De vez em quando sai uma matéria em jornal sobre o problema de relacionamento dos carteiros com os cães. O caso mais recente foi no Tatuquara: os moradores de uma parte do bairro não estariam recebendo as correspondências porque os cães não deixam. Ou seja, as ruas do bairro estão cheias de cães e como aquelas gangues dos subúrbios de Nova York, eles estão dando as cartas no pedaço. Esta é apenas a variação de um velho problema envolvendo carteiros e cães. O cão pode ser o melhor amigo do homem, mas é talvez o pior inimigo do carteiro. E não tem diplomacia quê de jeito neste conflito.

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Uma amiga veterinária se meteu a advogada dos cães e deu uma explicação científica para este embate que não é novo e não acontece somente no Tatuquara, tampouco em Curitiba. Na realidade, é problema comum em todas as cidades que tem estes dois elementos: carteiros e cães. A explicação de Berenice Perdigão é a seguinte: ‘O cão segue o seu instinto de proteger a área em que ele está. E a questão não é apenas com o carteiro, o moço da Copel que faz leitura de relógios e o da Sanepar também enfrentam os mesmos dilemas. Assim como alguns lixeiros‘. Resumindo, pela ótica canina, ele está nada mais nada menos que defendendo o seu território. Que, na realidade, é de seu dono.

Faz sentido. A questão territorial é de grande importância no universo canino – ou no mundo cão. Aliás, uma das razões que levam a maioria das pessoas a ter um cão é justamente por isso. Para que ele faça a defesa do território. Naturalmente, outras pessoas preferem cão de companhia. Mas, mesmos estes, também fazem a defesa do território, inclusive delimitando-o com urina para que não apenas os carteiros fiquem sabendo quem manda na área, mas também outros cães. Este elemento urinário é responsável pelos donos de apartamentos preferirem cadelas, que são territorialmente mais socialistas e menos nacionalistas. Pelo menos não ficam estabelecendo fronteira pela casa inteira.

Depois de fazer um levantamento do território, fazer a sua devida demarcação, o cão se sente o rei do pedaço. Eu fico aqui pensando que na cabeça do cão, o dono da casa, o homem, na realidade, ganha uma concessão do cão para ficar em seu território – e não o contrário. Mas como o homem providencia ingredientes que tornam a vida do cão melhor, como alimentos e cuidados, o cão elege o homem como o seu melhor amigo. Portanto, esta visão de que o cão é o melhor amigo do homem, é pura bobagem. É apenas um ponto de vista humano. A grande realidade é que para o cão, o homem é o seu melhor amigo. E por esta razão ele lhe dedica afeto, proteção e segurança. Um código de convivência que não pode ser quebrado por ninguém, principalmente por carteiros.

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E como os carteiros, os funcionários da Copel e os da Sanepar, além de lixeiros, para ficar nos principais invasores do território delimitado pelos cães, não possuem um código de identificação, não tem senhas e nem salvo-condutos que os apresentem como amigos dos cães ou dos donos da casa – eles são catalogados como inimigos dos cães e dos donos da casa e como tais são tratados. É algo tão simples que parece absurda toda polêmica que se faz sobre o tema. Pessoalmente eu acredito que nem a Organização das Nações Unidas consegue dar jeito neste conflito. Isto aí é coisa para perdurar muito tempo – enquanto existirem cães e carteiros. Enquanto isso, cada um que se vire com seu estilo, modo e estratégia, como numa velha e longa guerra. Principalmente, porque de todos os animais, o cão é de longe o que goza de melhor conceito de amigo do homem – embora, agora, saibamos que a coisa é na realidade bem ao contrário. Incluindo, curiosamente, o carteiro que também deve ter um cão em casa. Que certamente vai atacar outro carteiro se ele aparecer na casa de seu dono. Como se vê, o assunto é simples, mas cheio de nuances complexas.