Haruki Murakami é um símbolo à parte da literatura. O escritor japonês consegue – ao mesmo tempo – estar no topo dos mais vendidos e ainda ser aclamado pela crítica – cada vez mais peçonhenta e polarizada. Seus livros nunca são fáceis: brincam com a realidade e o imaginário, alinhando o cotidiano ao onírico. A trilogia 1Q84 e Kafka à beira-mar são duas boas referências para entrar no estranho universo de Murakami. Mas vamos além.
Pouco conhecido no Brasil, o japonês tem recebido cada vez mais atenção por aqui, mas ainda estamos atrasados e seus livros são publicados aos poucos, em dose de conta gotas. Colorless Tsukuru Tazaki and His Years of Pilgrimage, seu livro mais recente, ainda não tem nem previsão de publicação em terras tupiniquins. Por enquanto, a Alfaguara promove Caçando carneiros, obra de 1982, anteriormente lançada pela Estação Liberdade.
Joca Reners Terron, em uma resenha para a Folha sobre um dos volumes de 1Q84, destratou a obra e o autor. Disse que a narrativa produzida por Murakami está longe de ser literatura. Bem, gosto do Terron e gosto do Murakami, mas tenho que discordar e nem vou me meter nesse assunto. Essa opinião sobre o japonês levanta a questão de que, só é “alta literatura” aquilo que se vende às mínguas? Tudo o que está entre os “10 mais” é chulo e vulgar?
Essa noção é estúpida. (Claro, não defendo nomes como Sidney Sheldon e afins, mas Murakami está em outro nível.) Negar a genialidade de autores como Murakami, McEwan, Franzen, Roth e Auster é colocar em xeque o bom senso e ficar estacionando no lugar comum da mediocridade. Não gostar é uma coisa – e é válida, permitindo o debate (como este) –, mas imprimir a noção que o trabalho lapidado de Murakami rasteja na sarjeta literária é uma bobagem.