Do tradicional ao novato; seis bares de Curitiba que fizeram sucesso em 2024

O Makiolka segue fazendo sucesso entre os botecos de Curitiba. Foto: Gustavo Marques/Tribuna do Paraná

Seis bares de Curitiba tiveram um 2024 especial. São locais tradicionais que mantiveram o bom atendimento ou mesmo entraram no seleto time de botecos que tiveram clientes satisfeitos durante a temporada. Nosso Boteco, Bar do Cardoso, Cana Benta, Makiolka, Giraldi e Otelo representaram bem demais a classe que perdeu no fim de 2023, o Stuart, o mais antigo dos bares do Paraná.

O Nosso Boteco, localizado na Rua Vicente Ciccarino, 699, no bairro Boa Vista, em Curitiba, é o espaço comandado pelo Sid, um botequeiro que tem o “bar no sangue”. O boteco é daqueles que captura o cliente por horas, estilo o desenho animado Caverna do Dragão, no qual um grupo de crianças entra em um mundo mágico, e conta com a ajuda de Mestre dos Magos para tentar voltar para casa.

>> Nosso Boteco! Bar raiz em Curitiba “captura” clientes por horas; Comida boa, cerveja gelada e proteção do Papa

“Começamos com o pãozinho com ovo, e minha esposa Jéssica foi se aprimorando na cozinha. Além dos tradicionais petiscos como a carne de onça e o pão com bolinho, temos na terça-feira e quarta-feira um prato que inventamos na semana, na quinta-feira temos o Eisbein ( joelho de porco), sexta-feira com a carne assada e sábado tem a feijoada. Muitos aparecem para comer, mas sempre reforço com a turma, não quero perder o botequeiro que fica no balcão. Não podemos perder a essência, o boteco raiz está em extinção”, disse Sid.

Bar do Cardoso

Pai e filho. Uma união perfeita da relação que avançou do balcão para a churrasqueira, servindo aos clientes o mais famoso torresmo de Curitiba. Bar do Cardoso, na Cidade Industrial, é reduto familiar, ponto de risadas e provocações sadias como em qualquer boteco. Um ambiente especial que agrada no paladar e na alma. 

Localizado na Rua Padre Antonio Joaquim Ribeiro, 100, o espaço inclui o balcão e o piso com cacos cerâmicos vermelhos, amarelos e pretos fazendo parte da ala antiga do boteco, onde o cenário é de pura integração com uma mesa redonda perfeita para boas histórias. Aliás, o piso é belíssimo, historicamente popular das décadas de 1940 e 1950 em que as pessoas pegavam refugos dos cacos e iam montando nas casas.

Para servir o torresmo com excelência nas quintas e sextas-feiras, e garantir a fama do Rei do Torresmo de Curitiba, o filho do Cardoso, o Alexandro, não mediu esforços para encontrar o melhor produto.

“Compro no frigorífico Santo Antônio, em Santa Felicidade. Eles sabem o meu gosto, seja no corte e tamanho. Ela é mais carnuda, menos gordura. Deixamos 48 horas no tempero caseiro, depois ela é enrolada e assada em média por três horas, frita no óleo de algodão e banha de porco para deixar 100%”, comentou o filhão do Cardoso que chega a vender em dois dias 50 a 70 quilos de torresmo aos clientes. E olha que antes da pandemia da Covid-19 batia 120 quilos.

CanaBenta

Um boteco protegido de corpo e alma, no qual o cliente pode chegar brabo, mas vai sair alegre. O CanaBenta, na Rua Itupava, no bairro Hugo Lange, em Curitiba, é um espaço em que a roça ganha destaque nos cantos do bar, um verdadeiro celeiro gastronômico da perfeita combinação do torresmo com o rollmops acompanhado de uma boa dose de cachaça.

Ao dar os primeiros passos no CanaBenta em um chão com piso remendado e marcado pela pés apressados dos garçons ou dos dançarinos amadores, percebe-se o DNA de um bar simples, familiar e marcado pela emoção. O responsável é o “pé vermelho” Délio Canabrava, 52 anos, natural da verdejante Paraíso do Norte, região noroeste do Paraná. 

No Canabenta o cardápio é campeão. Vai do rollmops ao torresmo, da carne de onça para o churrasco ou mesmo do bolinho de carne para a feijoada de sábado. No balcão, vai encontrar conservas de boteco como pepino, ovo de codorna, cebola e vinas em potes grandes. Ah, vale lembrar que o local sediou o campeonato de rollmops, competição que premiava quem era o maior comedor da fina iguaria em menos tempo.

“O bar tem essência, aqui é mais simples, fácil e democrático. Digo que é o mais alegre, um boteco da paquera e da conquista também. Eu sempre fui rústico, é minha marca. Não consigo fazer pose, é simples e objetivo como a comida de boteco”, comentou Délio, apreciador de fígado acebolado com jiló, um clássico dos bares de Belo Horizonte.

Bar Makiolka

Legado, histórico, tradicional e único. O Makiolka, o bisavô dos bares de Curitiba, fundado na década de 1920, é o templo sagrado do comércio, administrado pela quarta geração, que do piso ao teto tem a construção raiz dos tempos em que a banha e a ferradura do cavalo tinham posição de destaque nas prateleiras e no balcão vermelho marcado por copos e cotovelos. 

