Uma casa que parece congelada no tempo. Atmosfera simples, relógio demora para passar, em um ritmo desacelerado diante de uma rua movimentada em um bairro de Curitiba. No Uberaba, o Armazém Santa Ana, completou 90 anos de fundação com essência familiar reunindo centenas de itens e produtos capazes de promover uma viagem histórica sem sair do lugar. E melhor de tudo, abençoado pela padroeira dos avós.
Oficialmente, o Armazém Santa Ana foi inaugurado em maio de 1934, de frente para a única estrada que ligava Curitiba a São José dos Pinhais e também a Santa Catarina (atual Avenida Senador Salgado Filho), quando ao redor tudo era mato. Para os antigos, os armazéns são os bisavôs dos shoppings.
O fundador do Santa Ana foi o imigrante ucraniano Paulo Szpak , que deixou a Europa em 1910, aos 19 anos. Chegou sozinho em Curitiba, onde passou a morar no alto do bairro Uberaba, na região conhecida como Corte Branco.
Além de trabalhar como construtor de estradas e sapateiro, Paulo fazia reparos em residências. Aos poucos, juntou dinheiro para comprar madeira de imbuia, e com ela montar o armazém. Nessa época, Paulo já era casado com a imigrante polonesa Julia Zielonka. O nome do armazém se deve ao fato de que Paulo era devoto de Santa Ana, mãe da Virgem Maria e avó de Jesus Cristo
Naquele tempo, a estrada era de chão batido, e a ida ao centro de Curitiba para compras e vendas poderia levar um dia inteiro para quem morava na zona rural. A partir disso, a localização do Armazém foi estratégica. Szpak conseguiu uma freguesia com os moradores da região, viajantes e tropeiros.
“As pessoas seguiam para Santa Catarina e faziam o lanche aqui. Já as pessoas do bairro realizavam compras de produtos para casa, ir para o centro era muito demorado. Vendia-se de tudo, desde lampião, parafina, roupas, pé de bicicleta, caixa de banana. O slogan era vende de tudo”, disse Fábio Szpak, bisneto do fundador e atual administrador do Armazém ao lado da irmã Ana.
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Salame, ovos caipiras, pepino azedo e estilingue
Paulo Szpak e Julia moravam nos fundos do armazém com os três filhos – Pedro, Vitoldo e José. Chegaram a criar porcos e galinhas e cultivavam um parreiral. O salame, o chouriço, os ovos, o vinho e o vinagre para a produção de pepino azedo, eram para consumo próprio, mas no armazém não se negava a venda de pratos da comida caseira a quem pedia.
“Seguimos essa tradição, as pessoas mais velhas seguem comprando o pão, o ovo caipira, salame e queijo. São produtos coloniais de ótima procedência, fora o pierogi e porções que utilizamos a mesma receita da vó Julia”, comentou Fábio que teve no pai Pedro um grande exemplo para seguir com o legado de ajudar os outros com doações, seja no fim de ano ou mesmo, com os coletores de lixo que recebem diariamente marmitas e refrigerante.
Com 90 anos de fundação e no mesmo molde de antigamente com a manutenção da casa de cor laranja, prateleiras, balcão, diversidade de compotas e embutidos, além dos tamancos até estilingue para venda, os clientes tem três bons espaços na casa para aproveitar o chope gelado e a famosa carne de onça.
“A casa foi preservada e fizemos reformas para atender o público e a própria Vigilância Sanitária. O ruim hoje é essa bagunça do trânsito que fez perder a calmaria. Sinto saudades dos amigos que se foram que deixaram boas lembranças. É emocionante o relato das pessoas que lembram que a primeira boneca foi comprada aqui ou mesmo que faz lembrar cidades do interior”, comentou Fábio que tem na clientela uma turma das antigas que ficaram órfãos da retirada do balcão da entrada no período da pandemia da Covid-19. “Não perdoamos isso ainda, mas o Fábio é uma pessoa do bem, ajuda muita gente”, brincou um da turma dos “cabeças brancas”.
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E o futuro?
Os donos já estão colocando a quarta geração no balcão. Pedro, filho da Ana, e o Fernando, filho do Fábio, colaboram no trabalho e aos poucos ganham confiança e carinho pelo trabalho.
“É uma responsabilidade muito grande, a gente vai envelhecendo. Torço que o filho siga com o legado, nem sempre é o que gosta, mas é preciso valorizar a família. O dia a dia é pesado e melhor deixar acontecer. Não é fácil o trabalho do comerciante, o importante é manter essa corrente do bem e aproveitar nossa história”, completou o bisneto do Paulo e da Júlia.
Armazém Santa Ana
Endereço: Av. Sen. Salgado Filho, 4460 – Uberaba.
Funcionamento: Segunda a quarta-feira das 14:00 as 22:00
Quinta-feira e sexta-feira das 14:00 as 22:40
Sábado das 12:00 as 21:30
Instagram :armazem_santa_ana
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