A vida de Sylvia Plath (1932 – 1963) foi um verdadeiro relâmpago (ou seria furacão). Morta aos 30 anos, após colocar a cabeça dentro do forno e ligar o gás, a poeta norte-americana se transformou em uma das musas da literatura mundial. Não é à toa que sua biografia mais recente, Ísis americana: a vida e a arte de Sylvia Plath (Bertrand Brasil, 392 págs., R$ 55), de Carl Rollyson, a compare à atriz Marilyn Monroe.
Aficionada pela compatriota, Plath teve uma vida tão tempestuosa quanto. A relação de amor e ódio com os pais, estupro – que sofreu pouco depois da adolescência -, o casamento fracassado – por conta de uma traição do marido, o poeta Ted Hughes (1930 – 1998) -, tudo isso contribuiu para criar uma mulher atormentada e emocionalmente vulnerável, que encontrava na literatura a sua única fuga.
Apesar do talento, Sylvia queria ser uma romancista popular, do tipo que escrevia para as massas. Não conseguiu. Era inteligente demais – ou ingênua o suficiente – para não escrever de uma forma a acalentar os desejos de mulheres que, assim como ela, viviam entre a cruz e a espada. Submissa a Hughes, Sylvia foi agredida pelo marido adúltero, tentou salvar a família do colapso causado pela indiscrição matrimonial do poeta, mas só teve sucesso em calar suas angústias com o suicídio.
Para Rollyson, a fragilidade de Plath está clara nos poemas de Ariel – publicado pouco antes de morrer – e em A Redoma de vidro, o único romance da escritora – que havia se dedicado ao conto e conseguido publicar textos que depois se transformariam na coletânea Johnny Panic and the bible of dreams.
Relações perigosas
Esther Greenwood, personagem de A Redoma de vidro, é a própria autora. Muitos dos personagens também são pessoas que faziam parte da vida de Sylvia, por isso, de acordo com o biógrafo, a publicação do livro causou certo embaraço, inclusive com Aurelia Plath, mãe de Sylvia.
Aurelia e Ted sempre brigaram – ou seria: mediram forças? – pelo espólio da escritora. Não, necessariamente, pelo dinheiro, mas pelos laços emocionais. O conflito é ainda maior se colocarmos no jogo Olwyn, a “cunhada-megera” de Sylvia. Olwyn funcionava como um bloqueio entre Ted e a esposa, criando momentos que ninguém mereceria.
Após a traição de Ted com Assia Wevill (1927 – 1969), esposa de um amigo do casal, Olwyn permaneceu ao lado do irmão na tentativa de afastá-lo da mulher. A consequência macabra foi que Assia se matou de forma semelhante a Sylvia, no entanto, levou consigo a filha de apenas 4 anos. A garota era filha de Ted.
Vida e morte
Rollyson não poupa a biografada da responsabilidade pela sua própria morte. Ao contrário do que pensam muitos fãs de Sylvia, a culpa não recai sobre Ted. (O sobrenome Hughes aparece na lápide de Sylvia, mas é constantemente retirado pelos leitores fieis.) O autor cria uma teia de possibilidades – que não chegam a ser uma teoria – e revela a personalidade enfraquecida de Plath.
Ao contrário do que Janet Malcon fez em A Mulher calada, Rollyson demonstra que, apesar da condescendência quando o assunto era o marido, Sylvia não pensaria duas vezes antes de manipular pessoas ou tentar agradá-las. Para ela, ser rejeitada era estar morta.