Dez comédias despirocadas (e algumas românticas) para você curtir no streaming

HUNT FOR THE WILDERPEOPLE, from left: Julian Dennison, Sam Neill, 2016. ©Madman Entertainment

A INCRÍVEL AVENTURA DE RICK BAKER (2016) | Netflix

Nota: 🎦🎦🎦🎦🎦

Quem me conhece sabe que sou um admirador inveterado do humor de Taika Waititi [mesmo com suas derrapadas recentes] e que esse filme aqui tem um lugar especial no coração.

A Incrível Aventura de Rick Baker é daqueles filmes que vão te conquistando aos poucos. A trama em si é bem básica: Rick Baker [o jovem Julian Dennison, impagável em suas caras e bocas] é um órfão-problema adotado por uma família exótica da Nova Zelândia, a tia Bella e o tio Hector [Sam Neill, absolutamente perfeito]. Após uma tragédia, Rick acaba fugindo de sua casa na companhia [inesperada] do Tio Hector.

Waititi usa e abusa do seu humor nonsense, com inspiração clara na comédia do grupo inglês Monty Python [o homem-arbusto é puro Michal Palin], diálogos impagáveis, personagens carismáticos e sequências que nasceram para ser meme [o momento em que a tia mata o javali é absurdamente clássico].

Mais do que a comédia rasgada, porém, o filme se destaca pela sensibilidade na relação entrre Tio Hector e Rick Baker: almas solitárias a princípio completamente desconfiados um do outro e que, aos poucos, vão se tornando uma dupla inseparável e imbatível, lutando contra aqueles que os perseguem, desde a assistente social mais psicopata do cinema como toda a polícia da Nova Zelândia.

O clímax que mistura Thelma e Louise com Coração Valente é de uma ironia ímpar, e o epilogo desta história dividida em capítulos é de aquecer o coração. Enfim, um filme divertido, leve, com uma das melhores duplas de protagonistas dos últimos anos e que apenas confirma a habilidade de Taika Waititi em mesclar o humor mais zoado e politicamente incorreto com uma narrativa criativa, inteligente e repleta de surpresas.


BELAS E RECATADAS (2023) – Telecine

Nota: 🎦🎦🎦🎦

Esta produção inglesa dirigida por Nida Manzoor é uma surpresa das mais satisfatórias. Uma mescla bem azeitada de drama familiar, comédia teenager, um toque de sci-fi e uma boa dose de artes marciais, Polite Society [título original] é uma obra de um frescor e energia evidentes, discutindo ainda com toda a propriedade temas como o tradicionalismo e o patriarcado secular, assim como o papel da mulher na sociedade contemporânea.

A trama conta a história da jovem anglo-paquistanesa Ria [Priya Kansara, uma força da natureza impressionante], uma estudante cujo sonho é se tornar dublê de filmes de ação. Enquanto isso, sua irmã mais velha, Lena [Ritu Arya], abandona a faculdade de artes e volta a morar com os pais, até se apaixonar pelo charmoso médico Salim.

Ria é contra o relacionamento, pois acha que a irmã deve retornar a seus estudos ao invés de se casar, além de desconfiar que Salim talvez não seja muito confiável.

Mais do que uma história bem contada e bem-humorada, o que fica de Polite Society é a amizade e o amor das duas irmãs [conta aqui ainda a química ótima entre as atrizes], que consegue elevar o filme com um peso dramático inesperado e genuíno.

Uma clássica jornada de autoconhecimento repleta de cores e realizado com total competência.


QUIZ LADY (2023) | Disney+

Nota: 🎦🎦🎦½

Comédia descompromissada e divertida que se sustenta, evidentemente, no carisma e no talento e no entrosamento de suas protagonistas. Enquanto Awkwafina capricha cada vez mais em personagens com traços peculiares em sua personalidade, a surpresa fica mesmo por Sandra Oh, caindo com gosto na comédia física mais descarada.

Quase um road movie fraternal, o filme não foge muito do básico, mas tem algumas sequências bem hilárias e as pontas de Will Ferrel e Jason Schwartzman não desapontam, com um olhar tão crítico quanto carinhoso sobre o universo do entretenimento televisivo.


RICKY STANICKY (2024) | Prime

Nota: 🎦🎦🎦½

Desde crianças, um grupo de amigos colocava a culpa de qualquer confusão que eles aprontavam em seu amigo [inexistente] Ricky Stanicky. Adultos, Stanicky continua sendo a desculpa perfeita para qualquer escapada dessa turma.

O que temos aqui é mais um daqueles filmes de quarentões infantilizados que parecem saídos de alguma comédia do Adam Sandler. A sacada que dá origem ao filme é que todos em volta dessa turma desejam conhecer o verdadeiro Stanicky. Para isso, eles contratam o ator decadente vivido por John Cena, que assume de forma tão profunda o papel que passa a achar que ele realmente é Ricky Stanicky.

Besteirol clássico, o filme se sustenta pelo imenso carisma e timing cômico de John Cena, capaz de passar incólume até pelos momentos mais moralistas da trama.


ACAMPAMENTO DE TEATRO (2023) | Disney+

Nota: 🎦🎦🎦½

O filme narra a história de um grupo de profissionais que trabalham em um acampamento de férias destinado a crianças que querem desenvolver seus talentos artísticos, especialmente no teatro. Após a fundadora do local entrar em coma, todos decidem montar um musical em sua homenagem.

