Bar mais democrático de Curitiba é sucesso com petiscos e bebida de botecos pés-sujos

O bar mais democrático de Curitiba com o chão xadrez preto e branco, drinques e petiscos renomados de botecos pés-sujos, garçons com histórias nos ringues e nos campos de futebol, e um dono botequeiro que vendeu poesia no Largo da Ordem. Um combo que faz do Bar Otelo, localizado na Avenida Carlos de Carvalho, no Centro, um ponto que faria Paulo Leminski bebericar uma dose e reescrever “Rio é o mar; Curitiba um bar”. 

Se você pensou que tudo isso é imaginação ou exagero, peço que multiple por qualquer número diferente de zero ou um. Sim, existe um boteco na exigente Curitiba que faz uma viagem de 844 quilômetros, distância ao Rio de Janeiro, em minutos. O ambiente é tão mágico e alto astral que a entrada com o tapete e a placa antiga com o nome BAR Otelo faz o cliente resgatar as boas histórias contadas pelos antigos ou mesmo pelas revistas, jornais ou Pasquim. 

Aliás, o nome Otelo é sensacional. Não tem relação com o Mouro de Veneza, obra-prima de Shakespeare ou ao Grande Otelo, ator espetacular que fez maravilhosas participações em filmes, séries, novelas e que morreu em 1993, em Paris. A homenagem é para um senhor boêmio de Cascavel, cidade do Ewerton Antunes, 46 anos, um dos sócios do bar curitibano.

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“O Otelo foi uma pessoa muito querida na minha juventude, um senhor boêmio à moda antiga que ia para os bares da cidade e conhecia todo mundo, não arrumava confusão com ninguém, tratava os garçons pelo nome e dava gorjetas generosas. Eu trago nas minhas lembranças a figura dele, cordial com um sorriso no rosto e sempre bem vestido com sua gravata borboleta. Nada mais justo que homenageá-lo batizando o bar com o seu nome”, disse Ewerton, um sujeito nota 10 que se divide nos 30 para administrar o Porcini, Kan, Italy Caffe e La Campesina, outros empreendimentos na cidade. 

Ewerton é daqueles que coloca literalmente a mão na massa e aproveita as oportunidades. Do balcão ao livros, um pesquisador nato, o cascavelense aprendeu com a vida que é preciso correr atrás dos sonhos e das palavras para proporcionar qualidade e bom atendimento aos clientes.

“Em 1996, eu cheguei em Curitiba com 18 anos. Eu olhava Curitiba como uma Nova Iorque, uma cidade cheia de oportunidades. Tinha ambições literárias, vendi poesia na XV de Novembro, ia na Biblioteca Pública, escrever sonetos e frases nos envelopes que se colocavam nas flores. Olhar o Otelo com mais de 300 imagens expostas na decoração é prazeroso, temos um time formado por especialistas do mundo do bar, um botequim com alma brasileira, é tupiniquim raiz, orgulha-se Ewerton. 

Piso para todos e cardápio botequeiro 

Ao dar o primeiro passo no Bar Otelo, impossível o olho não brilhar. Um piso xadrez preto e branco reforça para quem entra, que a cor da pele não importa. Um chão democrático e histórico em Curitiba!  Ao avançar pelo salão que parece ser o hall da fama dos botequins, o fundo já brilha com as chopeiras, balcão de madeira, engradados de cerveja estrategicamente postados com um ambiente de liberdade. Nas paredes, quadros com memórias do Brasil, cartazes de propaganda, memorial dos pontos turísticos da capital paranaense e até o Mural do Pé-Sujo Cheiroso com fotos dos clientes que postam a presença nas redes sociais. 

Ao atravessar a porta veneziana rumo aos banheiros, o charme botequeiro permanece com homenagens ao bares antigos de Curitiba e frases de efeito: “Hoje é o dia de molhar a palavra” ou mesmo dizeres de mestre Paulo Leminski no sanitário masculino como “Aguento, mas não garanto”. “Eu não inventei nada. Tudo que tem no Otelo veio das minhas pesquisas e da minha experiência como botequeiro”, reforçou Ewerton. 

O cardápio é de bar, tira-gostos tradicionais como amendoim, conservas de azeitonas, batatinha e pepinos, espetinho clássico de ovo/salsicha e pepino e canudinhos de maionese. Os petiscos também é pura seleção raiz com pastéis, bolovo de carne, torresmo, frango a passarinho, aipim frito, costelinha de tambaqui e o delicioso croquete de ossobuco com queijo. (esse é animal)!

Quanto ao gole, o Bar Otelo é um dos poucos da cidade, talvez o único, que possui o copo de chope garotinho de 200 ml, e doses bem calibradas de Rabo de Galo, o Bombeirinho (cachaça, limão e groselha), o Vampiro (vodca, suco de limão, extrato de gengibre, Campari e groselha), caipirão de caju e o Negroni com grãos de café. 

Uma curiosidade são as sobremesas como o “Chopp de Colher ( gelatina com mousse de maracujá) e o “Pavê de Caipirinha”, criações da brilhante chefe Indianara Barbosa, comandante da cozinha.

Lutador, jogador e aviador no time 

Fábio Britto Sampaio, o Evander Holyfield, sósia perfeita do ex-pugilista – Foto: Gustavo Marques

A equipe de garçons é formada por profissionais experientes em restaurantes e bares. Além da malandragem no salão, a história de cada um deles é fantástica. Fábio Britto Sampaio, o Evander Holyfield, sósia perfeita do ex-pugilista. O Britto chegou a praticar boxe, mas aposentou precocemente devido a uma queda do adversário.

“Tive que parar, pois em uma brincadeirinha, o oponente demorou para acordar. Não virei profissional, e semelhança com o Holyfield pegou. No bar já vi muita gente na lona, mas aqui é de boa”, brincou o garçom.

Outra lenda é o Luizinho. Rodou inúmeros estabelecimentos e foi jogador de futebol do Rio Branco de Paranaguá, no Litoral do Paraná. “Atuava na lateral-direita na Estradinha e joguei profissionalmente em 1978. A família precisava de dinheiro, e segui a carreira do meu pai. O futebol perdeu um talento, mas os bares tiveram um reforço. São 53 anos encostando o umbigo no balcão”, orgulha-se o Luizinho, que segundo dizem na boca pequena, ele é tão antigo de bar que estava no dia da criação da carne de onça na Toca do Tatu.

Além deles, o timaço é composto pelo Altivir ( gerente), Fabiano Jacob, também conhecido como Santos Dumont, barman, poeta e ator, e o Ricardo, equilibrista e pandeirista. “Eles são a casa, a enciclopédia da boêmia curitibana está aqui. É ginga do negócio, como diz o outro, nunca fiz amizade bebendo leite. A resenha de boteco é isso, você compra e vende o mundo numa sentada, e chega em casa sem a chave da porta”, completou Ewerton Antunes. Vida longa ao Otelo, o bar mais democrático de Curitiba.

Fabiano Jacob, também conhecido como Santos Dumont, barman, poeta e ator. Foto: Gustavo Marques

Serviço: Bar Otelo

Endereço: Alameda Dr. Carlos de Carvalho, 625 – Centro

Funcionamento: segunda a sexta, a partir das 16 horas, e aos sábados, começa ao meio-dia com feijoada e música ao vivo. Encerrando atividades sempre à meia-noite. 

Instagram:  @bar.otelo

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