Batman: 35 anos do filme que mudou o cinema

E não é que o Batman de Tim Burton está celebrando 35 anos desde a sua estreia em 1989? Atualmente, Batman é um personagem consagrado no cinema, seja pela abordagem realista de Christopher Nolan, os elementos extravagantes de Zack Snyder ou o olhar sombrio de Matt Reeves.

Em meados dos anos 1980, porém, Batman não era a aposta mais certeira, até porque boa parte do público ainda tinha em sua mente o delicioso registro camp da série protagonizada por Adam West.

Mesmo com o sucesso do Superman de Richard Donner, Batman demorou para sair do papel – e mesmo que nos quadrinhos ele já estivesse numa vibe mais pesada há tempos, foram as graphic novels O Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller, e A Piada Mortal, de Alan Moore, que mostraram que havia, sim, espaço para um personagem trágico, uma ambientação gótica e uma violência estilizada capaz de traduzir a decadência da metrópole de Gotham City e o absurdo da ideia de um milionário vestido de morcego enfrentar o crime.

Com um trailer montado às pressas, imagens do símbolo do morcego espalhadas pelas cidades e a expectativa de Jack Nicholson como o Coringa, o público foi sendo aos poucos convencido de que, mesmo com um cineasta calcado na comédia, a trilha sonora do cantor do Oingo Boingo e um ator baixinho e meio careca como Bruce Wayne, havia a possibilidade de algo muito interessante estar vindo ali. Na época, o auê era tanto que pessoas em todo o mundo entravam nos cinemas apenas para ver o trailer e iam embora [eu estava entre este grupo].

Estreando em 23 de junho de 1989, o filme se tornou um sucesso instantâneo de público e mediano com a crítica [vamos ver por quê], com mais de U$ 400 milhões em bilheteria mundial para pouco mais de U$ 35 milhões de orçamento, abrindo espaço não apenas para continuações que variaram entre o genial e o medíocre, mas também dando início a uma fase curiosa de super-heróis no cinema, como Dick Tracy, O Sombra, O Fantasma e, claro, o Darkman de Sam Raimi – sem contar o fenômeno de marketing indescritível, que estabeleceu um novo patamar na divulgação de filmes e que é seguido até hoje.

Vamos conferir, então, um pouco sobre cada um dos filmes desta primeira fase do morcegão no cinema.


BATMAN (1989) | Tim Burton
NOTA: 3,5/5

Ainda que seja um dos filmes mais marcantes e queridos da minha juventude, não dá pra negar que este Batman é uma bagunça sem tamanho. Tim Burtom, recém-saído de Beetlejuice, nitidamente não consegue equilibrar seu cinema autoral com as demandas óbvias de um blockbuster, além de nitidamente ainda não saber dirigir sequências de ação, algo que ele faria anos depois de forma primorosa em A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça, por exemplo.

O resultado é um filme inconsistente cujas partes parecem não conversar entre si: de um lado temos um vilão galhofeiro e quase infantil com o Coringa de Jack Nicholson, enquanto que do outro temos Michael Keaton [impossibilitado de mover seu pescoço e coadjuvante em seu próprio filme] fazendo caras e bocas tentando soar trágico e dramático. Quando estes dois universos se encontram, algo não bate.

Da mesma forma, o romance de Vicky Vale [Kim Basinger] e Bruce Wayne carece de autenticidade [eles ficam junto apenas uma vez e ela passa a stalkeá-lo e já que saber se ‘eles vão tentar se amar’], há um excesso de personagens desnecessários ou mal aproveitados [temos o pior Comissário Gordon da história e o que dizer de Alexander Knox?… e como vc coloca Lando Calrissian como Harvey Dent e esquece disso?] e o roteiro caminha a duras penas.

Mas é preciso dizer, também, que o saldo é bastante positivo. Há algumas sequências bem especiais, o clímax no festival é divertidíssimo [em que o Batman ‘mata geral’ sem se preocupar], a trilha de Danny Elfman [ainda que excessivamente pomposa] funciona muito bem, a direção de arte de Anton Furst que vai fundo na estética expressionista e a homenagem a Um Corpo que Cai [na sequência da igreja] já valem o ingresso.

De qualquer modo, fica nítida a impressão de que os produtores não sabiam muito bem o que desejavam do filme [a velha sina da DC], tanto que resolveram dar total liberdade a Burton no filme seguinte, quando aí sim tivemos a obra-prima Batman – O Retorno, como veremos abaixo.


