Michel Houellebecq relata em novo livro relação da França com o islã

O ataque terrorista ocorrido na última quarta-feira (07) na revista francesa “Charlie Hebdo” foi, para o autor Michel Houellebecq, uma consequência direta da atual tensão entre as potências do Ocidente e do Oriente Médio. Na tentativa de debater a questão da política contra o terror e o antiislamismo, Houellebecq publicou seu livro mais recente, Soumission (“submissão”, português – que é também a tradução literal para islã), dias antes do atentado que vitimou 12 pessoas dentro da redação da revista.

Soumission foi um dos assuntos tratados na última edição da “Charlie Hebdo” e classificou o livro como um “golpe de mestre”. Levando em consideração a atual situação, Houellebecq cancelou toda a divulgação da obra e deixou Paris. O temor de atentados contra um escritor não é nada novo: em 1988 o livro Versos satânicos fez com Salman Rushdie fosse condenado à morte pelo Aiatolá Khomeini. Moral da história: Rushdie precisou viver 10 anos escondido.

Houellebecq na capa de “Charlie Hebdo”.

Submissão

O romance coloca a fictícia Fraternidade Muçulmana é eleita para a presidência da França, derrotando de forma direta Frente Nacional, partido real e de extrema-direita. A alegoria de Houellebecq é simples: mostra a dominação do islã dentro um cenário até então democrático. Tudo isso se passa em um futuro muito próximo: 2022.

Entre as questões que mais podem custar a vida do escritor está a relação entre a religião e a educação. O personagem principal é François, um professor de Sorboune, que é convidado a se aposentar por não se converter ao islã e não adotar a poligamia – o que triplicaria o seu salário. Pouco depois é chamado de volta à universidade, que se transformou em uma sucursal de uma mesquita, se coloca como uma ilha à parte de tudo o que está acontece. Dentro daquele microuniverso, François é o único que não se deixa “contaminar” pelo medo impingindo pelas novas formas de governo.

Houellebecq levanta questões simples a respeito da relação entre liberdade e fundamentalismo. Quanto mais se avança na leitura do livro, mais se percebe que o autor parece ter previsto o evento chocante da última semana. Agora, para ele, só resta continuar vivo.

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