Tábua de salvação

Bem no passado, o campeão estadual era quem representava o Paraná no Brasileiro. Em 1972, por ter perdido o título para o Coritiba, o Atlético teve que desmanchar um dos seus melhores times da história, emprestando seus grandes jogadores. Sérgio Lopes foi jogar na Portuguesa de Desportos, Alfredo Gottardi, no São Paulo, e Sicupira, no Corinthians. Então eu, um torcedor na miséria, passei a torcer por ídolos e não por time.

Um jogo histórico daquele Brasileiro foi Coritiba e Corinthians, no Couto Pereira. O “Timão” tinha Rivelino, mas foi Sicupira que fez os atleticanos se vestirem de corintianos, tomando boa parte do Couto Pereira. Final: Corinthians 1×0 Coritiba. Detalhe: Sicupira cobrou uma falta pela esquerda do gol da Igreja, e Marco Antônio, um ponta esquerda pequeno e arisco, fez o gol. Era um tempo em que eu lavava a alma com a tábua dos outros.

Lembrei desse fato porque Coritiba e Corinthians jogam no Couto Pereira. Como treinador, as grandes vitórias de Paulo Cesar Carpegiani foram em jogos especiais. É porque Carpegiani, por não ser conservador, busca criar opções para compensar a falta de grandes jogadores, o que é comum no futebol brasileiro. Daí, às vezes, acontecem vitórias com números improváveis. Como aquela no jogo contra o Grêmio.

Se hoje fosse um torcedor carente, a minha tábua estaria no terreno do vizinho.
Um grande jogo no Couto.

Desafio

Se não bastasse a excelência do seu trabalho, que faz um time pouco razoável competir em um campeonato difícil, enfrenta todas as pendências com transparência. Sempre que ouço uma entrevista de Paulo Autuori, mais o respeito. Provocado para falar sobre as chances do Furacão de ganhar uma vaga para a Libertadores, Autuori respondeu: “Não vendo ilusões”.

A frase do treinador não se encerra no seu efeito poético, mas numa verdade que o hoje o futebol não permite um profissional honesto esconder. Autuori quis apenas manifestar a mesma dúvida que a torcida carrega, em razão, a abstinência de vitórias do Atlético em jogos fora da Baixada.

Nesse jogo contra o Santa Cruz, em Recife, o Atlético tem que decidir o que quer na vida: ganhar e reconquistar a torcida como time competitivo ou continuar iludindo com vitórias só na Baixada e fazendo o papel da diretoria?

O jogador, também, sente constrangimento com situações como essa do Atlético não vencer fora da Baixada. Presumo que seu time finalmente esteja sob o domínio desse sentimento, que no caso, confunde-se com a vergonha.

A partir daí, o Atlético não surpreenderá se vencer o Santa Cruz, que a cada rodada se assanha com o rebaixamento.