BATMAN – O RETORNO (1992) | Tim Burton
NOTA: 5/5

Provavelmente um dos blockbusters mais ousados e corajosos de todos os tempos, Batman – O Retorno foge completamente da estilização e uma certa infantilidade do primeiro e mergulha de cabeça em um universo próximo ao da fantasia, com um vilão tão bizarro quanto trágico: um personagem animalesco saído de Dickens e jogado em uma história protagonizada por um herói tão recluso quando Charles Foster Kane e uma mocinha com sérios problemas psicológicos

Saído de Edward Mãos de Tesoura, Burton trouxe o que de melhor havia naquele filme: o frio da neve, a imponência visual [Batman nunca foi tão bem fotografado como neste filme], a solidão de seu protagonista e Danny Elfman mais próximo do lírico do que da fanfarra triunfalista do filme anterior.

O resultado é um filme que emana momentos de pura poesia visual e narrativa, metáforas sociais e religiosas bem colocadas e aquela estranheza que Burton sabia trabalhar tão bem nos anos 1990.

O Cavaleiro das Trevas pode até ser melhor como cinema de ação, mas este Batman aqui tem algo que nenhum outro tem: alma, coração e sentimento.


BATMAN ETERNAMENTE (1995) | Joel Schumacher
NOTA: 2/5

Confesso que já curti mais este filme, mas visto hoje em dia a coisa fica meio impraticável. Depois da beleza, da sensibilidade, da poesia de Batman – O Retorno, Joel Schumacher resolver jogar tudo isso pelo ralo e apostar num produto cujo maior elogio é dizer que parece um baile exagerado de um carnavalesco com sérios problemas de percepção.

A ideia por trás de Batman Eternamente até fazia sentido: depois do clima soturno instalado na Gotham de Tim Burton, a Warner [sempre ela] resolveu apostar numa linha mais próxima a da deliciosa série dos anos 60.

O probema é que tudo é exagerado demais. O suposto olhar irônico sobre o herói que se fantasia de morcego se perde em meio a uma direção de arte com todos os pés no brega, uma direção fora de tom, um Jim Carrey completamente sem freio [ao contrário do trabalho fenomenal de Danny De Vito, que desaparecia sob sua maquiagem de Pinguim], um Tommy Lee Jones nitidamente incomodado, um Val Kilmer que não consegue fechar a boca e piadinhas desconexas.

Pra piorar, o roteiro ainda consegue a capacidade de colocar Chris O’Donnel como Robin [cujo maior talento é enxugar roupas no melhor estilo Bruce Lee] e colocá-lo em perigo em todas as situações em que ele se mete no ato final. Com um sidekick desses, pra que inimigos?

Em um filme no qual nem Nicole Kidman se salva, vamos dizer o que né?

PS.: a fanfarra de Elliot Goldenthal usada como tema musical deste Batman é até bacaninha, mas nem ela resiste a ter os seus rompantes histéricos de vez em quando. Mas tinha a belíssima canção Kiss from a Rose do Seal pelo menos.


BATMAN & ROBIN (1997) | Joel Schumacher
NOTA: 1/5

Nem vamos perder muito tempo falando sobre ele.

Sério, como deixaram passar isso aqui? Em que momento alguém achou que isso ia ser um bom filme? Assassino das carreiras de Chris O’Donnel e Alicia Silverstone, o filme não serve nem pra entrar na categoria daqueles que são tão ruins que são bons. Aqui o desastre é completo, seja pela trama sem sentido, pelos cenários carnavalescos ainda mais bizarros que no anterior, pela direção equivocada, pelas interpretações canhestras, e, o pior de tudo, os trocadilhos infames do Sr. Gelo de Arnold Schwarzenneger.

Não é por acaso que o próprio Joel Schumacher pedia desculpas pelo filme nos extras do DVD. Que tristreza.

Não só Batman & Robin foi uma situação constrangedora para todos os envolvidos – e olha que George Clooney poderia ter sido um belíssimo morcegão – como colocou a franquia na geladeira por quase 10 anos, até Christopher Nolan chegar com seu Batman Begins e dar um novo gás a um dos heróis mais interessantes do cinema.

Todos os filmes do Batman estão disponíveis no serviço de streaming MAX.

E você, qual deles é seu preferido? Conte aqui nos comentários!

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