A literatura e a morte

E nessa semana, mais um escritor se vai. Ariano Suassuna conseguia mostrar toda a sua erudição sendo extremamente popular. Nos últimos anos o autor se dedicava a um único livro, que não chegou a ficar pronto. Suassuna chegou a declarar que havia feito um pacto com Deus para que pudesse terminar a obra, uma espécie de Ulysses (de James Joyce) do sertão.

Mas o paraibano era algo muito maior que isso. Cheio de humor e sarcasmo, ele fazia de suas aulas um circo literário, não por bagunça, mas pelo encanto e diversão que proporcionava a quem as assistia. Suas duas obras mais conhecidas, O Auto da Compadecida e O Santo e a Porca, se consagraram no imaginário popular – a primeira ganhou adaptação cinematográfica e a segunda foi transformada em minissérie.

Todas as pompas que o sucesso poderia trazer não fazia parte de gênio de Suassuna, mesmo sendo ele filho de família rica e tradicional da Paraíba. Ele nunca precisou usar da influência de seu sobrenome para forjar um autor. Bastava olhar os olhos daquele homem e perceber a simplicidade ali encerrada.

A morte de Ariano Suassuna é, antes de tudo, uma perda para a cultura brasileira, e choca pela terrível coincidência que se abateu sobre as letras neste mês – e também neste ano. O corpo vai. A alma, eu não sei, mas a obra, essa fica – com certeza.

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