No clima de Halloween, nada melhor do que uma maratona de filmes clássicos para trazer aquele suspense e tensão perfeitos para a data. Depois do sucesso da primeira parte do nosso especial, vamos continuar com mais cinco títulos icônicos que merecem um lugar na sua lista.

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Dessa vez, selecionamos obras que são verdadeiros marcos do terror, desde a criação de atmosferas sombrias até histórias que se tornaram referência no gênero. Se você gosta de narrativas envolventes e personagens que deixam uma marca duradoura, prepare-se para mais uma rodada de arrepios.

+ Especial Halloween 1: cinco clássicos do terror para conferir na telinha

Os filmes que escolhemos são perfeitos para quem quer sentir o frio na espinha no conforto de casa. De monstros inesquecíveis a tramas psicológicas que mexem com nossos piores medos, esses clássicos provam que o horror tem muitas facetas.

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Seja você fã de um terror mais atmosférico ou de sustos diretos, esses títulos são um prato cheio para qualquer entusiasta do gênero. Então, apague as luzes, pegue a pipoca e embarque com a gente em mais essa seleção especial.

Só pra avisar: temos spoilers em quase todos os textos!

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ABISMO DO MEDO (2005) | Prime Video

Mais um da série filmes perfeitos de terror do século 21, Abismo do Medo traz o diretor Neil Marshall em sua melhor forma na trama de 6 amigas que decidem explorar uma caverna desconhecida.

A tensão se inicia na relação entre as amigas, já que o passeio serve para que uma delas consiga lidar com o luto pela morte da filha e do marido. A medida que as coisas escalam e elas se percebem presas num labirinto sem fim, o filme vai assumindo cada vez mais o seu caráter de exercício claustrofóbico de tensão e nervosismo.

Marshall cria uma sensação quase insustentável quando resolve, para piorar, trazer para a equação algumas criaturas monstruosas que se alimentam de carne humana. O que temos a partir daí é uma carnificina memorável, com as amigas levadas a extremos de violência e sacrifícios.

Vale lembrar aqui que Abismo do Medo tem provavelmente o melhor jump scare do século, um momento antológico em que as criaturas se revelam em meio a uma tensa filmagem.

Com ajustes de contas catárticos e um final tão surpreendente quanto melancólico, Abismo do Medo é daqueles pequenos milagres que de vez em quando aparecem no gênero.


POLTERGEIST (1982) | MAX

Ainda que tenha o nome de Tobe Hooper na direção, sempre ficou mais do que claro que todas as escolhas criativas de Poltergeist tem a assinatura de Steven Spielberg, responsável não apenas pela produção executiva como pelo roteiro, descrito por ele na época como uma tentativa de exorcizar seus medos da infância.

Ainda que prevaleça a exuberância visual [algo que os indonésios vêm trazendo em seus filmes mais recentes], é curioso perceber como Hooper e Spielberg estruturam o filme de modo que o espectador estabeleça uma empatia imediata com a família Freeling – ao mesmo tempo em que vai, aos poucos, instalando o clima de estranheza, seja pelas nuvens escuras no céu, a morte do passarinho ou copos quebrados na cozinha. Quando o pânico se instala, já estamos rendidos a essa proposta.

Contribuem enormemente para o clima de sustos e tensão do filme a excelente trilha sonora de Jerry Goldsmith, com seus metais e coros fantasmagóricos, em um de seus maiores trabalhos. O design de som também merece destaque, com vozes e efeitos sonoros colocados de forma subliminar para acentuar o caráter sobrenatural da trama.

E mesmo que alguns efeitos tenham envelhecido, Poltergeist ainda hoje se notabiliza por ter estabelecido elementos visuais e narrativos utilizados não apenas pelos novos filmes do gênero (é possível ver ecos do filme em O Orfanato, Atividades Paranormal, Sobrenatural, Invocação do Mal entre outros) como absorvidos pela cultura pop em geral, como a insistência de Carol Anne em ir para a luz.

Infelizmente, o destino dos atores não foi tão feliz como na telona. A atriz Dominique Dunne, que fazia a irmã mais velha, foi assassinada pelo namorado antes da estreia do filme. Heather O´Rourke, que ainda faria duas continuações dispensáveis do filme, faleceu aos 12 anos, em 1988. O ator Julian Beck, que fazia o reverendo Kane em Poltergeist II, morreu durante as filmagens. Coincidências trágicas que ajudaram na criação da maldição de Poltergeist. Lendas urbanas que, felizmente, não impedem a apreciação deste grande filme.


CORRA (2017) | GloboPlay

Uma das maiores surpresas e um dos filmes mais significativos dos últimos anos, Corra! chegou como um terror descompromissado de um diretor iniciante que fez toda sua carreira criando sketches humorísticos politicamente incorretos.

