Homenageado da Feira Literária Internacional de Paraty (Flip) deste ano, o escritor modernista Mário de Andrade (1893 – 1945) é uma das figuras culturais mais importantes do Brasil. Mário participou ativamente da Semana de Arte Moderna de 1922 e publicou no mesmo ano o clássico Pauliceia desvairada – uma análise poética sobre os costumes da cidade de São Paulo (é deste livro o poema “Ode ao burguês).
Amigo de gente com Oswald de Andrade (1890 -1954) e Manuel Bandeira (1886 – 1968), Mário se tornou uma figura controversa no mesmo ritmo em que se transmutou em intelectual influente. Seus escritos vão desde textos literários até ensaios sobre música contemporânea e o rádio. Pouco antes de morrer, o escritor comentava sobre a necessidade de o rádio se aproximar do povo, falar como o povo. Na época, essa investida soou mal, o rádio era sisudo e os locutores tinha “vozeirão”.
Por mais que tenha rompido sua amizade com Oswald – por um motivo nunca esclarecido -, Mário de Andrade foi fiel a Bandeira até o fim de sua vida. Por sinal, é para o amigo “Manu” que escreveu a polêmica carta em que comentava sobre a sua “tão falada” homossexualidade. Oswald chegou a dizer que Mário “parecia o Oscar Wilde detrás”. Para Antonio Cândido, Mário seria uma “bissexual complicado”.
Com apena suma única música composta, “Viola quebrada”, em parceria com Mário com Ary Kerner, o escritor estudo a fundo a música brasileira e compôs cenários interessantes e importantes a respeito. A antropóloga Santuza Cambraia Naves dedica alguns ensaios de A Canção brasileira aos estudos e influências de Mário no panorama musical tupiniquim.
O adeus
Ainda que as relações entre Oswald e Mário tivessem terminado, conta-se que, ao saber da morte do ex-amigo, o autor de Serafim Ponte Grande, chorou copiosamente. Esquecido por anos, Mário voltou à tona neste ano e com ele suas obras – das quais se destacam Macunaíma (1928), A Escrava que não é Isaura (1925) e Amar, verbo intransitivo (1927) – que são uma espécie de réquiem da nossa literatura.