Um Completo Desconhecido: um vislumbre mínimo na identidade de Bob Dylan

NOTA: 2.5/5

Ótima atuação de Timothée Chalamet não consegue superar um roteiro genérico, incapaz de fugir das amarras do gênero.

Bob Dylan é um dos nomes mais influentes da história da música. Vencedor do Nobel de Literatura, o cantor e compositor revolucionou o folk e o rock, com letras que capturaram o espírito de uma geração e atravessaram décadas sem perder a relevância.

Clássicos como Blowin’ in the Wind, Like a Rolling Stone e The Times They Are a-Changin’ são hinos que marcaram o século passado. Apesar de sua importância, porém, Dylan sempre foi uma figura enigmática, distante da idolatria tradicional. E é justamente essa aura de mistério que Um Completo Desconhecido tenta capturar – mas sem muito sucesso.

Dirigido por James Mangold, conhecido por seus trabalhos em Logan, Ford vs. Ferrari e Johnny & June, o filme segue a estrutura clássica das biografias musicais, reconstituindo a ascensão de Dylan, sua relação com Joan Baez (Monica Barbaro) e Suze Rotolo (Elle Fanning), seu rompimento com o purismo folk e a turbulenta reação do público quando adotou guitarras elétricas no Newport Folk Festival de 1965.

O filme brilha quando se concentra na música. As cenas de composição e apresentações são os momentos mais envolventes e até mesmo emocionantes, especialmente quando Chalamet interpreta The Times They Are a-Changin’ e Like a Rolling Stone. A reconstrução de época é impecável, com figurinos, direção de arte e trilha sonora que transportam o espectador diretamente para os cafés de Greenwich Village e os grandes palcos da década de 1960. Chalamet, fazendo com honras a lição de casa, além de atuar, canta todas as canções, e o resultado é impressionante.

No entanto, quando se trata de construir um retrato humano do artista, o filme tropeça. Dylan surge como um jovem blasé e arrogante obcecado pela própria música e pelo sucesso, mas sem grande profundidade emocional. As relações afetivas, especialmente com Baez e Rotolo, são abordadas de forma superficial, e o roteiro evita se aprofundar nos conflitos internos do cantor. Elle Fanning, coitada, é completamente subaproveitada, e Barbaro, indicada ao Oscar, também não tem muito espaço para brilhar.

Timothée Chalamet entrega uma performance comprometida e envolvente, mostrando mais uma vez sua versatilidade. Desde sua ascensão em Me Chame Pelo Seu Nome, o ator transita entre dramas intimistas (Querido Menino), filmes históricos (O Rei) e sucessos de bilheteria (Duna). Aqui, ele encara o desafio de viver uma lenda da música e faz um trabalho convincente, graças a Deus bem superior ao de Rami Malek em Bohemian Rhapsody, por exemplo. Mas, ainda que seu Dylan seja carismático e convincente, falta ao filme a ousadia para fugir das amarras do gênero biográfico.

O maior problema do filme talvez seja o roteiro convencional e linear – do próprio Mangold – que impede que a história ganhe mais camadas. Em vez de se arriscar com uma abordagem não convencional, como Todd Haynes fez em I’m Not There – no qual Dylan foi representado por múltiplos atores –, Mangold opta pelo caminho seguro. O resultado é um filme correto, mas absurdamente previsível e com conflitos quase artificiais.

No fim das contas, Um Completo Desconhecido é um filme que vale pelas canções e pela performance de Chalamet, mas que pouco adiciona à lenda de Dylan. Assim como Bohemian Rhapsody, ele emociona muito mais pela força da música e da memória afetiva do que por qualquer mérito narrativo. O filme é um belo retrato de época, mas, como biografia, deixa Dylan tão misterioso quanto sempre foi, mesmo ancorado por um elenco memorável.


Um Completo Desconhecido (A Complete Unknown)

  • Direção: James Mangold
  • Elenco: Timothée Chalamet, Monica Barbaro, Elle Fanning, Edward Norton, Boyd Holbrook, Dan Fogler
  • Duração: 2h20
  • Sinopse: Cinebiografia de Bob Dylan que acompanha sua ascensão na cena folk dos anos 1960, seu impacto cultural e a polêmica transição para o rock elétrico.

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