Não é por acaso, portanto, que por trás do verniz de ‘filme de terror’ resida uma ironia e um humor tão afiados, capazes de acertar direto em um dos temais mais caros à cultura e à sociedade negra americana.

Ainda que, para alguns, a trama de Corra possa soar um tanto óbvia e seus desdobramentos não sejam necessariamente surpreendentes, o que o faz um filme tão absolutamente marcante é justamente o que está por trás do tal verniz que falamos antes.

O roteiro do filme [escrito por Jordan Peele e vencedor do Oscar] é de uma sutileza e de uma inteligência raras não apenas no gênero mas no cinemão mainstream, criando uma experiência como poucas, um filme que fala ao público ávido por entretenimento de qualidade e estabelecendo uma crítica social contundente e atualíssima sem soar panfletário por sequer meio segundo.


CARRIE, A ESTRANHA (1976) | Prime Video

Carrie é uma personagem absurdamente trágica.

Desde a sublime cena inicial no banho, que marca a passagem da menina para a mulher, o olhar quase sempre cruel de Brian de Palma conta sua trajetória por meio de um apanhado de repressão sexual, culpa e fanatismo religioso, mesclado evidentemente com o toque fantástico de Stephen King.

Na prática, Carrie é recheado de personagens desprezíveis, desde o professor de literatura que zomba da garota, passando pelo diretor que sequer se importa em saber seu verdadeiro nome e chegando na jovem psicopata interpretada por Nancy Allen. Nem mesmo quem mostra um mínimo de empatia por Carrie passa na avaliação: a professora feita por Betty Buckley chega a questionar se ‘Tommy não ficaria ridículo chegando no baile ao lado de Carrie’. Da mesma forma, a jovem Sue [Amy Irving] não está preocupada com Carrie, mas apenas em reduzir o peso de sua consciência.

Talvez o único personagem autêntico em sua relação com Carrie seja Tommy Ross [William Katt], que efetivamente se fascina ao descobrir a pessoa doce que é Carrie, enxergando-a como ela realmente é.

De Palma recheia o filme com simbolismos religiosos [o santo sacrificado que fica no armário é um achado] e sexuais [Margareth White começar a decepar uma cenoura é um momento maravilhoso] que encontram seu ápice no evidente êxtase na hora da morte da mãe de Carrie – algo que talvez o próprio King não tenha estabelecido em sua obra.

De Palma tem em Carrie um de seus trabalhos mais emblemáticos, um retrato ácido e implacável das dificuldades da adolescência e das consequências da repressão moral e sexual.

E que, de quebra, ainda tem um susto final antológico, que deixa a triste figura de Carrie marcada para sempre em nossa memória.


PSICOSE (1960) | Prime Video e Telecine

Psicose já se mostra uma experiência inovadora logo em seus créditos iniciais, ao som da nervosa e pulsante trilha sonora de Bernard Herman, como que já mostrando que você não terá momentos de tranquilidade ao longo do filme.

A trajetória de Marion Crane [Janet Leigh] é pautada por um sentimento constante de frustração e arrependimento, de culpa e pecado. Não é por acaso que ao decidir fugir com os 40 mil dólares ela veste uma lingerie de tons escuros e é observada atentamente pelo retrato de seus pais na parede. É o impulso que a leva a viajar pelo país atrás de seu amante Samuel Loomis [John Gavin].

É o cansaço de um peso tão grande nas costas que a leva até o Bates Motel, onde encontra o jovem Norman Bates, que vive com sua mãe inválida num motel vagabundo de beira de estrada. Especializado em empalhar animais e socialmente inadequado, Norman, assim como Marion, é um ser ressentido, frustrado e com culpa. Talvez seja justamente por se ‘enxergar’ em Norman Bates que ela decide voltar para sua cidade e devolver o dinheiro. A lingerie de tons claros denota a mudança em seu interior. O banho, liberador, a prepara para um novo momento na vida.

Pena que tem tudo é tão perfeito. Marion é assassinada de forma cruel por uma mulher misteriosa que descobrimos depois ser a própria mãe de Norman Bates – provavelmente num daqueles dias em que ela estava ‘fora de si’.

O mistério sobre a mulher misteriosa carrega boa parte da segunda metade do filme, na qual surge o investigador Arbogast [Martin Balsam], responsável por [mais] uma das sequências mais aterradoras da carreira do diretor.

A sequência final é de uma morbidade e bizarrice magníficas: totalmente tomado pela personalidade da mãe, Bates é agora uma velhinha que não irá mexer um músculo, ou sequer matar uma mosca – preso eternamente na ilusão que criou para aplacar sua dor . A fusão dos rostos de Norman e Norma é o toque de mestre para coroar essa obra-prima.


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