Um bar com quase 80 anos em Curitiba. Um patrimônio, um legado, e acima de tudo, uma tradição mantida ao redor de um balcão. O Bar do Tinho, no bairro Portão, é a história de vida de uma mesma família que mantém forte a preservação do maior bem de um comércio: o nome.

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O Bar do Tinho, atualmente na Rua Professor Fábio de Souza, divisa com Santa Quitéria, é daqueles botecos que faz a gente valorizar o passado com os ensinamentos dos nossos parentes. Não pense que estou aumentando como é comum na conversa de bar, o lugar é realmente especial. Do chão feito de restos de construção dos anos 50 e 60, ou mesmo das prateleiras de madeira reforçadas para aguentar as garrafas de cachaça, o Bar do Tinho tem na essência a família.

O fundador foi o Geraldo Jory, um homem que dedicou a vida para os filhos e aos clientes. Em 1946, com 18 anos, ele montou o seu primeiro bar, na Avenida Marechal Floriano, no Centro de Curitiba. Com o dinheiro que ganhava, ele investiu na compra de um terreno no Bairro Vista Alegre do Portão, hoje chamado Portão. Nesse local, construiu a casa da família e o bar.

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Em 1953, Geraldo mudou para o atual endereço, e no dia do Natal, casou com Joaninha Marochi Jory que passou a ajudar no bar. Aliás, a receita do famoso bolinho de carne vendido até hoje tem enorme participação dela.

Dessa linda relação de companheirismo, nasceram cinco filhos. O Francisco Pedro Jory (falecido), a Marily, Doroteia, Roseli e o Geraldo Agostinho. “Eu tenho gratidão por eles, eu agradeço demais por fazer parte dessa família. Aqui aprendi a servir aos outros, é uma alegria. Adoro conversar com a turma, cada pessoa que passa é um presente. É tudo de bom”, disse Dorotéia de Fátima, aposentada e ex-técnica de enfermagem.

Comida de boteco e mesa de sinuca antiga

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Com a placa amarela sinalizando o ano de 1953 e mesas de ferro de cervejarias, o Bar do Tinho tem a alma de um boteco raiz. No início era Bar, Mercearia e Açougue, mas na década de 1970, os donos perceberam que os supermercados estavam retirando clientes, mesmo com o famoso “caderninho da pendura”.

As características iniciais do bar continuam as mesmas, com as batidas de limão e de abacaxi,  fórmulas criadas pelo dono e mantida até hoje pelas filhas. Os aperitivos são de boteco como rollmops, ovo, salchicha, anchovinha, linguiça colonial ou o famoso bolinho de carne. “Muita gente de longe passa aqui para experimentar. Faço a batida de abacaxi, limão e o bolinho. Fiz algumas adaptações e a receita não está no papel. Não divulgo”, comentou Roseli que foi professora e seguiu na profissão os caminhos da mãe Joaninha.

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Ainda dentro do bar com no máximo 30 metros quadrados de pura magia, uma mesa de sinuca de tapete azul chama a atenção dos frequentadores. A cada tacada, o barulho se confunde com as risadas e até os passos das irmãs. É uma verdadeira sinfonia para os ouvidos dos botequeiros que apreciam o reduto dos Jory.

Aliás, vale citar que a mesa de sinuca foi um presente do filho Geraldo, o Tinho, para o pai em 1986. Anteriormente, era locada da empresa Bilhares Portão, e no primeiro salário do filho teve essa compra especial de uma mesa com tampa de mármore.

Copo sujo é tradição

No Bar do Tinho, o cliente pode encontrar uma tradição não muito utilizada em Curitiba, mas bem comum em outras cidades. O copo sujo, é quando se coloca limão e sal na “boca” do recipiente, geralmente no copo americano, e deixa no freezer. Ao tomar a cerveja, o gosto fica mais azedo nos primeiros goles.

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 “Eu me criei no bar, mudei para outro bairro, e 2012 voltei. É uma honra, gosto de fazer o atendimento. Faço o copo sujo do bar, conto umas piadas e escuto os velhinhos. Meu coração transborda de alegria quando estou aqui”, comentou Marili Judite.

Um boteco de classe, uma referência de gerações.  Obrigado Geraldo e Joaninha, Curitiba agradece!

Serviço: Bar do Tinho

Endereço: Rua Professor Fábio de Souza, 2359, Portão, Curitiba

Funcionamento: de segunda a sábado das 10h30 às 20 horas. Em janeiro, o bar não abre, férias coletivas.

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