Crítica: “Sete bons anos”, de Etdar Keret

A morte do pai e o nascimento do filho fizeram o escritor israelense Etgar Keret repensar suas relações com a família, a dicotomia vida & morte e, claro, a sua própria produção literária. Conhecido pela sua prosa bem humorada, o escritor acaba de lançar no Brasil Sete bons anos (Rocco, 192 págs., R$ 24,90), um verdadeiro acerto de contas entre passado, presente e futuro.

O nome do livro se refere ao intervalo de 2005 e 2012, justamente as datas em que o filho veio ao mundo e o pai se foi. A tentativa de dinamizar as emoções, conciliar alegria e tristeza (o pai morreu após uma longa luta contra o câncer) e ainda assim ser um escritor deram a Keret uma nova perspectiva.

O também israelense David Grossmann já fez o mesmo. Seu livro Fora do tempo lida com a experiência do luto – ele perdeu o filho, sargento do Exército de Israel, em 2011, pouco antes de o conflito com o Líbano terminar. Ainda que as situações entre os conterrâneos sejam parecidas, não são similares, mas evocam a mesma necessidade de equalizar a dor para seguir em frente.

Os textos de Sete bons anos reforçam a capacidade de Keret em compor narrativas que se embrenham em si mesmas, mas carregam também uma fluência cabal. As descrições deixam que os leitores criem imagens, projetem em suas mentes aquilo que é narrado e assim o livro ganha vida e, portanto, permite que se vivencie a felicidade e a amargura. As emoções estão à frente de cada linha escrita.

Como os longas Amor – de Michael Heneke – ou Hanami  – de Doris Dörrie -, Sete bons anos é uma anatomia da perda, uma diário da ausência, mas funciona também como um elogio à esperança. Basta escolher um ponto de vista.

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