Situado entre os eventos de Alien (1979) e Aliens (1986), este novo capítulo, dirigido pelo uruguaio Fede Álvarez, talvez não traga grandes inovações. Na verdade, funciona mais como um checklist dos momentos icônicos da saga ao longo dos últimos 45 anos. Mas, quer saber? É o tal do básico bem feito. No caso, aqui, muito bem feito.

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É inegável que Álvarez fez sua lição de casa com maestria. O filme pode carecer de originalidade, mas compensa com uma tensão sufocante e brutalidade crua, remetendo tanto ao horror claustrofóbico do clássico de Ridley Scott quanto à ação incessante da obra de James Cameron.

A trama segue um grupo de jovens colonos espaciais, presos em um planeta à mercê de uma corporação exploradora que lhes oferece pouca ou nenhuma esperança de melhoria. Condenados a uma existência miserável e à morte pelas péssimas condições de trabalho, eles decidem invadir uma estação espacial abandonada, denominada Romulus e Remus, em busca de módulos criogênicos que poderiam levá-los a um sistema distante, numa jornada de nove anos.

Como é de se esperar, a estação não está vazia à toa, e logo o terror toma conta da tela. A partir daí, Álvarez conduz uma escalada de violência e horror com precisão cirúrgica, utilizando os corredores estreitos, escadas e poços de elevador da estação como um cenário cada vez mais opressor, fotografados tanto de forma a ocultar elementos de cena como estabelecer a grandiosidade destes ambientes – e a dificuldade de cavar uma fuga digna. E quando as criaturas finalmente aparecem, temos que admitir: nosso querido xenomorfo nunca pareceu tão ameaçador.

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Há, no entanto, alguns pontos fracos. Os personagens carecem de profundidade, e você provavelmente lembrará apenas de dois nomes ao sair do cinema. Eles acabam funcionando mais como peões destinados à eliminação do que figuras pelas quais realmente nos importamos.

Por outro lado, a protagonista (vivida por Cailee Spaeny, de Priscilla e Guerra Civil) foge do estereótipo durão da Ripley de Sigourney Weaver, crescendo de forma impactante ao longo da trama, especialmente por conta de sua relação com o “irmão” androide, interpretado com intensidade por David Jonsson (do lindinho Rye Lane), que oferece uma das melhores representações de uma pessoa artificial que a saga já viu.

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O fan service também está presente, e de forma bem evidente. Os mais desatentos podem não notar, mas os fãs de longa data perceberão referências a cada cinco minutos. Felizmente, isso não incomoda tanto. Entre um fan service bem executado e as prequels existencialistas irregulares dos últimos anos, prefiro a primeira opção. Não falta nem um ‘get away from her, you bitch‘.

O respeito à saga original está desde o visual antiquado dos equipamentos eletrônicos (ao invés das telas de LCD e controles deslizantes de Prometheus, temos aqui a velha tela preta com caracteres verdes e botões espalhados por todo o cenário) como ao uso inteligente tanto de efeitos sonoros e lembranças da trilha de Jerry Goldsmith.

E mesmo que um determinado personagem inserido na estação cause certa estranheza — em grande parte devido a um CGI pouco convincente —, essas falhas são facilmente ignoráveis diante da experiência taquicardíaca que Álvarez entrega, um cineasta que parece entender como poucos do que são feitos os pesadelos.

O terceiro ato se conecta diretamente tanto com Prometheus (2012) quanto com Alien: A Ressurreição (1997), mas de forma bem mais eficiente que o clímax dos dois. No fim, temos uma conclusão clássica com direito a contagem regressiva e sirenes, do jeito que esperamos de um filme da franquia, com portas abertas para uma possível continuação.

Se for pra continuar nessa toada, que venham mais alienígenas!


ALIEN: ROMULUS
Nota: ⭐⭐⭐⭐

  • Direção: Fede Álvarez
  • Duração: 120 minutos
  • Ano de Lançamento: 2024
  • Gênero: Terror / Ficção Científica
  • Elenco:
    • Cailee Spaeny
    • Isabela Merced
    • David Jonsson
    • Archie Renaux
    • Aileen Wu