Chegou a hora de mergulharmos na segunda parte da nossa lista dos Melhores Filmes do Ano! Depois de explorar algumas joias do ano passado que só deram as caras por aqui em 2024, agora o foco é exclusivamente nas produções deste ano – e que já estrearam no Brasil. Prepare-se para um cardápio de filmes que fizeram a diferença nas telonas e deixaram sua marca em nossas discussões de cinema.

continua após a publicidade

Lembrando que essa lista é totalmente pessoal. Os melhores para mim podem não ser os mesmos para você — e está tudo bem! O importante aqui é celebrar o que o cinema tem de melhor: a capacidade de nos emocionar, provocar, entreter e, às vezes, até dividir opiniões. Vamos juntos?

>>> Veja aqui o Melhores do Ano parte 1

A probabilidade de termos uma parte 3 é grande, mas vamos com fé que vai dar certo.


continua após a publicidade

AINDA ESTOU AQUI (2024)

É um filme que se define pelo seu próprio título. É sobre Eunice [uma Fernanda Torres imensa] que precisa estar ali ainda para os seus filhos, que sofrem com a ausência do pai que foi levado uma tarde pelas forças da Ditadura e nunca mais retornou.

continua após a publicidade

É sobre Rubens, cuja presença sempre foi tão forte e marcante em sua família que, mesmo ausente, é sentido em cada cômodo daquela casa, em cada peça de roupa, no olhar saudoso dos amigos e parentes.

É sobre um governo autoritário, que muitos ainda parecem querer de volta, que está presente em todos os momentos, um governo de pessoas pequenas que levam escuridão a uma casa que antes respirava luz, que sobrevoa a cidade em helicópteros e tanques, que covardemente não assume sua própria culpa e escancara sua total falta de empatia ao torturar mulheres grávidas e crianças.

São as crianças que ainda estão ali, algumas alheias ao que acontece, outras cientes de uma violência inominável, que precisam se adequar a uma nova realidade na qual seu pai simplesmente desapareceu no ar, uma dor insustentável que jamais poderá ser curada.

É sobre a memória que não vai embora. São as fotos e filmes que continuam ali, um registro colorido de uma época sem cor e sem vida. É sobre olhar cada rosto em cada fotografia e tentar imaginar o que ia na mente de cada uma daquelas pessoas.

É sobre o fim da vida. É aquela mulher idosa, com Alzheimer, cujas lembranças se tornaram um fiapo, mas que ainda está ali, seu olhar desafiando o espectador a olhar para a sua própria realidade e compreender, mais do nunca, que não podemos voltar a essa barbárie, que devemos ter a força de uma Eunice que, em seu momento de dor imensa, apenas diz: sorriam!

DUNA: PARTE 2 (2024)

Se o primeiro Duna era mais uma introdução cuidadosa e fascinante a esse universo, Duna 2 é onde as engrenagens começam a girar de verdade. Denis Villeneuve não apenas expande o épico de Frank Herbert, mas também mergulha mais fundo nas questões político-religiosas que sustentam essa história. Entre alianças traiçoeiras e a manipulação de crenças, o filme explora tanto o fervor da fé quanto a dúvida corrosiva dos incrédulos, criando um equilíbrio intrigante entre a espiritualidade e o pragmatismo.

Visualmente, Villeneuve continua um mestre em evocar mundos que parecem ao mesmo tempo fantásticos e incrivelmente reais. Dos desertos arrebatadores de Arrakis às intricadas paisagens de outros planetas, cada ambiente parece palpável, como se pudéssemos caminhar por aquelas dunas ou sentir a opressão de um mundo sem cores.

Desde o rugido de um verme da areia até as batalhas intensas, cada detalhe é meticulosamente pensado para prender nossos sentidos. Duna 2 não é só um filme para ser assistido, mas para ser sentido — um espetáculo que entrega uma experiência cinematográfica como poucas vezes vimos no cinema moderno.

LONGLEGS (2024)

Osgood Perkins, herdeiro do legado de Anthony Perkins, o nosso eterno Norman Bates de Psicose, demonstra em Longlegs: Vínculo Mortal, que amadureceu como diretor, exibindo um domínio magistral do suspense e do terror psicológico, com uma trama tão familiar quanto desconcertante.

Com referências claras a clássicos como O Silêncio dos Inocentes – do qual replica diversas sequências e posicionamentos de câmera -, Se7en Zodíaco, Perkins tece uma narrativa sobre uma agente do FBI, interpretada por Maika Monroe [de A Corrente do Mal, perfeita em sua melancolia e solidão], em busca de um serial killer conhecido apenas como Longlegs, nome com o qual assina cartas repletas de símbolos sinistros encontradas junto ao cenário de crimes que vem acontecendo há pelo menos 30 anos.

Talvez até não seja o filme mais aterrorizante do ano, mas Longlegs, a partir de um patamar psicológico único, explora temas como o mal, a obsessão e a insanidade de forma visceral e perturbadora, deixando no espectador não o terror como marca principal, mas a desoladora tristeza de não termos como escapar do mal que nos persegue.

A SUBSTÂNCIA (2024)

A Substância é uma obra corajosa que transcende o gênero do horror (e não é exagero, neste caso), funcionando como um espelho distorcido da sociedade moderna. Fargeat não apenas oferece uma experiência cinematográfica inquietante, mas também provoca uma reflexão profunda sobre os padrões que impomos a nós mesmos e aos outros.

