“Sexo compra dinheiro e companhia, mas nunca amor e amizade.” A frase de Renato Russo na canção “La Maison Dieu” nunca fez tanto sentido quanto no livro Sem tetas não há paraíso (Record, 308 págs., R$ 45), de Gustavo Bolívar Moreno, um retrato cruel e fiel da relação entre as jovens de Pereira, região periférica da Colômbia, e os traficantes de drogas. E qual a principal moeda de troca nesse esquema? O corpo – os seios, para ser mais exato.
Catalina é uma adolescente do subúrbio e que sonha subir na vida, mas seus sonhos passam pelos degraus do crime e ela precisa o mais rápido possível encontrar um namorado – ou amante ou alguém simplesmente a bangue – dentro do tráfico de drogas. Mas para chamar a atenção dos figurões é preciso ter peitos grandes.
Catalina se espelha na amiga e aprendiz de cafetina Yésica, que lhe ensina as manhas para chegar ao submundo. Aos poucos, a jovem deseja a prótese de silicone, mas não tem dinheiro para pagar a cirurgia. Desiludida, ela precisa se aproximar dos chefes de milícias para conseguir custear a sua ‘reforma íntima’, mas sem peitos que chamem a atenção é praticamente impossível.
Realidade
Sem tetas não há paraíso é um retrato doloroso, capaz de emocionar por permitir a reflexão de que o que acontece em Pereira com Catalina poderia acontecer em qualquer subúrbio brasileiro. A trajetória das meninas envolvidas com o tráfico é degradante, mas a expectativa para os traficantes também não é das melhores e assim Moreno cria um prisma do que acontece sob os nossos olhos e não vemos.
A obra também está disponível no Brasil em uma série do Netflix com o título original Sin tetas no hay paraíso.