Quando Gustave Flaubert (1821 – 1880) escreveu Madame Bovary (1859) a única coisa que tinha em mente era chocar. A história de uma mulher adúltera ainda era um baque para a sociedade – falsamente – conservadora e puritana da França. O livro, que iniciou o movimento realista, foi o alicerce para uma literatura combativa, que tentava se desvencilhar do dicótico banal da escola romântica.
As aventuras de Emma Bovary, uma filha de camponês que se entediava com a vida no campo e que, posteriormente, se enfastiará com a vida ao lado do marido, coloca uma pá de cal sobre o moralismo que a burguesia tentava aparentar. Os casos de Emma a transformam em uma professora de sexo sem que, necessariamente, Flaubert a coloque em um ato explícito – algo tão necessário em tempos de Cinquenta tons de cinza.
Ainda que o Marquês (1740 – 1814) de Sabe tenha vivido antes de Flauber, Emma Bovary foi a primeira professora de sexo da grande literatura – ou seja, uma obra que não precisava circular clandestinamente, escondida entre papéis avulsos. Emma também foi o pontapé para outras narrativas escandalizadoras como O Diabo no corpo (1923) do também francês Raymond Radiguet (1903 – 1923) e O Primo Basílio (1878), de Eça de Queirós (1845 – 1900).
Madame Bovary somos todos nós
O realismo com que Flaubert criou sua personagem foi espantoso. Inspirado pelo cotidiano, pelas ações do dia a dia, pelo caráter de toda uma era, o francês não foi poupado das críticas e até perseguido. Quando perguntado sobre quem era Madame Bovary, Flaubert não poderia ser mais certeiro: Madame Bovary sou eu, disse. Mas Emma está encarnada em todos nós.
A natureza de Flaubert (sua personalidade e gênio) fez com que fosse próximo de outros escritores fundamentais para compreender a literatura: Émile Zola (1840 – 1902) e Ivan Turgenev (1818 – 1883) que, graças ao seu livro Pais e filhos (1862), foi acusado de incitar a rebeldia na juventude russa.