A viagem no tempo é um tema que fascina a todos. A ideia de podermos mudar o passado, conhecer nossos pais quando jovens ou testemunhar grandes momentos da humanidade é uma oferta difícil de recusar.
Quando pensamos em filmes de viagem no tempo, não há como escapar dos clássicos De Volta para o Futuro, Efeito Borboleta, Interestelar, A Máquina do Tempo ou Exterminador do Futuro, entre outros.
Hoje, porém, vamos falar de filmes igualmente fascinantes que, por um ou outro motivo, foram esquecidos ou sequer são conhecidos, perdidos nos vastos catálogos dos serviços de streaming.
Prepare-se para uma viagem repleta de emoção, que vai valer cada minuto do seu precioso tempo.
CONTRA O TEMPO | 2011 | Max
👍👍👍👍
Assim como em Lunar (2009), obra anterior do diretor Duncan Jones, filho do cantor David Bowie, o protagonista de Contra o Tempo passa boa parte do filme buscando explicações para questões que envolvem sua identidade e seu papel na trama. Com um agravante: ele tem apenas poucos minutos para descobrir o que acontece, pois, após este tempo, o trem em que ele se encontra irá explodir por conta de um ataque terrorista.
Da mesma forma que Feitiço do Tempo, do qual empresta boa parte de seu argumento, o protagonista interpretado por Jake Gylenhaal é obrigado a reviver aqueles 8 minutos indefinidamente até descobrir o responsável pelo atentado e evitar um novo ataque.
O roteiro utiliza-se dos mesmos recursos do filme de Bill Murray para escapar da armadilha da falta de novidade em tantas repetições do mesmo momento. A cada momento que retorna para dentro da cabine do trem, ele aprende um pouco com o momento anterior. A montagem brinca constantemente com o espectador, ora ampliando o tempo a níveis angustiantes, ora reduzindo-o a poucos segundos.
Trabalhando com inteligência questões relacionadas às decisões que tomamos em nossas vidas e aonde estas irão nos levar, Contra o Tempo, além de entretenimento de primeira qualidade, é uma obra corajosa que não se intimida em deixar um certo gosto amargo na boca do espectador em sua conclusão.
O PREDESTINADO | 2014 | Prime Video
👍👍👍👍👍
O Predestinado é uma obra admirável não apenas por ser um sci-fi de primeiríssima qualidade, mas uma trama intrincada com um dos paradoxos temporais mais complexos do gênero.
Baseado num conto de Robert A. Heinlein, o filme escrito e dirigido por Michael e Peter Spierig é uma fábula sobre solidão e identidade, sobre escolha e destino – e a forma como estes dois últimos conceitos se mesclam e se fundem na surpreendente trajetória de uma jovem e um agente misterioso interpretado por Ethan Hawke.
Os irmãos Spierig, que já tinha demonstrado o seu talento para a criação de distopias alternativas e visualmente estilizados no ótimo 2019 – O Ano da Extinção, criam aqui um universo que se baseia em grande parte no mundo real, mas adicionando um olhar retrô-futurista delicioso.
A escolha é óbvia: com uma trama tão inacreditável, é preciso uma ambientação que remeta a tempos em que alcançar as estrelas era um sonho ainda distante. O título do filme se refere ao conhecido paradoxo da predestinação, no qual pessoas ou objetos podem existir sem que seja possível determinar o momento em que eles foram inicialmente criados.
E aqui a gente chega ao que faz de O Predestinado um grande filme: Sara Snook. Anos antes de sua consagração em Succession, a atriz australiana já mostrava aqui o seu potencial em um papel pra lá de desafiador: ainda que boa parte do filme revele seu olhar triste e desalentado, é o brilho de suas descobertas e das infinitas possibilidades [que nunca se concretizaram] que marca a experiência do espectador.
DEZESSEIS FACADAS | 2023 | Prime Video
👍👍👍½
Uma mescla de De Volta para o Futuro, A Morte te dá Parabéns e Final Girls, esta produção em cartaz no Prime Video é deliciosamente despretensiosa e divertida.
Ainda que não tenha a genialidade do primeiro Pânico ou de O Segredo da Cabana, o filme capricha na desconstrução do gênero e seus clichês, e ainda encontra tempo pra fazer um humor muito inteligente sobre o choque cultural de uma adolescente dos anos 2020 frente ao universo incorreto dos anos 1980.
Dezesseis Facadas tem na protagonista Kiernan Shipka um de seus grandes destaques, assim como a recriação do período e sua trilha sonora repleta de chicletes da época. Violento na medida certeza, é um filme que poderia ousar mais em seu conceito, mas do jeito que está, não há do que reclamar!
