Bola oito no fundo caindo na direita e som efusivo na comemoração. No balcão, a calmaria do dono acostumado a trabalhar sozinho no ponto mais sagrado de um boteco raiz. A vida segue, o barulho forte da pancada para uma nova partida e buzina na rua. É mais um dia no Bola Sete Snooker Bar, na movimentada Avenida Marechal Floriano Peixoto, no Centro, em Curitiba. A temporada 2025 do Caçador de Boteco está aberta!
A rotina no tradicional espaço que reúne jovens e veteranos de bar no Bola Sete é especial. A união entre as idades proporciona um encurtamento de gerações, conversa informal entre desconhecidos que se transformam em risadas e brindes. É a famosa magia do boteco, em que nenhuma sala de aula vai proporcionar tanto conhecimento (perdão aos professores!).
O responsável por deixar esse clima tranquilo e também pelo som do bar é o gaúcho Gilmar Sartorelli, 53 anos, natural de Marau, norte do Rio Grande do Sul, perto de Passo Fundo. Há 28 anos, ele comanda o Bola Sete, e jamais deixou para trás, os ensinamentos da vida no campo e dos pais Ernesto e Ângela. “Minha família é da roça, plantávamos feijão, arroz, soja, e vendia alface, ovo, tomate na cidade. Saí de lá com uma mala e o sonho de ter um bar com mesa de sinuca. Vim para Curitiba trabalhar com meu tio, dono da Chimarrão 1, perto da rodoviária. Fiquei oito meses, voltei para Marau, e logo retornei para Curitiba para não sair mais”, disse Gilmar.
A partir dessa segunda chegada na capital paranaense, o boteco entraria definitivamente na vida do marauense Sartorelli. Começou a trabalhar em um bar quando recebeu a proposta para mudar de emprego no mesmo setor, foi ser funcionário do KatiQuero, na Rua Estados Unidos, no bairro Bacacheri. O negócio não deu muito certo para o dono, e Gilmar acabou comprando o estabelecimento.
“Ali peguei o gosto de servir e comecei a ganhar um dinheirinho. Foram quatro anos, e meu irmão, veio com a ideia de comprarmos um restaurante no Centro. Era o Chimarrão 2, do cunhado do meu tio. Fomos à falência, parei com a comida e foquei no bar. Depois aumentei o espaço, e em 2002, coloquei a primeira mesa de sinuca. Um sonho realizado”, relembrou Gilmar, irmão da Marilene, Roberto e do Gilberto.
“Uma bagunça organizada”
Antes de avançar pelo principal corredor de acesso ao Bola Sete Snooker Bar, o visitante vai se deparar com uma vitrine clássica. Televisores antigos, fax, máquina de datilografia e costura estão expostos dando boas-vindas ao mundo da imaginação. Já dentro do espaço, a cada olhar é um encontro de décadas com prancha de surf, jukebox, cabeças de boi, bichos de pelúcia, guitarra, berrantes, órgão musical, sanfona, canecas e muitos quadros.
“Fui comprando aos poucos, me apaixonei pela clássico. Ganhei alguns, e tem mais, falta é tempo para pendurar. Antes era organizado, mas agora virou uma bagunça organizada”, brincou Gilmar. Impossível não notar outra paixão do dono. O Internacional, clube do coração. “Ali tem uma cadeira do antigo Beira-Rio, estádio do Colorado. Aqui chegou a ser sede da Embaixada do Inter, os torcedores acompanhavam todos os jogos”, avisou Gilmar.
Do Rio Grande do Sul tem outra particularidade Bola Sete Snooker Bar. A Polar, reconhecida como a cerveja dos gaúchos é vendida. Segundo Gilmar, apenas no comércio dele é que vende a litrão e 600 ml da gelada. “A lata você encontra por aí, mas não a cerveja em garrafa. Trouxe 40 caixas de litro agora nas férias, duas caixas de 600 e 20 fardos de lata. Trago em uma carretinha que aguenta duas toneladas”, relatou o colorado.
Sinuca valorizada pós-pandemia e futuro
No Bola Sete Snooker Bar, a sinuca é jogada em um tapete vermelho, diferente da maioria que usa o verde nas dimensões 2,80 X 1,52m. Segundo o proprietário, não tem relação com o Internacional, o objetivo foi ser diferente dos outros. O esporte segue atraindo a atenção de toda faixa etária e sexo. “A procura aumentou depois da pandemia, e o público varia demais. Tem dia que é mais adolescente, outro com mais amigos adultos e assim vai o desafio. Cobro R$ 5 a ficha”, afirmou Gilmar.
Quanto ao futuro e ao sonho concretizado com êxito, o bom gaúcho que tem pressão alta, e toma bronca das filhas para se cuidar, valoriza o trabalho feito com honestidade e muita dedicação. “Eu tenho orgulho, quase morri com 12 anos na roça. Perdi o baço, parte do intestino e fui salvo por cinco minutos depois de ser atropelado por uma carroça. Tem hora que dá vontade de vender, mas o que vou fazer? Aqui é meu tudo, fui tudo feito de maneira honesta e no suor”, completou o pai da Jeniffer e Jessica.
Bola Sete Snooker Bar
Endereço: Av. Mal. Floriano Peixoto, 809 – Centro.
Horário de Funcionamento: segunda à sábado das 18h até 2h00.
Instagram:barbolasete
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