O Bar Makiolka, localizado no bairro Tingui, é o Maracanã dos botecos curitibanos. Sem desmerecer outros, mas ao entrar pelas duas portas colossais de madeira na Avenida Monteiro Tourinho, n° 1000, o cliente vai avançar por um reduto histórico municipal. Com piso hidráulico com mais de 90 anos, é impossível a cada olhar não notar algo diferente. Garrafas antigas, banquetas, estufas, quadros, caixas de engradados de cerveja empilhadas, adesivos, potes de conservas e letreiros.

O responsável atual por comandar essa magia é o Leandro Makiolka. Ele é bisneto do Theodoro Makiolka, criador do comércio na década de 20, e nome de rua no bairro Santa Cândida. Theodoro foi o responsável ao dar o pontapé do negócio em um paiol de madeira atendendo clientes que buscavam itens para a casa e animais. Somente em 1932, veio a construção de alvenaria.

“Não se tem uma data precisa da inauguração, acredita-se que foi antes de 1922. Tenho o livro caixa de 1928, um registro histórico da época. Em uma página tem o selo fiscal que custou 2 mil réis”, disse o bisneto do fundador do bar, que pretende tornar o bar como o mais antigo do Paraná com o fim do Stuart, fechado desde dezembro de 2023.

Bar Giraldi

Autêntico, tradicional e com identidade carimbada de boteco raiz. Famoso pelos caldos que ajudam a combater a ressaca e que dão força para seguir no famoso cantinho da cirrose, o Bar Giraldi na Rua Schiller, no bairro Cristo Rei, em Curitiba, segue igual aos trilhos do trem que avançam pela região que um dia foi chamada de Vila Morgenau, o de integrar gerações e transmitir conhecimento.

Fundado em 1964, o Bar Giraldi ou mesmo apelidado de Caldinho de Piranha, completou 60 anos. A experiência no ramo botequeiro fez do lugar um ponto importante na vida dos curitibanos, e pode-se cravar sem medo, é um boteco histórico que trouxe para a fria Curitiba, um alimento quente para os padrões do Sul do Brasil – o caldo.

O responsável pela gestão do Giraldi é o Emerson Marques Mella, um ex-analista de Tecnologia da Informação (TI). Com uma equipe atenciosa, o local é ideal para comemorar a vida ao lado de uma cerveja gelada e bons petiscos.” Digo que boa parte do passado ficou, inclusive o caldinho de piranha. Colocamos mais caldos e informatizamos, mudamos o layout, e fazemos questão de chamar todos pelo nome. Não existe a comanda pelo número da mesa, isso faz toda a diferença”, reforçou Emerson.

Bar Otelo

O bar mais democrático de Curitiba com o chão xadrez preto e branco, drinques e petiscos renomados de botecos pés-sujos, garçons com histórias nos ringues e nos campos de futebol, e um dono botequeiro que vendeu poesia no Largo da Ordem. Um combo que faz do Bar Otelo, localizado na Avenida Carlos de Carvalho, no Centro, um ponto que faria Paulo Leminski bebericar uma dose e reescrever “Rio é o mar; Curitiba um bar”. 

Ao dar o primeiro passo no Bar Otelo, impossível o olho não brilhar. Um piso xadrez preto e branco reforça para quem entra, que a cor da pele não importa. Um chão democrático e histórico em Curitiba!  Ao avançar pelo salão que parece ser o hall da fama dos botequins, o fundo já brilha com as chopeiras, balcão de madeira, engradados de cerveja estrategicamente postados com um ambiente de liberdade. Nas paredes, quadros com memórias do Brasil, cartazes de propaganda, memorial dos pontos turísticos da capital paranaense e até o Mural do Pé-Sujo Cheiroso com fotos dos clientes que postam a presença nas redes sociais. 

O responsável por essa beleza botequeira é o Ewerton Antunes, um empreendedor nato. Natural de Cascavel, região oeste do Paraná, a decoração do bar representa um Brasil.

“Em 1996, eu cheguei em Curitiba com 18 anos. Eu olhava Curitiba como uma Nova Iorque, uma cidade cheia de oportunidades. Tinha ambições literárias, vendi poesia na XV de Novembro, ia na Biblioteca Pública, escrever sonetos e frases nos envelopes que se colocavam nas flores. Olhar o Otelo com mais de 300 imagens expostas na decoração é prazeroso, temos um time formado por especialistas do mundo do bar, um botequim com alma brasileira, é tupiniquim raiz, orgulha-se Ewerton. 

O cardápio é de bar, tira-gostos tradicionais como amendoim, conservas de azeitonas, batatinha e pepinos, espetinho clássico de ovo/salsicha e pepino e canudinhos de maionese. Os petiscos também é pura seleção raiz com pastéis, bolovo de carne, torresmo, frango a passarinho, aipim frito, costelinha de tambaqui e o delicioso croquete de ossobuco com queijo.

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Vale reforçar que no final do ano, os bares citados podem estar fechados. Procure as redes socias do lugar para não perder a viagem.



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