Nosferatu em três atos: a história por trás do novo filme do diretor de A Bruxa

Em 2 de janeiro, chega aos cinemas o tão aguardado Nosferatu de Robert Eggers, uma nova versão do clássico de terror de 1922, dirigido por F.W. Murnau.

A expectativa é grande, e, para aquecer, vamos dar uma olhada no legado do filme original, a refilmagem de 1979 feita por Werner Herzog e até no curioso A Sombra do Vampiro (2000), que misturou ficção e realidade de uma maneira bem peculiar.

Prepare-se para uma viagem que mistura o antigo e o novo, o clássico e o experimental, preparando o terreno para o que parece ser mais um belo filme do diretor Robert Eggers, de A Bruxa, O Farol e O Homem do Norte.

Seja forte.


NOSFERATU – UMA SINFONIA DE HORROR

Fico imaginando o que deve ter sido para a plateia de 1922 ter visto esse filme pela primeira vez. Exemplo classudo e clássico do expressionismo, Nosferatu pode até não assustar muito hoje em dia, mas é brilhante em suas composições, na forma como lida com a representação do mal, do contraste entre a luz e a escuridão, as brincadeiras com as sombras [que Coppola traria para o seu Drácula anos depois].

Versão não oficial do livro de Bram Stoker, temos aqui um filme que carrega uma atmosfera de loucura e inquietação, graças tanto às escolhas criativas de Murnau como a figura assombrosa e de certo modo asquerosa do Conde Orlock, interpretado por Max Schrek, em poucas aparições mas todas tão marcantes que se tornaram a base para tudo que foi feito no horror dali em diante, influenciando o gênero de forma contundente e permanente.

O filme ainda conta com diversas sequências tenebrosas, como Orlock levantando de seu caixão no navio, carregando seu caixão em meio às ruas desertas da cidade, a procissão do mortos e seu destino final. Mesmo com a teatralidade e o exagero evidentes do período, um filme que merece nada além de aplausos.

Uma curiosidade: quem quiser ver Nosferatu encontra diversas versões no Youtube: em tons sépia, colorido, preto e branco, com qualidade de 4k, com trilha clássica, com trilha eletrônica, com música de órgão. É só escolher!


NOSFERATU: O VAMPIRO DA NOITE

Aqui Herzog assume a história de Drácula, dando os nomes clássicos a seus personagens. Quase que uma filmagem quadro a quadro do original, o diretor adiciona alguns elementos bem interessantes, como a melancolia palpável da figura de Drácula [muito mais uma figura digna de pena do que de asco] e a evidente solidão do personagem, que parece buscar em Lucy uma normalidade que ele jamais encontrou em vida.

Klaus Kinski surge com uma presença tão sinistra quanto frágil, que captura a essência decadente de um ser preso entre a monstruosidade e o desespero. Isabelle Adjani, como Lucy, é um retrato de frieza e determinação, quase como se a morte já a tivesse tocado antes mesmo do encontro com Drácula. E Bruno Ganz, bem novinho, é um Jonathan Harker que parece cada vez mais desamparado à medida que o filme mergulha em sua atmosfera mórbida.

Desde os primeiros minutos, Herzog envolve tudo com um tom sombrio e opressor, transformando Nosferatu em uma verdadeira dança macabra, onde cada cena parece uma pincelada de angústia.


A SOMBRA DO VAMPIRO

A Sombra do Vampiro parte de uma lenda urbana deliciosa: a ideia de que Max Schrek, o ator que interpretou o lendário Conde Orlock em Nosferatu, seria ele próprio um vampiro. E, numa sacada brilhante, transforma essa teoria bizarra em um filme que, mesmo não se assumindo como comédia, entrega momentos de puro humor e um certo lirismo. Ao mesmo tempo, a obra serve como um fascinante registro do processo criativo que era a produção cinematográfica no início do século 20, com todas as suas excentricidades e improvisos.

Willem Dafoe está maravilhoso como o rabugento vampiro que parece mais interessado em devorar a equipe de filmagem do que em seguir as orientações de Friedrich Murnau. A sua performance é de um carisma sombrio, que rouba a cena a cada aparição.

John Malkovich, por sua vez, traz um Murnau blasé e obsessivo, tão mergulhado em sua visão artística que acaba ignorando o óbvio perigo à sua volta. É um filme que diverte ao explorar o mito e, ao mesmo tempo, oferece um olhar inusitado e irresistível sobre um dos maiores clássicos do cinema.


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