É um grito de resistência contra a objetificação e o etarismo, questionando até que ponto estamos dispostos a ir em nome da aceitação e da beleza. O verdadeiro horror, nesse contexto, não é a transformação física de suas protagonistas, mas a maneira como as mulheres são tratadas e avaliadas em um mundo que ignora a complexidade do ser humano e foca apenas na plasticidade.

E o plástico, como sabemos, pode ser deformado das formas mais terríveis. 

ROBÔ SELVAGEM (2024)

Uma das animações mais lindas do ano, Robô Selvagem mescla um tanto de E.T com Procurando Nemo com Gigante de Ferro, ainda assim soando absolutamente original. O filme lida com temas como a solidão, a maternidade, a solidariedade, a superação e sabe-se lá quanto mais temas de forma completamente orgânica, sem jamais soar panfletário ou forçado.

Um filme capaz de emocionar até o mais duro dos corações. Lindeza!

SORRIA 2 (2024)

Gosto muito do primeiro e esse aqui não decepciona, sendo quase tão bom – senão melhor – que o original. O filme aqui continua exatos 6 dias depois da conclusão do primeiro, com a maldição do sorriso sendo passada para um amigo da superstar interpretada com gana por Naomi Scott.

Quando ela se torna a próxima vítima, sua vida entra em completo parafuso por conta do terror que ela passa a presenciar diretamente em alucinações cada vez mais reais. Com uma câmera nervosa e uma calma competente em desenvolver sua história, o diretor Parker Finn capricha no clima de inquietação e em sequências de pavor impressionantes.

O fato de que quase nada que é vivenciado pela protagonista seja real incomoda um pouco – ainda que, de certo modo, seja justamente isso que torna o filme tão angustiante. Mas tudo isso é compensado por uma conclusão contundente e perturbadora – e como é bom ver um diretor que não tem medo de ir contra os finais felizes aos quais James Wan acostumou toda uma geração.

WICKED (2024)

Ô coisa linda. Mesmo quem não gosta de musicais deveria ver esta belezura. O diretor John M. Chu adapta o musical da Broadway da forma mais exuberante possível, em um espetáculo visual como poucos. Wicked abraça os cânones do musical com gosto e uma ambição narrativa mais do que bem-vinda, graças, também aos trabalhos excepcionais de suas protagonistas.

Se, por um lado, Cynthia Erivo cria uma Elphaba – uma jovem de cor verde que passou sua vida sofrendo preconceito e bullying – repleta de sutilezas dramáticas em sua jornada em busca de autoconhecimento, Ariana Grande faz o contraponto perfeito ao encarnar Glinda com um timing cômico impecável, uma estudante popular que aos poucos compreende que não é, necessariamente, o centro do universo.

Com um terceiro ato que culmina em um dos momentos mais empolgantes da telona esse ano, Wicked fecha este arco do primeiro episódio de forma extremamente competente, e deixa aquele gostinho de quero mais para sua continuação em 2025. 

ALIEN: ROMULUS (2024)

Situado entre os eventos de Alien (1979) e Aliens (1986), este novo capítulo, dirigido pelo uruguaio Fede Álvarez, talvez não traga grandes inovações. Na verdade, funciona mais como um checklist dos momentos icônicos da saga ao longo dos últimos 45 anos. Mas, quer saber? É o tal do básico bem feito. No caso, aqui, muito bem feito.

O respeito à saga original está desde o visual antiquado dos equipamentos eletrônicos (ao invés das telas de LCD e controles deslizantes de Prometheus, temos aqui a velha tela preta com caracteres verdes e botões espalhados por todo o cenário) como ao uso inteligente tanto de efeitos sonoros e lembranças da trilha de Jerry Goldsmith.

O terceiro ato se conecta diretamente tanto com Prometheus (2012) quanto com Alien: A Ressurreição (1997), mas de forma bem mais eficiente que o clímax dos dois. No fim, temos uma conclusão clássica com direito a contagem regressiva e sirenes, do jeito que esperamos de um filme da franquia, com portas abertas para uma possível continuação.

DIVERTIDAMENTE 2 (2024)

Bem melhor resolvido que o primeiro, esta continuação é uma das leituras mais sensíveis sobre o crescimento e sobre a forma como somos dominados por nossas emoções.

Com novos e carismáticos personagens, acompanhamos mais uma vez a jovem Riley em sua jornada em busca de sua identidade – assim como as pequenas emoções buscam validar sua própria existência, atrás de um equilíbrio muitas vezes difícil de alcançar.

A conclusão é daquelas que vai arrancar lágrimas até dos mais durões. Pixar voltando a fazer o que faz melhor.

SUPER/MAN: A HISTÓRIA DE CHRISTOPHER REEVE (2024)

Lindo documentário que conta a história do melhor intérprete do Superman, focando-se nos anos posteriores ao acidente que o deixou paraplégico.

Ainda que ele quase derrape na seara da hagiografia, é uma obra tocante que não tem medo de ir fundo nas incertezas e nos medos de seu protagonista, mostrando sua luta pelas pesquisas relativas ao tema e a importância da fundação que criou com sua esposa.

Com depoimentos de familiares e amigos, o filme deixa meio que um soluço na garganta por conta da ausência de três pessoas bem específicas ali.


É isso aí, por enquanto estes são os melhores do ano, mas ainda temos um mês pela frente. Quem sabe o que pode aparecer. Fiquem de olho e comentem o que acharam dessa lista.

E fiquem de olho, semana que vem teremos a famigerada lista dos Piores do Ano, mas sempre com muito respeito.

Até a próxima.