Muito antes de Tolkien (1891-1973) e o seu Senhor dos Anéis (1954) e George R. R. Martin com As Crônicas de Gelo e Fogo (1996), um escritor argentino se dedicava à literatura fantástica, se apropriando da mitologia grega e também inventando as suas próprias mitologias. Jorge Luiz Borges (1899-1986) era obcecado por literatura e um leitor inveterado de enciclopédias, por isso, muitos de seus contos se baseavam em suas ‘viagens’ pela Britânica – em suas mais diversas edições.
Borges, ao contrário de Tolkien e Martin, não precisava criar terras mágicas, guerreiros e afins, o autor de O Aleph (1949) e Ficções (1941) usava elementos comuns a todos para redescobrir o universo, como a biblioteca que possui todos os livros do mundo do conto A Biblioteca de Babel. Sujeito tímido, Borges foi ficando cego ao longo dos anos, no entanto, isso não impediu que ele continuasse a criar. Há quem diga que a escuridão o ajudou a enxergar melhor a alma das histórias que podia contar.
Com uma obra vasta e intensa, indo da poesia ao ensaio, é difícil aconselhar alguém a ler um único volume de Borges. Além dos dois livros já citados, é interessante ter em mãos Nova Antologia pessoal (1968), um compêndio com contos, poesia e ensaios. Quem quiser compreender a vida do escritor, recomendo Borges, Uma vida (2011), de Edwin Williamson.