Karl Ove Knausgård é, talvez, o maior fenômeno literário dos últimos anos. O escritor norueguês de 46 anos era um pleno desconhecido até se embrenhar na série que conta a sua própria vida e se chama (lá vem polêmica) “Minha luta”. Comparado, até de forma alucinatória, ao francês Marcel Proust (1871 – 1922), que contou seus dias nos volumes de Em Busca do tempo perdido, Knausgård criou controvérsia por usar em sua série o mesmo nome que Hitler colocou em seu “manifesto” nazista.
Dos seis livros previstos para serem publicados, o Brasil acaba de receber o terceiro A Ilha da infância (Companhia das Letras, 44 págs., R$ 54,90). A Morte do pai, o primeiro volume, saiu por aqui em 2013, Um outro amor, foi lançado no ano passado. Os pequenos incômodos e os arroubos puritanos se dissiparam no mesmo frêmito em que Knausgård via seus livros sendo bem recebidos.
Lançando mão de uma vida comum, sem grandes triunfos e um pingo de “gente como a gente”, o escritor criar uma imagem de cinema em sua literatura, permitindo uma relação íntima com o leitor. As memórias são, ao mesmo tempo, o meio e o fim. Em A Morte do pai, Knausgård fala dos seus medos (água, escuro, um cão, os vizinhos e pai) e coloca sobre a mesa as cartas dessas tais fobias, como se – ao se expor – elas fosse derretidas no fogo da vergonha.
Hit
Não é novidade que a série é um sucesso. Não chega às listas de mais vendidos, mas como Luiz Schwarcz, fundador e editora da Companhia das Letras, gosta de dizer: uma editora não precisa de fenômenos de vendas. Lá fora, a situação é um pouco diferente: os livros do norueguês emplacam nas “paradas” e existe algo muito semelhante a um fã clube organizado pelos leitores mais vorazes. É, quem sabe, uma situação que aconteça também com Haruki Murakami.
Ainda assim, é impossível negar a força de alguém que, após fracassos retumbantes na literatura, consiga explorar sua própria vida – que nada tem de extraordinário – em calhamaços que, se somados, terão mais de 3,5 mil páginas. Esse é o poder das palavras.