Sonhando no estúdio

O cartola profissional Mario Celso Petraglia é mesmo um fenômeno de mídia.

Nessa época de bola parada e de mercado especulativo consegue criar fatos jornalísticos. Um dia desses, à caminho de casa, com o rádio do carro sintonizado na Transamérica, ouço o doutor tratando do futuro da direção de futebol do clube.

Fala, aí, doutor: “Nós não queremos mais o cargo de diretor de futebol no Atlético. E a princípio será o Mario Celso Petraglia. O perfil sou eu. Eu sou o maior entendedor de futebol. Eu sou o melhor administrador de empresa. Eu sou o melhor administrador de dinheiro. Eu sou um executivo de alto nível. Eu vou acumular temporariamente o cargo como diretor geral, além da posição de presidente do Deliberativo”.

Saudoso dos meus tempos de debates no rádio, pensei comigo “Ah! se eu estivesse ali no estúdio e pudesse debater com Mario Celso Petraglia”. Se ele não estivesse ironizando os ingênuos debatedores e nós ouvintes, seria um debate sério e de nível, não sei se alto ou baixo.

A primeira pergunta: “o que é ser um bom administrador de dinheiro?”.

Lembraria Petraglia de que o princípio básico do trato com dinheiro público foi criado pelo escocês Adam Smith ,em A Riqueza das Nações: “não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro, ou do padeiro que esperamos o nosso jantar. O que compramos temos que pagar.” Mas, o doutor poderia contestar e dizer que “esse Adam não sabia nada”, e eu que não entendo de economia, não teria argumentos para contestar.

O ponto sobre “melhor administrador de dinheiro” é absorvido pelo ponto sobre a afirmação de ser “o maior administrador de empresa”.

Contestaria com fatos: “A INEPAR, da qual Petraglia era o diretor financeiro (gostava de uma debenture), que foi o exemplo de liquidez no Brasil, está em recuperação judicial e, os seus maiores acionistas, entre eles, o doutor, foram suspensos pela Comissão de Valores Mobiliários por crimes contra o sistema financeiro nacional, inclusive por lesar os coitadinhos sócios minoritários. E o Clube Atlético, no qual Petraglia fiscaliza todo o dinheiro que entra e sai, está com todo o seu patrimônio indisponível, e como ele próprio afirmou no programa “com forte risco de ir à leilão”. E, a sua torcida, que é a maior do Paraná, termina o ano batendo recordes negativos de presença na Baixada.

E debateria o fato de se apresentar como o “melhor entendedor de futebol”. Aí não é a minha opinião, mas são os fatos: desde 1995, quando assumiu, não ganhou um único título relevante. Quando o Furacão foi campeão do Brasil em 2001, o doutor, com medo de ser pego pelo deputado doutor Rosinha, estava discreto no clube, porque não queria se expor em razão da CPI do Futebol. Quem tocou o futebol e levou o Furacão ao título brasileiro foram Ademir Adur, Enio Fornea, Samir Haidar, Antonio Carleto, Marcos Coelho e Geninho.

Só esse ano de 2017, por ser uma “autoridade em futebol”, concordou com as contratações de Eduardo da Silva, Ederson, Grafite, Ribamar, Guilherme, Fabricio, Gedoz, Pavez, Lucas Fernandes, Eduardo Henrique, Carlos Alberto, não revelou um único jogador, fato gravíssimo para quem revelara Kléberson, Dagoberto, Jadson e Fernadinho, não chegou a lugar nenhum no Estadual, Libertadores, Copa do Brasil e Brasileiro, e terminou o ano sem técnico, sem diretor e sem time.

O que vocês acham: o debate na Transamérica terminaria?