Estamos na semana de uma das estreias mais aguardadas do ano, na qual Deadpool & Wolverine finalmente compartilham as telas dos cinemas. Essa combinação explosiva de humor irreverente e brutalidade com garras de adamantium promete tem tudo para agradar um público que anda bem desconfiado com o MCU após a sagração de Ultimato.
Ao longo dos anos, os filmes de super-heróis evoluíram de simples adaptações de quadrinhos – muitas vezes canhestra – para um indústria gigantesca capaz de movimentar bilhões de dólares.
Vamos aproveitar o momento e listar aqueles que eu considero os melhores filmes do gênero, mostrando que o heroísmo pode vir em todas as formas e tamanhos, com histórias que ressoam muito além das páginas dos quadrinhos.
SUPERMAN – O FILME (1978)
A chamada não poderia ser melhor. “Você vai acreditar que o homem pode voar”. Quando decidiu iniciar seu filme com uma cortina revelando a capa da Action Comics número 01, de 1938, o cineasta Richard Donner estabelecia ali a sua missão: levar o espectador para um universo de fantasia, repleto de otimismo, esperança e fé na humanidade. O universo frio e cartesiano dos kryptonianos contrastava de forma radical com a casinha na fazenda dos Kent, um lar caloroso e amoroso com um horizonte saído de John Ford.
O bom-mocismo irremediável do protagonista é sua fraqueza e talvez seja justamente o que faz com que o filme funcione tão bem. A magia de Superman, porém, não seria completa sem Christopher Reeve, tão talentoso em suas minúcias como Clark Kent e como Kal-El que nós podemos realmente acreditar que as pessoas não sabiam de sua identidade secreta. Um detalhe aqui na voz, na postura, nos ombros e a mágica estava feita. Donner confiava tanto em sua obra que não se importou em nos apresentar seu herói depois de quase uma hora de filme. Não é por acaso que é até hoje um dos maiores – senão o maior – filme de origem do gênero.
Mais do que encantar por malabarismos visuais e cenas de impacto, Donner sabia que precisava trazer o seu herói para o chão antes de lançá-lo aos céus. Era um diretor como poucos.
DARKMAN – VINGANÇA SEM ROSTO (1990)
Em meio ao boom dos super-heróis em meados dos anos 80 e 90, Sam Raimi chegava com um personagem que, mesmo que não existisse nos quadrinhos ou no cinema, carregava em sua história – e principalmente na forma em que esta era contada – todos os elementos clássicos do gênero. Darkman conta a história do cientista boa-praça interpretado por Liam Neeson que, após um atentado, se vê terrivelmente desfigurado e, por meio de sua pesquisa sobre pele artificial, arma uma vingança contra os que o atacaram.
E mesmo com orçamento baixo, Raimi usa de toda a sua criatividade para estabelecer uma trama trágica com ecos de A Bela e A Fera e sequências de ação divertidíssimas, movimentos de câmera elegantemente elaborados, a trilha sonora típica de Elfman no período e ainda contando com uma insuspeita Frances McDormand como a mocinha Julie, que sofre para sempre com a perda de seu grande amor.
BATMAN: O RETORNO (1992)
Provavelmente um dos blockbusters mais ousados e corajosos de todos os tempos, Batman – O Retorno foge completamente da estilização e uma certa infantilidade do primeiro e mergulha de cabeça em um universo próximo ao da fantasia, com um vilão tão bizarro quanto trágico: um personagen de Dickens jogado em uma história protagonizada por um herói tão recluso quando Charles Foster Kane e uma mocinha com sérios problemas psicológicos
Saído de Edward Mãos de Tesoura, Burton trouxe o que de melhor havia naquele filme: o frio da neve, a imponência visual [Batman nunca foi tão bem fotografado como neste filme] e a solidão de seu protagonista e Danny Elfman mais próximo do lírico do que da fanfarra triunfalista do filme anterior.
O Cavaleiro das Trevas pode até ser melhor como cinema de ação, mas este Batman aqui tem algo que nenhum outro tem: alma, coração e poesia.
CORPO FECHADO (2001)
Ainda que hoje em dia sejam perceptíveis algumas shyamalanices padrão do diretor, o fato é que Unbreakable continua sendo, até hoje, um dos melhores filmes de super-heróis já realizados, uma visão realista que trabalha com os clichês do gênero com inteligência e eficiência.
A temática de que o herói tem sempre o seu oposto é trabalhada por elementos visuais bem específicos, como o uso constante de imagens refletidas em espelho, de ponta cabeça ou invertidas, criando composições tão elegantes quanto reveladoras.
Assim como em Sexto Sentido, Shyamalan volta a usar as cores para destacar tanto sentimentos como elementos de perigo, seja pelos tons azuis que refletem a tristeza do personagem de Bruce Willlis, o roxo nas roupas de Samuel L. Jackson e o laranja para evocar o perigo e a ameaça, tudo isso culminando na belíssima sequência em que David Dunn enfrenta o assassino de roupa laranja, sua primeira ‘missão’ como super-herói.
OS INCRÍVEIS (2004)
Um dos melhores [pra não dizer o melhor] filmes da Pixar, Os Incríveis é um conjunto de acertos como poucas vezes se viu. Ao contar a história de uma família de super-heróis proibida de agir livremente, Brad Bird se inspirou no Watchmen de Alan Moore para criar uma aventura colorida com algumas das melhores sequências de ação da história.
