Ninguém sabe. A escritora italiana é – ao mesmo tempo – um mistério e um fenômeno literário internacional. Ao certo, ninguém sabe se Elena Ferrante realmente existe, se é o pseudônimo de um homem, uma mulher ou até mesmo se fruto de um grupo de escritores. No fundo, isso pouco importa – o que vale é a literatura -, mas funciona como uma jogada de marketing e tanto.
Ainda que seja pouco comentada no Brasil, Elena Ferrante tem seu primeiro livro editado por aqui: A Amiga genial, que sai pelo selo Biblioteca Azul da Globo Livros. O motivo de tanto mistério em torno da identidade da autora é esclarecido por ela mesma em uma de suas raras entrevistas – sempre concedidas por e-mail e com mediação de seu editor. “Já fiz o suficiente por esta história. Escrevi-a”, comentou.
De acordo com a biografia que lhe cabe, Elena é napolitana e teria nascido em 1943. Para ela o que conta é a escrita, portanto, todo o resto – a intimidade, a biografia, a exposição – deve ficar “no privado” e permanecer intocado. Talvez seja essa uma réstia de puritanismo social em tempos de selfie, redes sociais e gente que, literalmente, luta para chamar a atenção de jornais e jornalistas.
Essa obsequiosa preservação rendeu-lhe certa publicidade, mas também a manteve escondida. Seu primeiro livro foi publicado em 1992 e – já se negando aos compromissos públicos – pouco foi feito dele. A primeira tradução para o inglês de L’amore molesto aconteceu somente em 2006. A Amiga genial chegou às livrarias italianas em 2011 e é o primeiro volume de uma pentalogia que ainda espera seu último livro.
Quem sabe o grande trunfo de Ferrante seja exatamente o segredo (não dizia Renato Russo que “o maior segredo é não haver mistério algum“?) e permitir falar com seus leitores ao pé do ouvido como um amante que encanta e não precisa ligar no dia seguinte. Há certo alívio em não se saber que realmente ela é: não se cria expectativa e, por tanto, a única decepção possível é a literária.