O interesse pela vida vida alheia tem feito com que biografias praticamente se materializassem nas prateleiras de livrarias. Não interessa se o biografado é uma subcelebridade, recém-saída de um reality show, ou se existe realmente uma história para contar. Esse “fenômeno” fez do Brasil um celeiro para outro nicho de biografias: a de artistas do rock.

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Lembro bem que a primeira vez que li um biografia foi aos 13 anos e a experiência foi fundamental para minha formação musical – e literária. O meu interesse por Legião Urbana só crescia e, em uma época em que internet só era possível no final de semana, não demorei para colocar minhas mãos em Renato Russo: o trovador solitário, escrita pelo jornalista Arthur Dapieve, um dos pilares dos relatos do rock brasileiro na década de 1980. Mas isso foi no começo dos anos 2000 e a avalanche de livros sobre astros do rock demoraria ainda quase 10 anos para acontecer.

Mercado

A percepção dos livreiros e das editoras de que o brasileiro estava sedento por esse tipo de conteúdo se deu, basicamente, duas apostas muito distintas. A primeira foi Vida, escrita por Keith Richards, como sendo um relato fiel das aventuras do guitarrista do Rolling Stones pela vida nada convencional de um cara que chega a cheirar as cinzas do próprio pai à procura de novas sensações alucinógenas.

No rastro de veio Eu sou Ozzy, uma parceria do vocalista do Black Sabbath com o jornalista Chris Ayres, que, como é de se esperar, não pretende a mesma reflexão que a vida de Richards. Ambos os livros foram sucesso e estiveram entre os mais vendidos no mundo todo, deixando claro que existia um nicho a ser amplamente expolorado. E assim foi.

Em 2010 também foi lançada no Brasil Bowie, a biografia, do ex-editor da Spin, Marc Spitz que, apesar de ser ricamente ilustrada com detalhes da vida do Camaleão inglês, mais parece um relato apaixonado de fã. Ainda assim, lembro de ler as primeiras páginas dentro do ônibus e, literalmente, devorar o livro em poucas horas.

De lá para cá, toda banda que se preze tem uma biografia a seu respeito. Isso significa que existe a preocupação em perpetuar entre a nossa gente a história do rock? Não, isso significa que tem gente disposta a pagar por livros de qualidade duvidosa. O cadáver de Amy Winehouse (1983 – 2011) nem tinha começado a apodrecer e várias biografias já estavam disponíveis nas livrarias brasileiras, ou seja, as editoras tinham comprado de forma relâmpago os direitos, alguém traduziu as obras em uma velocidade impressionante e eis que os fãs ávidos por informação despostavam entre os vendedores para gastar seu rico dinheiro em algo não tão bem feito assim.

Qualidade

Ao meu ver, qualidade é um requisito básico em qualquer livro, seja ele literário, biográfico, histórico ou jornalístico. Na minha humilde concepção existem duas biografias que deveria seguir como regra para qualquer candidato a biografia. A primeira não é de rock, mas vou citar porque é fruto de 12 anos de pesquisa e trabalho árduo. Escrita pelo professor e pesquisador Edwin Williamson, Borges: uma vida, lançada por aqui em 2011, não só reconta a história do maior escritor latino-americano como também revisita a história argentina.

The Smiths: a light thar never goes out, de Tony Fletcher, acabou de sair no Brasil, e já figura entre as melhores biografias que li. Tão impressionante quanto a saga do quarteto de Manchester, é a forma como o autor explora os fatores sociais e históricos que permitiram que o grupo se unisse. Em outras palavras, Fletcher não buscou apenas os fatos que poderiam construir o que foram os cinco anos em os Smiths estiveram juntos, mas escavou até encontrar as raízes da cidade inglesa e sua importância para a Revolução Industrial.

O que espero que tenha  fica claro com os dois exemplos é muito simples: não interessa quantas biografias sobre um artista temos a nossa disposição, mas qual o compromisso do autor com a fidelidade dos fatos, ou seja, nada escrito em duas semanas pode cheg,ar perto daquilo que foi verdadeiramente pesquisado

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