A Netflix chega esta semana com uma versão especial de Godzilla Minus One, desta vez em preto e branco. Esta escolha estética, que remete ao clássico cinema de monstros, confere uma nova profundidade e atmosfera ao filme, destacando nuances e detalhes que só a fotografia monocromática pode trazer. O uso do preto e branco tem sido uma tendência interessante no cinema recente, proporcionando uma perspectiva única e atemporal para histórias contemporâneas, como Mad Max: Estrada da Fúria, Parasita e Logan, entre outros.

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Godzilla Minus One, seja na versão em cores ou preto e branco, é um dos grandes [para não dizer enormes] filmes do ano. Para os curiosos e fãs do mais querido monstro do cinema, preparamos um texto detalhado sobre o filme. Não perca a oportunidade de ver ou rever essa obra-prima sob uma nova luz!


GODZILLA MINUS ONE (2023)
NOTA: 👍👍👍👍👍

Assisti a muitos filmes de monstros gigantes ao longo de minha vida cinéfila, mas foi em Godzilla Minus One que, pela primeira vez, senti verdadeiro medo e insegurança diante das ações incontroláveis da criatura. Diferente das versões americanas recentes, onde nosso querido Kaiju é retratado como uma criatura musculosa incompreendida ou em busca de sobrevivência, Godzilla Minus One recupera a essência do que Gojira representava nos anos 1950: uma força da natureza com efeitos apocalípticos, uma clara metáfora para a violência atômica e suas consequências, refletindo o trauma que o Japão sofreu no fim da Segunda Guerra Mundial.

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Diferente do também excepcional Shin Godzilla (2016), que usa da sátira política para criticar a ineficiência estatal, este filme se aprofunda em um drama humano mais comovente, centrado em Koichi Shikishima (Ryunosuke Kamiki), um ex-soldado kamikaze que falhou em sua missão e acredita que suas ações contribuíram para o surgimento do monstro.

Ao voltar para casa, Koichi descobre que sua família foi vítima dos bombardeios em Tóquio. Ele se junta de maneira inesperada a jovem Noriko (Minami Hamabe) e à pequena Akiko, ambas também sobreviventes tentando encontrar um novo começo. A relação entre eles forma o núcleo emocional do filme.

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O filme carrega uma melancolia palpável, explorando temas como luto, culpa, frustração e a resiliência de um povo devastado por um governo irresponsável e por uma resposta ainda mais punitiva em escala sem precedentes por parte de seus adversários.

As ações de Godzilla são não apenas visualmente impactantes, mas ecoam com uma força simbólica que remete ao massacre de Hiroshima e Nagasaki. Godzilla aqui é uma força de destruição impressionante, um tsunami em forma de dinossauro gigante, movido por uma fome inata de devastação, refletindo a destrutividade humana em seu próprio planeta.

Ainda assim, é um filme que segue em busca de redenção. Tanto da população, que ao perceber o descaso do governo, decide agir por conta própria contra a ameaça, quanto do jovem Koichi, que vê na situação uma chance de se redimir dos seus traumas de guerra.

Godzilla Minus One é possivelmente o melhor filme já feito sobre a criatura. E por mais que eu aprecie o monsterverse americano e sua porraloquice calculada, este filme combina de forma quase genial a linguagem do blockbuster ocidental com o puro drama oriental, criando um apelo universal. É exagerado, e a sutileza é normalmente deixada de lado, mas é absolutamente apaixonante.

E terrivelmente aterrorizante. Seja em cores ou no clássico preto e branco.


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