DOIS MINUTOS ALÉM DO INFINITO | 2020 | Max
👍👍👍👍
Dois Minutos uma obra que transborda criatividade, utilizando-se de seu orçamento mínimo e de suas próprias limitações para estabelecer uma história das mais fascinantes. Um dono de um estabelecimento descobre que os monitores do café e de sua casa [que fica exatamente em cima do café] estão conectados com um delay de dois minutos no tempo. Em resumo: em casa, ele pode ver o que acontecerá daqui a dois minutos – no futuro – no café. E, do café, ele consegue conversar com ele mesmo dois minutos no passado 🤯.
O que era apenas uma curiosidade bizarra vai aos poucos se tornando algo ainda mais complexo quando alguns de seus amigos decidem colocar os monitores um de frente para o outro, criando um looping quase eterno de visões do passado e do futuro.
Dirigido por Junta Yamaguchi, filmado em plano-sequência e com um Iphone[!] – como pode ser visto nos excelentes créditos finais – Dois Minutos é uma comédia que em certos momentos lembra o também genial Plano-Sequência dos Mortos, seja pela inventividade como pelas soluções encontradas pelo roteiro a partir da premissa inicial.
É uma daquelas produções que comprova que não é preciso um orçamento gigantesco nem efeitos visuais de ponta para criar uma história de viagem no tempo que não apenas respeita o espectador como as próprias regras que estabelece em sua trajetória. Filmão.
BILL E TED: ENCARE A MÚSICA | 2022 | Prime Video
👍👍👍👍
A nova aventura da dupla criada há 30 anos segue nossos amigos, agora cinquentões, em sua saga de criar uma música que una todo o mundo. O problema é que se ela não for criada até as 19h17, o universo basicamente irá se destruir.
O filme então se divide em duas narrativas igualmente divertidas. De um lado, Bill & Ted viajam no tempo para tentar ‘roubar’ a música de seus ‘eus’ futuros. Do outro, suas filhas vão ao passado recrutar grandes nomes da música para compor a banda que irá tocar esta música.
Keanu Reeves e Alex Winter estão absolutamente perfeitos, com o mesmo entrosamento e pique de três décadas atrás, ainda respondendo tudo em dupla, fazendo deliciosas pausas dramáticas, falando ‘whoa’ para tudo o que aparece e com aquela ingenuidade que poderia até soar estranha hoje em dia, mas que se encaixa com eficiência em seus personagens.
Finalizando com uma sequência tão otimista que é capaz até de emocionar, Bill & Ted Face the Music é talvez o filme que a gente esteja precisando ver nos dias de hoje, uma comédia escapista, inocente, mas capaz de transmitir uma mensagem tão bonita quanto que a música é realmente capaz de salvar o mundo.
A GENTE SE VÊ ONTEM | 2019 | Netflix
👍👍👍½
Produzida por Spike Lee, esta produção chega para discutir questões sociais e raciais usando como fundo o subgênero sci-fi da viagem no tempo. Aqui, temos uma jovem brilhante [a também brilhante Eden Duncan-Smith] que desenvolve junto com seu colega de infância um equipamento de deslocamento temporal.
Quando ela faz uma pequena alteração no passado, o resultado é trágico, causando a morte do seu irmão. Agora, ela precisa voltar no tempo pra tentar salvar o irmão e consertar tudo que deu errado.
A Gente se Vê Ontem é um filme despretensioso, inteligente, com referências que passam por De Volta para o Futuro, Efeito Borboleta e até mesmo Looper, que discute o conceito de destino e o quanto podemos – e devemos – lutar para tentar mudar uma realidade que é imposta de forma violenta a uma parte da população todo santo dia.
BEAVIS E BUTT-HEAD DETONAM O UNIVERSO | 2022 | Paramount+
👍👍👍👍
Os anos passam e Beavis e Butt-head [astros da extinta MTV] ainda não conseguiram transar. A esperança deles reside agora numa viagem espacial da NASA em que eles acreditam que irão ‘acoplar‘ com uma astronauta. Evidentemente nada dá certo, eles acabam caindo num buraco negro e chegam aqui na Terra no ano de 2022, o que cria um paradoxo temporal que pode destruir o universo.
Tão genial quanto idiota, o filme aproveita de forma criativa o choque cultural da dupla com os dias de hoje (as conversas com a Siri são maravilhosas) – mas não muito, até porque eles só querem saber de transar e comer nachos.
