Ok, o trocadilho é infame, mas a intenção é das mais nobres. Hoje vamos falar do que se costuma chamar de feel good movies, ou seja, filmes para você se sentir bem. Um feel good movie é aquele tipo de filme que te deixa com o coração quentinho e um sorriso no rosto, perfeito para aqueles dias em que tudo o que você quer é relaxar e não pensar em nada negativo.

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São histórias leves, muitas vezes engraçadas, espirituosas, que nos fazem acreditar na bondade e no lado positivo da vida, algo muito importante nos dias de hoje. Prepare a pipoca, porque separamos oito obras desse gênero para você curtir e se sentir ainda melhor!

CRESCENDO JUNTAS (2023) | Max

Nota: 🎦🎦🎦🎦

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A diretora Kelly Fremon recria com tremenda sensibilidade e bom humor um dos livros mais queridos da literatura infanto-juvenil americana: Ei, Deus, está aí? Sou eu, a Margaret, título aliás muito melhor do que o genérico Crescendo Juntas que resolveram aplicar por aqui.

O filme conta a história da jovem Margaret, entre seus 11 e 12 anos, que se muda de Nova Iorque para Nova Jersey por conta da promoção do pai e precisa encarar a nova casa, a nova escola, os novos amigos e a distância da avó que ela tanto ama. Meio na falta de ter com quem conversar, ela passa a trocar umas ideias com Deus, contando as suas inseguranças, angústias e frustrações.

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Como é de se imaginar, Deus não dá nenhuma resposta direta para a garota, até porque ela vive outro dilema: a mãe é cristã, o pai é judeu, ela não tem a menor ideia qual religião seguir.

E é dessa forma natural e espontânea que vamos nos envolvendo na história desta garota. Assim como em Quase 18, da mesma diretora, o filme só é o que é por conta de sua protagonista. Abby Ryder Fortson é uma fonte de carisma e com um talento tão puro e sincero que ela coloca o filme em outro patamar – longe da proposta genérica tão comum a este gênero.


TURMA DA MÔNICA: LIÇÕES (2021) | Prime Video

Nota: 🎦🎦🎦🎦

O primeiro filme, Laços, era uma delicinha, mas faltava algo. Os personagens, os cenários, o cuidado com a reprodução dos sentimentos de infância estavam lá, mas faltava algo fundamental: o desenvolvimento dos protagonistas para além de suas características intrínsecas.

Baseado bem livremente na graphic novel de mesmo nome, o filme é um rito de passagem clássico, com nossos personagens enfrentando suas frustrações e seus próprios defeitos para enfim poderem se encarar de frente. Mas para que isso aconteça, é preciso abrir mão do que é certo e compreender os seus próprios medos, principalmente a solidão.

Nesta viagem de descobertas, as metáforas são evidentes e até óbvias [o casulo, a borboleta], mas o diretor Daniel Rezende sabe como ninguém mexer com as emoções, apelando na maior parte do tempo para um melodrama autêntico em que direção, fotografia e música fazem questão de quebrar qualquer resistência do espectador.

Tudo isso, porém, não seria nada se o elenco desta vez não estivesse tão afiado. Giulia Benite cria aqui uma Mônica forte que ao mesmo tempo precisa assumir sua fragilidade, enquanto Kevin Vechiatto mostra um Cebolinha se esforçando para assumir seus sentimentos. E se o Gabriel Moreira faz do seu Cascão uma figura ainda mais curiosa, o destaque continua sendo a Magali de Laura Rauseo, que dessa vez revela um timing cômico dos mais invejáveis.

Lindinho. Simples assim.


NO RITMO DO CORAÇÃO (2021) | Prime Video

Nota: 🎦🎦🎦½

A jovem Ruby vive uma rotina a qual já está bem acostumada e, principalmente, conformada. Acordando todo dia às 3 da manhã, ela ajuda no barco de pesca dos pais e os ajuda aqui e ali como intérprete, já que é a única da família que não é surda. A dinâmica desta família é um dos pontos deste No Ritmo do Coração.

