Se não ocorrer mais episódios relevantes para a virada da Bélgica sobre o Japão, essa Copa do Mundo não vai conseguir desviar-se do caminho que tomou: o de ser uma Copa que fez o futebol como jogo de variações táticas e do talento individual, retroceder 10 anos.

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As únicas que têm uma ideia que poderiam, em definitivo, tornar-se universal já foram embora: a Espanha, levou o mesmo sentido de jogo que só foi possível com aquele time que Casillas, Puyol, Xavi e Xabi Alonso, e Alemanha, porque está renovando o grande time de 2014, foram à Rússia mantendo o jogo que toma conta dos espaços com o passe em sentido vertical.

De resto, se há alguma idéia que marque, até agora não foi exposta.

O Brasil continua caminhando sobre águas. Embora não tenha padronizado em definitivo o seu jogo, não se pode afirmar que tenha alguma nova proposta ou pelo menos uma ideia.

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Matéria cansativa é essa, eu sei. Não gosto, mas o que fazer?

Dizem que com a adoção de ex-jogadores como comentaristas, as transmissões dos jogos tornaram-se chatas. Concordo, porque aprendi há tempo, lendo Nelson Rodrigues, que futebol se analisa com a alma e não com números.

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Mas, ainda, há consolo. Leiam, parte do que o notável jornalista Fábio Altman, do site e da revista Veja, escreveu depois de ver o quadro “A Volta do Filho Pródigo”, de Rembrandt, no Museu Hermitage em São Petersburgo.

“Dói ver o filho de joelhos, de costas, arrependido por ter dilapidado o dinheiro da família, tendo as mãos do pai como único consolo. É uma das coisas mais bonitas que o ser humano já fez, algo assim como drible de corpo de Pelé no goleiro uruguaio Mazurkievski, ou o chute de Pelé do meio de campo contra o goleiro tcheco Viktor, ou a cabeçada de Pelé para a defesa de Banks, todos os três na Copa de 1970. Mas o que tem a ver o Rembrandt do Hermitage com a Copa do Mundo da Rússia? Tudo, porque não dá para viver só de gols, de pênaltis, de cabelo à miojo ou de VAR. A Volta do Filho Pródigo é necessária. É uma dessas telas pelas quais, como os gols de Pelé “o difícil, o extraordinário, não é fazer mil gols, como Pelé; é fazer um gol como Pelé”, escreveu Carlos Drummond de Andrade, não há outra igual”.

Quando pensamos, que em um dado momento da vida, nossos sentimentos já cansados, estão em repouso, volta Fábio Altman com uma sensibilidade de Rembrandt, Pelé e Carlos Drummond de Andrade, para provocar nossas emoções.