A relação entre música e literatura está cada vez mais estrita: são clássicos que originam óperas; livros que se transformam em musicais; lendas folclóricas que migram para temas de acordes e escritores compulsivos que batem as teclas freneticamente com música ao fundo – uma música que penetra inconscientemente e desbrava a prosa e a poesia de um grupo: os beats.
Muito mais que as drogas, o café e as experiências, o jazz foi o combustível para que Jack Kerouac (1922 – 1969), Allen Ginsberg (1926 – 1997) e William S. Burroughs (1914 – 1997) comporem as principais obras de uma geração marcada pela prosa espontânea e pelo retrato fiel de subculturas das grandes metrópoles. Kerouac escreveu “On the road” (1957), “Os Subterrâneos” (1958) e “Big Sur” (1962) em seguidas horas ao som do movimento musical surgido em Nova Orleans no começo do século passado e que servia como válvula de espace para os negros.
A grande semelhança entre o jazz e a literatura beat é a improvisação: ambos se valem de movimentos inesperados para compor um número. No entanto, o começo da simbiose entre o jazz e a literatura aconteceu na década de 1920, com F. Scott Fitzgerald (1896 – 1940) e o seu clássico “O Grande Gatsby” (1925), um romance vertiginoso sobre a Era do Jazz. A obsessão de Fitzgerald pelo jazz era tanta que ele escreveu “Seis contos da era do jazz” (1922), coleção de pequenas histórias que tem a música como pano de fundo.
Antes do final da Segundo Guerra Mundial (1939 – 1945), o jazz já havia se instituído como gênero predileto da juventude intelectualizada, ganhando cada vez mais espaço nos locais destinados ao encontrado da nata literária da sociedade. Um retrato interessante desse processo está no filme “Meia–noite em Paris” (2011), de Woody Allen, um apaixonado por literatura e pelo jazz.
Quando a música de Miles Davis (1926 – 1991), John Coltrane (1926 – 1967) e Charlie Parker (1920 – 1950) ultrapassou a fronteira dos Estados Unidos – e já havia tomado lugar no Europa -, a música começou a ganhar adeptos literários nos lugares mais inesperados. O escritor argentino Júlio Cortázar (1914 – 1984) escreveu o conto “O Perseguidor” (1959) inspirado na conturbada vida de Parker. O personagem Johnny Carter é um saxofonista que, literalmente, brinca com a morte indo da lucidez do mundo real à inebriante e confusa magia provocada pelo amálgama entre jazz e drogas. Para Cortázar, esse texto marca o “fato humano essencial”.
Já no Brasil, o escritor gaúcho Luís Fernando Veríssimo é amplamente influenciado pelo jazz em sua literatura, além de ser saxofonista no grupo Jazz 6, o “menor sexteto do mundo”, já que tem cinco integrantes.