O canadense David Cronenberg, conhecido por seus filmes que misturam doses cavalares de humor negro, violência e situações – literalmente – kafkianas, usou a mesma fórmula em seu debut literário, Consumidos, lançado mês passado pela Alfaguara. O frenesi de um casal de jornalistas sensacionalistas – e obcecados por tecnologia – para revelar o mistério do assassinato de uma filósofa francesas é o pontapé inicial do livro.
Lentamente, Cronenberg imprime em Consumidos o ritmo frenético de seus filmes. Elementos bizarros, como o autocanibalismo e os maneirismos sexuais de um casal de intelectuais – uma versão apocalíptica de Sartre e Simone de Beauvoir -, dão o tom tão característico do autor, que explora o estranho em longas como Videodrome, A Mosca e M. Buttefly.
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O livro levou sete anos para ficar pronto e é o resultado de uma encomenda, mas ao contrário do que isso possa insinuar, a narrativa é um exemplo de lapidação artística, em que a estética é levada pelo ao autor a pontos máximos, justificáveis pelo único motivo capaz de permitir as ousadias de Cronenberg: a história.
Mistério
Dizer que o livro é baseado no mistério – ou suspense, ou thriller, ou chame como quiser – é um erro. Primeiro que, a certo ponto, tudo é revelado e depois, o interessante é ver como o cineasta/escritor conduz o leitor pelos becos escuros dos seus textos. É o mesmo artificio usado, por exemplo, por Ian McEwan.
A atmosfera beira o onírico. Mas um homem de 71 anos como Cronenberg ainda pode fantasiar situações tão mórbidas como o que ele faz em Consumidos? A resposta está na última página do livro.