A imbecilidade absoluta dos nossos protagonistas da margem a um festival de gags divertidíssimas (não falta nem o saudoso Cornholio!), quase sempre de teor sexual do nível quarto ano do fundamental. Em resumo, se vc curte esse tipo de humor, o filme é um prato cheio. Caso contrário, passe longe. Hehehe!
TERROR NOS BASTIDORES | 2015 | Max
👍👍👍½
Para quem não sabe, o termo final girl se refere à garota que, nos filmes de terror, é a última sobrevivente de um grupo eliminado por um assassino/monstro/espírito e que, por definição do roteiro, é também a responsável por sua derrota.
O cinema de terror e suspense está repleto de final girls, como Sigourney Weaver em Alien, Jamie Lee Curtins em Halloween, Neve Campbell em Pânico e Heather Langenkamp em A Hora do Pesadelo, entre outras.
O filme dirigido por Todd Strauss-Schulson é uma deliciosa e nostálgica homenagem às final girls e aos slasher movies em geral. O filme conta a história de um grupo de jovens que, por acaso, vão parar dentro de um filme de terror nos moldes de Sexta-Feira 13, com direito a diálogos canhestros e monstros que aparecem sempre que alguém ameaça fazer sexo.
Para complicar um pouco mais a história, o filme em questão havia sido o maior sucesso da falecida mãe de uma das jovens, que vê ali uma oportunidade de reencontro e redenção.
E mesmo que o lado comédia não se alinhe com harmonia com o lado emoção, The Final Girls é um filme quase que obrigatório, uma obra que reverencia um gênero dos mais emblemáticos e que ainda assim consegue soar relevante e absolutamente divertida.
A CASA NO LAGO | 2006 | Max
👍👍👍👍
Esse é daqueles românticos de dar dor no dente de tanto açúcar, mas eu gosto bastante da ideia por trás do filme: afinal, vale a pena esperar pelo seu grande amor, por mais distante no tempo e no espaço que ele possa estar?
Sem se preocupar em esclarecer o mecanismo por trás da caixa de correio que entrega mensagens em outras épocas, o filme conta com o charme e a química de Keanu Reeves e Sandra Bullock, que compensam qualquer questão.
Uma bela sessão da tarde que vale a pena recordar.
NOITE PASSADA EM SOHO | 2022 | Netflix
👍👍👍👍½
Temos aqui um filme tão encantador, exuberante e provocador, com dois atos iniciais que estão com certeza entre os grandes momentos do cinema deste século que você até perdoa aquela conclusão desastrosa que só não põe tudo a perder porque o que o antecede se aproxima do que chamamos de obra-prima.
Provando ser incapaz de fazer um filme ruim, Edgar Wright traz aqui provavelmente o seu filme mais pessoal, uma carta de amor e ódio ao conceito da nostalgia imaculada. De um lado, temos a jovem sonhadora [em todos os sentidos] Eloise [Thomasin Mckenzie, provando mais uma vez ser um dos grandes nomes da nova geração] que vai para Londres estudar moda. De outro, a jovem Sandie [Anya Taylor-Joy, uma presença absolutamente magnética], que nos anos 1960 vai para Londres em busca do sucesso, mas só encontra a degradação e o abuso.
Separadas por 60 anos, mas unidas nos sonhos e nos pesadelos de Eloise, as duas dividem experiências, sensações, decepções, arrependimentos e violência. A chegada de Eloise à década de 1960 é esfuziante como se imagina o período, com o Thunderball de 007 nos cinemas, aquela vibração das big bands, do rockabilly, das baladas românticas, do psicodelismo e a efervescência de um tempo de mudanças.
Wright joga Eloise neste caleidoscópio de cores e sons sem o menor pudor, banhando seus cenários com as cores fortes de um luminoso na janela da garota. Deslocada em sua própria época e com fantasmas que a acompanham desde seu local de origem, Eloise vive a nostalgia não como admiradora, mas nitidamente com o desejo de fazer parte dela.
Mas eis que Wright revela que seu filme – que transcende diversos gêneros de forma genial – tem a sua dose de horror e misoginia bem destiladas. De aspirante ao sucesso, Sandie se vê de repente como vítima do charme e da repugnância de homens que a veem apenas como objeto [Matt Smith, um ator admirável, entrega aqui uma performance que transita com folga entre o sedutor e o sórdido].
Um belíssimo filme que nem a sua conclusão para lá de equivocada consegue manchar.
E para você, qual filme sobre viagem no tempo não pode faltar na sua lista?