Capitão América: Admirável Mundo Novo — quando a fórmula já não funciona

É duro admitir, mas temos aqui mais um exemplo de como a Marvel há tempos vem se apoiando em fórmulas já conhecidas, sem trazer novidades significativas para seu universo cinematográfico. A relevância, que antes parecia natural, hoje soa quase forçada. O que antes era empolgante, hoje é previsível. E nesse cenário, Capitão América: Admirável Mundo Novo chega tentando carregar um peso que já não é só simbólico — é estrutural.

Dirigido por Julius Onah (O Paradoxo Cloverfield), o novo filme traz Anthony Mackie como Sam Wilson, assumindo de vez o manto deixado por Steve Rogers (Chris Evans) após os eventos de Vingadores: Ultimato e da série Falcão e o Soldado Invernal. A transição do personagem foi construída com muito cuidado pela Marvel, colocando Sam como um herói mais próximo da realidade e dos dilemas sociais, mas infelizmente tudo isso fica em segundo plano aqui.

A narrativa resgata elementos do filme O Incrível Hulk (2008), estrelado por Edward Norton, especialmente na construção em torno de Thaddeus “Thunderbolt” Ross — personagem que agora é vivido por Harrison Ford, no lugar do falecido William Hurt. Ross, que agora ocupa a presidência dos Estados Unidos, sofre um atentado misterioso e levanta suspeitas de um plano maior em andamento. Cabe ao novo Capitão América desvendar o que está por trás desse movimento, enquanto o filme tenta (sem muito sucesso) revisitar a atmosfera de conspiração política e espionagem que funcionou tão bem em Capitão América: O Soldado Invernal.

E não para por aí. Admirável Mundo Novo também se aproveita de um gancho esquecido lá em Eternos — a introdução do adamantium, o famoso metal ligado aos X-Men e usado, por exemplo, nas garras de Wolverine. Aparentemente, a Marvel decidiu que este seria o novo elo de ligação entre suas franquias, preparando terreno para futuras histórias e possíveis novos personagens. Sim, mais uma vez temos um filme cujo maior objetivo é pavimentar o caminho para outros.

No meio disso tudo, aparece o Hulk Vermelho — identidade que nos quadrinhos é assumida justamente por Ross —, em uma sequência de ação que tinha tudo para empolgar, mas é resolvida com pressa e pouco impacto. A luta dura pouco mais de dez minutos e termina sem grandes consequências, o que apenas reforça a sensação de que esse universo cinematográfico anda girando em círculos.

O roteiro até tenta resgatar discussões importantes que surgiram na série de Sam Wilson, especialmente em torno de identidade racial e representatividade, mas tudo é abordado de maneira superficial. Fica parecendo um lembrete distante do que já foi feito, e não uma evolução real da narrativa. Soma-se a isso vilões esquecíveis, planos mirabolantes que desafiam a lógica, e personagens que parecem ter sido criados apenas para serem sacrificados mais adiante no enredo.

No fim, Capitão América: Admirável Mundo Novo entrega um protagonista carismático e coerente com o legado de Steve Rogers, mas sem nenhuma novidade que empolgue de verdade. É um filme com ritmo razoável e ação competente, mas que simplesmente não consegue capturar o mesmo brilho das produções que consagraram a Marvel nos cinemas.


Serviço

Título: Capitão América: Admirável Mundo Novo
Título original: Captain America: Brave New World
Ano de produção: 2025
Duração: 1h58min
Direção: Julius Onah
Elenco: Anthony Mackie (Sam Wilson / Capitão América), Harrison Ford (Thaddeus Ross), Liv Tyler (Betty Ross), Tim Blake Nelson (Samuel Sterns / O Líder), Shira Haas (Ruth), Danny Ramirez (Joaquin Torres / Falcão), Carl Lumbly (Isaiah Bradley)

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