Toda a estrutura narrativa do filme é desenhada para ressoar emocionalmente com o espectador, o que não é nenhum problema. De um lado, temos a família que, de certo modo, tornou-se dependente da filha mais nova. De outro, uma garota que descobre um talento que desconhecia e que, de uma hora para outra, percebe que o mundo pode ser muito maior do que ela jamais tenha imaginado.

Ainda que você perceba todas as cordas puxadas pela diretora, tudo flui com tanta naturalidade que é impossível não se apaixonar por esta família completamente porraloca [formada por atores surdos, entre eles a oscarizada Marlee Matlin e o agora oscarizado Try Kotsur, que rouba o filme cada vez que aparece na tela], mas cujo amor e generosidade estão presentes em cada ato que trocam entre si.

Há algumas sequências maravilhosas, como no momento em que somos engolidos pelo silêncio de uma apresentação musical do ponto de vista dos pais de Ruby e a belíssima declaração de amor da jovem durante sua audição. Mereceu o Oscar de Melhor Filme em 2022? Não é para tanto, mas é um filme que aquece o coração sem fazer esforço.


O PIOR VIZINHO DO MUNDO (2022) | Max

Nota: 🎦🎦🎦½

Refilmagem até que bem fiel do original sueco de 2015, o filme dirigido por Marc Forster ganha pontos muito por conta da ótima atuação de Tom Hanks, um ator admirável capaz de insuflar dignidade a qualquer papel e capaz de gerar empatia mesmo interpretando um sujeito irascível, rabugento, mal-humorado, mas que no fundo tem literalmente um grande coração.

Outro feel good movie clássico, no qual os personagens que circular o protagonista tem sua vida modificada por ele, ao mesmo tempo em que ele aprende preciosas lições sobre o valor da existência e da amizade. Tocando com sensibilidade em temas como o luto, a depressão e o suicídio, O Pior Vizinho do Mundo vai aos poucos desmontando qualquer forma de resistência do espectador, culminando num terceiro ato autenticamente emocionante.

Inserindo aqui e ali pinceladas nada sutis sobre intolerância, preconceito e sobre o capitalismo abusivo, é um filme daqueles de aquecer o coração, com algumas lições importantes sobre a dificuldade de seguir em frente quando nada mais parece fazer sentido.


ARREMESSANDO ALTO (2022) | Netflix

Nota: 🎦🎦🎦🎦

Longe da comédia besteirol que o consagrou, Sandler volta mais uma vez aos papéis dramáticos [em que ele deveria com certeza investir mais] na história de um olheiro da NBA que viaja o mundo em busca de talentos do basquete.

Ao aportar na Espanha, ele conhece Bo Cruz [Juancho Hernangómez, jogador profissional do Utah Jazz], um jovem talento que vive de ganhar apostas contra jogadores menos qualificados. Acreditando que o rapaz é um achado único, ele decide leva-lo para os Estados Unidos para que ele possa participar de testes e se tornar um profissional.

É uma história clássica cuja conclusão você já percebe a distância. E isso não é nenhum problema. A trajetória do underdog [e aqui não estamos falando apenas do jogador] é um arquétipo tradicional do cinema. Mais do que o jovem mostrar seu talento, é o personagem de Sandler que precisa recuperar a sua credibilidade e a sua confiança.

E é justamente na relação entre estas duas figuras que o filme se sustenta. A relação quase de pai para filho que se estabelece aqui é autêntica e, por vezes, emocionante.

Elencando referências que passam por Rocky [claro], Jerry Mcguire e O Homem que Mudou o Jogo, entre outros, Arremessando Alto é uma declaração de amor ao esporte, com um protagonista que sabe quando está oferecendo entretenimento de muita qualidade.