O filme é uma comédia em formato mockumentary, similar em estética e conceito ao de The Office. No entanto, assim como a clássica série de televisão, a apreciação do filme depende muito da aceitação do espectador à proposta apresentada. Uma ótima opção para quem aprecia humor baseado em constrangimentos constantes.


TODOS MENOS VOCÊ (2023) | Max

Nota: 🎦🎦🎦½

O filme conta a história de duas pessoas bem feias e sem graça [Sidney Sweeney e Glenn Powell], que passam a noite juntos, se desentendem e que, tempos depois, descobrem que precisam passar o fim de semana na Austrália [o dó] no casamento de conhecidas em comum.

Apesar dos clichês evidentes, é bacana ver uma comédia romântica clássica que não tem vergonha de ser o que é – ainda que faça questão de demonstrar isso o tempo todo.

No fim, o saldo é até bastante positivo, muito por conta da química entre o casal, o star power de Glenn Powell e do ótimo timing de Sweeney para a comédia.


NÃO OLHE PARA CIMA (2021) | Netflix

Nota: 🎦🎦🎦½

Longe da sofisticação de filmes como A Grande Aposta ou Vice, o que temos aqui é um retorno de Adam Mckay à comédia desenfreada e porraloca que conhecemos de O Âncora ou A Balada de Ricky Bobby, com a evidente diferença agora de um elenco vencedor de aproximadamente 75 prêmios do Oscar, ou algo parecido.

A trama, completamente fictícia, é a seguinte: cientistas descobrem que uma tragédia vai atingir a humanidade em poucos meses [imagine algo como uma pandemia, por exemplo]. A presidente de um dos países mais populosos do mundo faz pouco caso da notícia, preferindo ouvir pessoas que não tem nada a ver com o assunto, como o filho 01.

No ápice da crise, em meio a escândalos de corrupção, a presidente faz uma série de eventos nos quais tenta desacreditar a ciência e a imprensa.

Por conta disso, boa parte da população, mesmo com as evidências na frente da sua cara, preferem achar que tudo faz parte de uma campanha para difamar a governante, e só percebem o tamanho do estrago quando ele bate a sua porta.

Ainda bem que é só um filme.


RYE LANE – UM AMOR INESPERADO (2023) | Disney+

Nota: 🎦🎦🎦🎦

Rye Lane é uma comédia romântica que transmite uma autenticidade e uma energia tão contagiante que é impossível não se envolver com a história de Dom e Yaz, dois jovens que acabaram de sair de relacionamentos conturbados e se descobrem enquanto enfrentam aquele sentimento de tristeza familiar.

A diretora Raine Allen Miller habilmente se inspira em fontes como Woody Allen e Richard Linklater, criando diálogos espirituosos que capturam perfeitamente o momento atual da sociedade. Grande parte desse frescor é proporcionada pelo casal de protagonistas David Johnson e Vivian Oparah, que possuem uma sintonia e uma química irresistíveis.

Embora as suas trajetórias de vida possam não ser as mais interessantes – ele é um contador, ela é uma profissional da moda frustrada – eles se tornam personagens únicos justamente pelo que constroem naquela noite tão especial. Coisa linda, de verdade!


UMA SEGUNDA CHANCE PARA AMAR (2019) | Prime

Nota: 🎦🎦🎦

Last Christmas [título original] é uma comédia romântica simpática e bonitinha, com uma ótima protagonista e um excelente elenco de apoio.

O roteiro de Emma Thompson, que também faz a mãe da personagem de Emilia Clarke – mistura bem as questões pessoais e emocionais com pitadas de um humor vagamente incorreto.

A trajetória de ‘renascimento’ da protagonista tem momentos de redenção bem bacanas e as usuais reconciliações esperadas do gênero. E ainda tem, como parte de sua trilha musical, canções de George Michael embalando os momentos mais fofinhos.

A direção de Paul Feig é competente. Mas, como estamos falando de Paul Feig, o mínimo que se esperaria era algo bem mais cínico e afiado, mas o que temos é um filme convencional e por vezes bem conservador em alguns de seus conceitos.

No geral, um filme família divertido e bonitinho, no melhor sentido da palavra. E, mesmo linkado aqui embaixo, evite ver o trailer, porque ele meio que entrega a grande surpresa do filme.


CLUBE DA LUTA PARA MENINAS (2023) | Prime

A  mais recente obra da diretora Emma Seligman [de Shiva Baby], com roteiro dela e da protagonista Rachel Sennot, é mais um daqueles que eu chamo de puro suco dos anos 1980: duas amigas resolvem montar um clube de autodefesa somente para meninas, com o objetivo secreto de se aproximar de duas garotas pelas quais se sentem atraídas.

É um filme de alma feminina que não se preocupa em agradar os espectadores de masculinidade frágil: todos os homens, sem exceção, são figuras deploráveis e caricatas. Aqui a coisa se torna ainda mais interessante, pois todos são vistos pelo olhar das meninas, que desejam aprender a lutar tanto para se defender de uma sociedade machista quanto como forma de sororidade.

Com um elenco secundário que compreende perfeitamente em que filme está, Bottoms [título original] tem uma energia apaixonante, abraçando o nonsense mais descarado com gosto, ao mesmo tempo que reitera a força da amizade como mola propulsora de mudanças. E fique de olho em Ayo Edebiri, da série The Bear, antes da fama!


Quer ver mais críticas como essa? Acesse aqui o meu perfil no Facebook e confira.

Voltar ao topo