Crítica: “Primavera de cão”, de Patrick Modiano

A escrita de Patrick Modiano é arte da memória. Os anos que a França – em especial Paris – esteve sob o domínio nazista são a principal matéria-prima em Primavera de Cão (Record, 110 págs., R$ 25). O tema é caro ao autor e serve como uma ferida precisa ser remetida para não ser esquecida.

A vida do fotógrafo Francis Jansen, amigo de Robert Capa, é o estopim para uma vertigem histórica. Ao encontrar um jovem casal, que lhe serve de modelo, Jansen faz do rapaz seu assistente e admirador. Modiano recria a juventude libertina dos anos 60, como se víssemos um filme da nouvelle vague – principalmente Todos os rapazes se chamam Patrick (1957), curta de Godard.

Modiano escreve sempre o mesmo romance, mas cada livro seu é uma face deste prisma. Os anos subjugados da França são uma obsessão, como disse, mas são o alimente de uma fornalha que ainda há muito que arder.

Há sempre uma confusão temporal e existe sempre uma perseguição pela identidade ou paradeiro de alguém. Modiano é o escritor das buscas, da procura e da recusa.

Quem lê Flores da ruína, Uma rua de Roma ou até Filomena firmeza está lendo sobre a guerra. Ao contrário do caráter humanístico é realista de Martin Amis em A Zona de interesse, Modiano é mais doloroso e pungente, tentando capturar o leitor pela emoção.

Ponto de fuga

Primavera de Cão é também sobre fugas. Seja Jansen que precisa fugir de um mímico ciumento – que descobriu o caso de sua delicada esposa com o fotógrafo fanfarrão -, seja o próprio Francis Jansen que precisa deixar a França que o acolheu por medo do passado lhe revirar o presente.

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