Um pouco atrasado. Talvez. Os 68 anos de Paul Auster foram comemorados nesta terça-feira (03) – com menos festa e pouquíssima pompa ao redor do mundo. O escritor norte-americano, conhecido pela obsessão pelo Brooklyn e pelas narrativas labirínticas, representa a cidade de Nova York como ninguém.
Fracassado como poeta (seu primeiro livro de poemas, Unearth, foi publicado em 1974 e não foi muito bem recebido), Auster descobriu a veia ficcional por acaso quando escreveu A Cidade de vidro (1985) em um rompante. O livro que encabeçaria a Trilogia de Nova York – sucedido por Fantasmas (1986) e O Quarto fechado (1986) – não foi exatamente o primeiro trabalho ficcional – Squeeze play (1982) fora lançado pouco antes sob o pseuônimo de Paul Benjamin – mas criou o esquema narrativo e temárico que o consagraria.
Embora não declare a influência de Borges, Paul Auster opera em situações semelhantes, porém, voltado ao mundo contemporâneo. Assim como o escritor argentino, ele concebe roteiros possíveis somente em um ambiente no qual a coincidência, a simetria e o absurdo são figuras tão comuns não causam qualquer estranhamento. O homem ‘preso’ em um quarto todo branco de Viagens no scriptorium (2006), uma espécie inferno orwelliano, é tratado com a mesma normalidade que Sidney Orr, o escritor que ‘prevê’ o futuro ao escrever suas histórias em um caderno azul comprado numa loja chinesa do Brooklyn – em Noites de oráculo (2003).
Ambos os personagens estão inseridos em um contexto que nem mesmo eles compreendem. Os dois são arrolados em um tribunal kafkiano sem saber o porquê. Quem sabe tenha sido caluniados e, por isso, são impedido de se aproximar do castelo da compreensão.
Natureza invertida
Não existe ordem natural para Paul Auster. Como um Benjamin Button a linearidade não passa de um convenção literária totalmente reversível. Se a sua poesia era pautada pelo material e tangível, a ficção percorreu o sentido contrário e seguiu para horizontes apadrinhados por Beckett, Poe e Melville.
O toque fantástico – para não dizer mirabolantes – foi a senha para o cinema. Smoke (1995) e Lulu on the bridge (1998), pouco conhecidos no Brasil, lidam com os mesmos temas, mas se desenrolam bem na plataforma cinematográfica.
Ainda que não seja (esteja) em tal alta conta como outros colegas norte-americanos, Paul Auster se mantém em forma com seu propósito: ser como seus personagens ausentes e presentes ao mesmo tempo.