E o vento levou: furacões continuam à solta no novo Twisters

E não é que a continuação tardia de Twister é um belo filme?

Quase 30 anos depois da estreia da obra de 1996, dirigida por Jan de Bont e estrelado por Helen Hunt e nosso saudoso Bill Paxton, temos aqui mais um filme sobre caçadores de furacões que não faz feio ao original.

Pelo contrário, é uma adição muito bem-vinda a esta agora franquia e que tem tudo para abrir espaços para novas sequências. Seguindo o conceito do básico bem-feito, Twisters conta basicamente a mesma história do anterior: vários caçadores de furacões que decidem ir até o estado de Oklahoma para buscar não apenas filmagens ou registros espetaculares do fenômeno, mas também conseguir um pouco de fama, sucesso e, em alguns casos, tentar faturar algum em meio a tragédia que atinge a população.

A protagonista Kate, interpretada com gana por Daisy Edgar-Jones, é a tradicional personagem idealista que sofreu uma tragédia durante uma dessas caçadas, na expectativa de descobrir uma fórmula para eliminar os tornados. Anos depois deste trauma, ela se junta a uma bem suspeita equipe do exército que, vamos descobrir depois, tem intenções não muito nobres em relação ao caos trazido pelos furacões.

É neste momento que ela conhece o youtuber Tyler Owens, interpretado por Glen Powell, em seu terceiro sucesso após Todos Menos Você e Hitman. Como é de se esperar, os dois inicialmente se estranham, se bicam, tentam sacanear um com o outro, mas depois percebem que têm bastante coisa em comum. Graças à futura sogra!

Tecnicamente, o filme é um assombro. As sequências de furacões e tornados causando destruições insanas estão entre as melhores já vistas no cinema, por conta de um trabalho esmerado principalmente de edição de som. Nem mesmo a seletividade típica desses filmes, na qual os furacões só levam embora determinadas pessoas conforme as necessidades do roteiro, incomoda. A edição em si poderia ser um pouco menos taquicardíaca, mas fica evidente o cuidado em equilibrar tanto o lado espetáculo – que é o que o público efetivamente busca – com uma boa (ainda que básica) história e bons personagens.

Até porque todos sabem que filmes de catástrofe, seja O Dia Depois de Amanhã ou Independence Day, só funcionam se conseguimos nos importar com os personagens – e nisso Lee Isaac Chung, diretor de Minari (uma escolha das mais peculiares para o filme), faz um trabalho bem competente, seja no histórico dos protagonistas que buscam uma redenção para seus medos e dúvidas, como na apresentação das equipes, repletas de personagens tão cativantes como no primeiro filme – reparem em David Corensweth, o novo Superman, fazendo basicamente o cosplay de Henry Cavill em Missão Impossível – Efeito Fallout.

Mesmo sem experiência em filmes de ação, o diretor Chung mostra um controle impressionante na gestão do elenco real com os efeitos digitais. Com um ritmo impecável, suas duas horas passam de forma absolutamente fluida, construindo com eficiência a catarse final – um mambo jambo científico que, acreditem, parece baseado em experimentos verdadeiros.

Ao mesmo tempo, a forma como ele apresenta o dom da protagonista, capaz de ler os movimentos do vento e suas mudanças, é algo perfeitamente orgânico e que discute com bastante coerência tanto os aspectos científicos dos tornados como sua essência quase religiosa enquanto fenômeno da natureza.

O filme dá diversas piscadelas para os fãs do original – ainda que não tenhamos dessa vez nenhuma vaquinha voando – mas sem depender delas para que o encanto funcione. Sem buscar reinventar a roda, e trabalhando com simpatia os clichês básicos tanto do gênero catástrofe como do cinema romântico, Twisters está preocupado apenas em contar a sua história de forma a fascinar e assustar o espectador – curiosamente, o filme passa completamente batido sobre temas como mudanças climáticas, preferindo colocar sua crítica social em cima de especulação imobiliária mesmo. Vai entender…

Em resumo, Twisters é uma obra que consegue manter a essência do original enquanto atualiza os efeitos e a narrativa para uma nova geração, trabalhando com a questão nostalgia como trampolim para bons momentos, e não como âncora para sustentar algo sem peso. Para os fãs do gênero e do filme de 1996, é quase imperdível, mesmo sem uma mísera aparição da Helen Hunt.

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Twisters (2024)
Nota: 🎦🎦🎦½
Direção: Lee Isaac Chung
Elenco: Glen Powell, Daisy Edgar-Jones, Anthony Ramos
Gênero: Ação, Drama
Duração: 122 minutos
Classificação: Livre

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