MARTE UM (2022) | Globoplay

Nota: 🎦🎦🎦🎦

É um filme que fala sobre sonhos. É o sonho do pai de família de periferia que imagina ter o filho jogando no time oficial do Cruzeiro e conseguir o sucesso que ele nunca teve. É a filha que sonha em morar sozinha e ter a sua independência onde possa ser quem ela deseja sem necessidade da aprovação dos pais. É o sonho do garoto que deseja ser astrofísico e um dos escolhidos para a missão Marte Um, que deve partir para colonizar o planeta vermelho em pouco mais de 20 anos. E a mãe, cujo desejo é justamente voltar a dormir e finalmente poder sonhar novamente.

O filme de Gabriel Martins opera em dois pilares distintos e complementares. De um lado, temos o sonho real, próximo, de curto prazo: o novo apartamento da filha, a cura de uma crise infindável de ansiedade. De outro, temos o sonho quase ilusório, do privilégio de poucos – no caso do sonho do pequeno Deivinho, de ser um entre bilhões de pessoas.

O roteiro repleto de desafios que são impostos diariamente à família, de certa forma, vai reforçando cada vez mais os laços familiares que nem mesmo estes conflitos conseguem romper. Filmado em meio a um governo que desacreditava minorias e a própria ciência, Marte Um é um triunfo do desejo inerente do ser humano de ir sempre além, de não ficar preso ao que a sociedade lhe diz que deve fazer.


CATARINA, A MENINA CHAMADA PASSARINHA (2022) | Prime

Nota: 🎦🎦🎦🎦

Este é um daqueles acertos raros entre texto, direção e protagonista. Baseado na obra de Karen Cushman, o filme é dirigido por Lena Dunham e protagonizado por essa força da natureza chamada Bella Ramsey [de The Last of Us].

Mais do que um coming of age clássico, o filme funciona como uma crônica bem-humorada de uma fase francamente nefasta para o sexo feminino: em meados do século 13, as mulheres eram tratadas nada além do que mercadorias que eram usadas como moeda de troca em negociações comerciais e pouquíssimos direitos [na prática, nenhum], além de servir a seu pai ou, posteriormente, seu marido.

É nesta realidade que encontramos a alma ligeira e libertária de Lady Catarina que, por meio de seu diário, nos conta suas agruras e suas descobertas, suas primeiras paixões e o preço que paga por se tornar mulher.

É curioso como Lena Dunham consegue insuflar leveza numa trama que por si só é pura opressão: Catarina precisa se casar para que seu pai se livre das dívidas que acumula por uma vida de gastança, ao mesmo tempo que vê seus amigos indo na mesma trajetória de casamentos sem paixão.

O olhar contemporâneo para estes dramas medievais é fundamental para que o espectador se identifique com os desafios de Catarina – algo que é reforçado pela trilha sonora que mescla com inteligência hits modernos a composições típicas do período.

A direção iluminada de Lena Dunham encontra em Bella Ramsey a figura perfeita para sua narrativa toda especial, uma atriz tão absurdamente carismática e ciente de todas as possibilidades que a personagem lhe oferece que é impossível pensar no filme com qualquer outra pessoa.


VOCÊ NÃO TÁ CONVIDADA PRO MEU BAT MITZVÁ! (2023) | Netflix

Nota: 🎦🎦🎦½

E vamos de Adam Sandler de novo. Na prática, não deixa de ser mais um daqueles filmes em que ele atua de pijama, convida um monte de amigos para pontas aleatórias e passa a maior parte do filme sem fazer nada. E com um adendo: colocando toda a família para atuar junto: esposa e as duas filhas!

Mas sabe que apesar de tudo isso, é um filme bem bacana, até porque ele se coloca de lado neste coming of age clássico, desta vez focado na jovem que sonha com o seu Bat Mitzvá, mas que vai fazendo uma série de confusões ao longo do caminho, até brigar com a sua melhor amiga e perceber que há coisas mais importantes do que um crush do colégio.

Sadie Sandler, que poderia ser um ponto crítico do filme, se sai muito bem: um caso raro de nepotismo justificado, já que a garota tem um timing cômico ótimo, além de saber soar como uma adolescente chata e mimada com toda a propriedade. Um filme simpático e divertido, que ainda oferece um ponto de vista cultural bastante interessante sobre o tema.


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