Ângelo de Andrade publica a coluna ‘Pelas ruas da cidade’ durante as férias de Edilson Pereira.