Viver rápido para morrer jovem. A frase de James Dean, falecido aos 24 anos, é a melhor epígrafe para o hall de ídolos mortos aos 27 anos. E aí, entra Jimi Hendrix (1942 – 1970). Assim como Dean, Hendrix viveu meteoricamente e se transformou em um mito, sendo considerado até hoje um dos maiores guitarristas de todos os tempos. Suas memórias foram resgatadas recentemente pelo cineasta Peter Neal que, junto com Alan Douglas, organizou uma espécie de autobiografia do músico: Jimi Hendrix por ele mesmo (Zahar, 216 págs., R$ 24,90).
A faceta de Jimi como escritor, à primeira impressão, pode intrigar, mas a desconfiança é puro preconceito ou sentimentalismo barato, pautado – principalmente – pela imagem do artista como um eximio guitarrista e nada mais. Mas o que se vê é um homem compulsivo em contar a sua própria história sem deixar de lado os dramas familiares ou as situações hilárias. Os textos foram escritos pouco a pouco – em ocasiões esparsas – em blocos de anotações, papéis avulsos e guardanapos.
Hendrix veio de um casamento conturbado e isso talvez explique o seu gênio indócil. “Para muitos garotos as coisas não são fáceis”, justifica. A morte da mãe, quando ele tinha 16 anos; a vida nas ruas e a sua exímia habilidade em tocar guitarra são os elementos que ajudaram a cunhá-lo como homem e como músico. Jimi sempre gostou de estar nas alturas: fosse pelo consumo de drogas – que viriam a matá-lo -, a dimensão que tinha no palco ou a tentativa de ser paraquedista do exército norte-americano.
Por sinal, a baixa militar de Hendrix, que inicialmente foi recebida como uma desonra, se transformou em alívio quando percebeu que havia escapado da Guerra do Vietnã (1955 – 1975). Esse foi o pontapé para que Jimi buscasse a música como profissão.
Você tem experiência?
Anos antes de formar o Jimi Hendrix Experience com Noel Redding e Mitch Mitchell, ele se aventurou “tocando para os outros”. Um de seus patrões foi Little Richard. Segundo o próprio Hendrix, a experiência foi desastrosa. “Todo mundo que trabalhava com ele sofria uma lavagem cerebral”, escreveu. Além das brigas por dinheiro, Richard exigia que nenhum de seus músicos fosse mais extravagante que ele no palco. Jimi era.
As pedras no sapato só começaram a ser lapidadas quando o grupo com Redding e Mitchell foi formado. Ironicamente, os dois eram ingleses – o que ajudou a banda a conseguir uma turnê melhor que a feita pelos Estados Unidos. Em 1967, um ano depois do nascimento do trio, saiu o primeiro e mais icônico trabalho do conjunto: Are you experienced? O álbum chegou e foi alçado à segunda posição das paradas, ficando atrás apenas do Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, dos Beatles.
O caminho traçado por Jimi Hendrix chegaria ao auge no festival de Monterey, em 1967, quando queimou uma guitarra no palco e incendiou o público. Naquela época, ele já tinha uma imagem consolidade, mas queria eternizada pela morte prematura em 18 de setembro de 1970, quando foi encontrado inconsciente na banheira de um hotel – o que aconteceu com Jim Morrison, Amy Winehouse e Janis Joplin.