À parte sua amizade com Fidel Castro e sua inimizade com Mário Vargas Llosa, Gabriel García Márquez (1927 – 2014), morto na última quinta-feira (17), sempre foi um homem respeitado dentro e fora do nada ingênuo círculo literário. A morte, a despeito dos recorrentes problemas de saúde, chegou de repente e levou um dos escritores responsáveis pelo chamado “boom latino-americano” entre as décadas de 1960 e 1960.
Influenciado, principalmente, pelo que o rodeava, Gabo usou do realismo mágico para dar novas cores ao dia a dia de pessoas comuns. A cidade fictícia de Macondo – em “Cem anos de solidão” – é, na verdade, um redesenho de sua terra natal, o povoado de Aracataca que, da mesma forma, era cercada por bananeiras e povoada por gente humilde. Talvez essa “simplicidade mágica” tenha sido o principal elemento propulsor da obra de Gárcia Márquez, sempre “acusado” de ser popular.
Diferentemente de outros escritores latino-americanos, como Borges (1989 – 1986), Cortázar (1914 – 1984) e Carlos Fuentes (1928 – 2012), Gabo sempre esteve mais próximo do homem comum que do intelectual engajado, apesar disso, não foram poucas as acusações que lhe pesaram os passos. Sua devota amizade a Fidel Castro sempre lhe rendeu críticas e, segundo alguns, até desabonaria o Nobel que recebeu. (Com Borges a situação foi semelhante, mas inversa. Há quem jure que o argentino só não recebeu o láureo-mor da literatura por ter apoiado o peronismo. Ainda assim, nada tira de Borges a grandeza de sua obra.) O colombiano também foi acusado de financiar um grupo de guerrilha. Para ele isso foi a gota d’água e o escritor foi morar no México, onde morreu.
Toda a sua obra é um apanhado dos costumes da América do Sul, colocando lado a lado uma riqueza cultural ímpar e um atraso econômico secular. As mazelas não são um defeito para Gabo, mas sim a única forma que as gerações de têm de superar o trauma da decadência anunciada. Ao se ler García Márquez é possível perceber cada um de nós ali, como um mero grão de areia levado pelas ondas do destino.