Tempos passados

Às vezes tenho saudades do tempo que era ato sagrado passar pelo Atlético antes de vir para casa. Era um vício que me rearmava de amor e de ideal. Passava dos limites da função de repórter. E virava palpiteiro de time e de esquema de jogo.

Lembrei desses tempos não que as saudades provocam vontade. Se aquele tempo fosse hoje, com as circunstâncias atuais, iria sugerir ao grandioso Autuori que o Atlético jogue contra o Santos da maneira que jogou contra o Grêmio em Porto Alegre. Não é hora de jogar bonito trocando bola pelos lados. É hora de jogar bonito com o corpo e com a alma, pois é hora de ganhar fora da Baixada. Não se deve dar tratamento obrigatório à vitória, mas a um resultado que não seja derrota. É que o Santos é concorrente direto do Furacão para o G4. E na concorrência direta há desequilíbrio mais na derrota do que na vitória.
Se fosse naquele tempo, daria um palpite: o menino Matheus Rossetto teria que ficar no time. A sua visão de jogo, que alcança todo o campo, dá-lhe uma capacidade de movimentação que arruma qualquer situação.

Código

Não posso negar. Já tinha visto o último capítulo de “Narcos” (magistral a direção de José Padilha), não estava interessado de ver jogo da Copa do Brasil (quando não há motivo para torcer a favor ou contra, me desinteressa), fui dormir. Não posso negar, ainda, mais: esqueci do jogo do Coritiba em Córdoba contra o Belgrano. Não por desprezo, mas porque às vezes esquecemos de um fato quando ele é previsível. E se o jogo estivesse em casa de aposta, era dez por um. Um apenas apostaria nos coxas.

Na madrugada, quando o sono pede um intervalo, vi uma ligação perdida. Era de Fabiano, o filho do meio de Carpegiani. A curiosidade me levou para o site da Tribuna e estava lá em verde e branco: “Histórico! Nos pênaltis, Coritiba avança na Copa Sul Americana”. Entre as minhas poucas virtudes é a de ter uma indiferença pacífica.

Mas confesso que houve tumulto no segundo tempo do sono. Como ganhou? É que pelos detalhes do jogo, Carpegiani virou o Coritiba ao avesso para ganhar e se classificar nos pênaltis. Um time com três zagueiros e quatro atacantes é inusitado. E aí é que vem uma grande dúvida: será que o lado bom do time dos coxas é o lado avesso?

De repente Carpegiani descobriu o código do milagre.

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