Nada disso, porém, resistiria ao tempo se não fosse o cuidado preciso no desenvolvimento de seus personagens, agraciados com poderes que estão diretamente ligados a seu papel na trama. A dinâmica familiar da Família Pêra é a grande sacada do filme, que mescla o melhor da comédia de costumes com cenários e trilha sonora saídos diretos de algum filme do 007 dos anos 60.
A riqueza temática do filme – talvez o mais adulto da Pixar – ainda encontra tempo para estabelecer um vilão cujos objetivos fazem todo o sentido, ainda que de forma distorcida [Thanos agradece Síndrome de joelhos] e um quadro de coadjuvantes adoráveis, como a estilista Edna Mode e o super-herói Gelado.
Perfeito é pouco.
HOMEM-ARANHA 2 (2004)
Talvez um dos melhores filmes de super-heróis da história, Homem-Aranha 2 é uma aventura perfeita, que equilibra com inteligência o espetáculo visual de Sam Raimi e o roteiro enxuto de Alvin Sargent com o drama pessoal do protagonista, encarnado com aquele bom mocismo inigualável de Tobey McGuire.
Falta muito ainda para que uma versão live-action do aracnídeo alcance o grau de excelência estabelecido aqui por Sam Raimi – que de quebra ainda tem um vilão maravilhoso em Alfred Molina e aquele ‘vôo’ final do herói que vai ficar pra sempre na memória.
HELLBOY 2: O EXÉRCITO DOURADO (2008)
Há um fato no cinema fantástico que não pode ser contestado. Ninguém estabelece universos e desenha criaturas de forma tão fabulosa quando Guillermo Del Toro. Aqui ele traz o seu anti-herói vermelhão numa trama repleta de momentos antológicos, personagens fascinantes e sequências de ação belíssimas, tudo embalado por um olhar todo especial para o bizarro, o trágico e o poético.
Uma pena que estes arroubos criativos e visuais de Del Toro não tenha encontrado seu público certo, o que enterrou injustamente uma série que tinha tudo pra ser fabulosa.
X-MEN PRIMEIRA CLASSE (2011)
Ainda que Brian Singer tenha estabelecido as bases da (razoavelmente) bem sucedida série, foi Matthew Vaughn quem melhor soube lidar com os temas mais caros da saga, como o preconceito, a aceitação, a superação, com uma dose extra de bom humor e ótimas sequências de ação, sem o exagero visual que marcou as obras posteriores.
PODER SEM LIMITES (2012)
Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades. Nunca essa frase foi tão certeira como nessa pequena pérola que estreou há mais de10 anos – e que ainda hoje é um dos mais admiráveis filmes de super-heróis já feitos.
Se de um lado temos dois jovens bem resolvidos socialmente usando seus poderes para zombarias pueris, de outro temos Andrew [Dane Dehaan], um adolescente com a autoestima no chão, com a mãe moribunda e o pai abusivo.
O terço inicial é divertidíssimo, com as descobertas dos poderes sendo testadas quase como brincadeira de criança. A partir de determinado ponto, porém, o filme assume ares que remetem ao terror, com Andrew perdendo a noção da realidade e usando seus poderes para ações tão cruéis que vão desde despedaçar pequenos animais até arrancar os dentes de seus desafetos.
Poder Sem Limites é uma obra poderosa [dã] que, a sua forma, traz uma visão das mais realistas a um universo tradicionalmente tratado com o máximo de fantasia e heroísmo. O olhar pé no chão é fundamental para o seu sucesso [algo que tanto Landis como Trank vão demorar para achar novamente].
THOR RAGNAROK (2017)
Thor Ragnarok é um filme divertidíssimo, um mix improvável e bem-sucedido de Mel Brooks e Monty Pyhton em uma obra de 150 milhões de dólares.
Levando a extremos o humor incidental de Guardiões da Galáxia, Ragnarok é uma comédia deslavada que não se envergonha de rir de si mesma – e ainda assim entregar uma aventura quase infanto-juvenil carregada do espírito dos anos 80 em todas as suas cores, exageros e trilha de sintetizadores.
Ragnarok entrega alguma das melhores sequências de ação do universo Marvel e – apesar de todo o tom farsesco da trama – o arco de Thor se completa até aqui de forma até bastante satisfatória.
O filme vai fundo na celebração ao desenhista Jack Kirby, tanto no figurino como na direção de arte como na fotografia. A trilha sonora repleta de sintetizadores dá a impressão de que você está num filme do Flash Gordon e Immigrant Song nunca foi tão bem utilizada como aqui.
Em resumo: se você não se importa em ver o seu herói nórdico nas situações mais esdrúxulas do mundo, Thor Ragnarok continua sendo uma grande diversão.
MENÇÕES HONROSAS
Batman – O Cavaleiro das Trevas (2008)
Pantera Negra (2018)
Capitão América – Soldado Invernal (2014)
Hulk (2003)
Vingadores – Guerra Infinita (2018)
Homem-Aranha no Aranhaverso (2018)
Dredd (2012)
Logan (2017)
Homem de Ferro (2008)
Batman – A Máscara do Fantasma (1993)
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