Há quem diga que Chico Buarque ficou quieto após envelhecer. Eu digo que ele está coerente à idade. Os 70 anos, comemorados no dia de Corpus Christi, na última quinta-feira, marcam um revival da obra (musical e literária) e um debate sobre o legado de Chico na história brasileira. Inegavelmente, suas composições musicais se sobrepõem sobre os livros, mas não é possível deixá-los à mingua da mera menção do conjunto completo.
Ao contrário de Caetano Veloso e Gilberto Gil – mesmo casos extremos como Mick Jagger -, Chico é um homem de seu tempo, conhecedor de suas limitações e que não se arrisca a andar lentamente no lamaçal e, por isso, ele escreve quando quer, canta quando quer e lança discos quando quer. Dizer que ele não é preciso é burrice – basta lembrar o autoexílio na Itália, no qual Chico teve que voltar às pressas para o Brasil para, literalmente, ter o que comer. Então, o que dizer?
Não defendo o saudosismo ignorante, aquele que não tem percepção do presente. Chico, pelo visto, também não. Tanto que ele não permitiu que Gota d’água, peça de 1975, fosse remontada anos atrás. E por quê? Porque ele vê defeitos demais em sua própria filha e prefere não expor a figura dos atores desta forma. Certo ou errado, Chico não tem dó de si mesmo, respeita os seus limites – muito mais amplos, abrangentes e ilimitados (perdoe o trocadilho) do que o convencional.
Por isso, Chico está aí e merece ter o nome escrito em letras garrafais: CHICO!