Osgood Perkins, herdeiro do legado de Anthony Perkins, o nosso eterno Norman Bates de Psicose, demonstra em Longlegs: Vínculo Mortal, que amadureceu como diretor, exibindo um domínio magistral do suspense e do terror psicológico, com uma trama tão familiar quanto desconcertante.

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Com referências claras a clássicos como O Silêncio dos Inocentes – do qual replica diversas sequências e posicionamentos de câmera -, Se7en e Zodíaco, Perkins tece uma narrativa sobre uma agente do FBI, interpretada por Maika Monroe [de A Corrente do Mal, perfeita em sua melancolia e solidão], em busca de um serial killer conhecido apenas como Longlegs, nome com o qual assina cartas repletas de símbolos sinistros encontradas junto ao cenário de crimes que vem acontecendo há pelo menos 30 anos.

Longlegs é um exemplar do que se convencionou chamar de slow burn, construindo a tensão gradualmente e provocando um incômodo constante no espectador. A fotografia opressora de tons gelados, os ambientes claustrofóbicos e a sensação de isolamento e inadequação social da protagonista criam uma atmosfera de pesadelo que perdura por todo o filme. O uso inteligente de grandes angulares e as eventuais mudanças de aspecto na imagem do filme reforçam essa sensação desconfortável.

Perkins vai além do simples medo, adentrando em um território mais sombrio, onde a presença do mal é tangível e perturbadora. O espectador mais atento vai perceber diversas imagens subliminares de criaturas demoníacas que aparecem aqui e ali – da mesma forma, o filme escapa da muleta básica do jump scare, focando muito mais no choque em sequências que deixam marcas duradouras na mente do espectador, principalmente por conta da mudança gradual do suspense policial para uma trama de tons sobrenaturais, aproximando-se do filme de seitas satanistas comuns nos anos 1970.

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A participação de Nicolas Cage, com pouco mais de 10 minutos em cena, é um dos grandes destaques do filme. O ator entrega uma performance memorável, criando um personagem que chama a atenção não apenas por seu visual exótico, mas pela forma como ele se comunica e se aproxima das pessoas, um misto de infantilidade, sedução e o mais puro mal.

Longlegs exige a atenção total do espectador. Cada detalhe, cada diálogo e cada imagem são importantes para a compreensão da trama complexa e repleta de nuances. O diretor não oferece respostas fáceis, deixando diversas pontas soltas para que o público interprete e reflita sobre o significado da história – neste ponto, incomoda um pouco o terceiro ato do filme, que nos obriga a relevarmos alguns furos absolutamente desnecessários, que ferem um pouco o pacto de confiança que estabelecemos com o diretor.

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Talvez até não seja o filme mais aterrorizante do ano, mas Longlegs, a partir de um patamar psicológico único, explora temas como o mal, a obsessão e a insanidade de forma visceral e perturbadora, deixando no espectador não o terror como marca principal, mas a desoladora tristeza de não termos como escapar do mal que nos persegue.


  • Título: Longlegs – Vínculo Mortal
  • Diretor: Osgood Perkins
  • Gênero: Terror Psicológico
  • Duração: 1h41
  • Elenco: Maika Monroe, Nicolas Cage