Recomeço

Nunca escondi minha amizade com Paulo César Carpegiani. No período em que ele não exerceu a profissão para não confundir os seus interesses com um clube que constituiu para formar jogadores, o RS Futebol Clube, prestei-lhe serviços. Mas não é essa relação que me impede de tomar posições a favor ou contra. Sempre foi assim, pratico há quarenta anos um jornalismo sem entrelinhas, e não é agora, a caminho do canto do cisne, que irei mudar. E se tivesse que começar outra vez, faria tudo igual.

Atribui-se a Carpegiani o fracasso do Coritiba no Atletiba. A imputação é meia verdade. Para se ter a verdade por inteiro é preciso responder uma pergunta: o futebol que o Atlético jogou não teve influência imediata na derrota dos coxas? Para dissociar um fato do outro, isto é, romper qualquer liame entre a derrota de um e a vitória de outro, terá que se reduzir a beleza técnica e individual do jogo do Furacão.

Qualquer analista que correr o risco de dissociar esses efeitos estará contrariando o princípio básico de que o futebol tem lógica, prevalecendo sempre o melhor time. E, aí, o Atlético, embora não seja um exemplo de qualidade, é muito mais time do que o do Coritiba.

Quando foi convidado, lembrei Carpegiani que o Coritiba estava sendo dirigido a sabor da maré, com a água batendo no pescoço, já em fase de asfixia. Deveria ter lhe falado mais: àquela altura dirigir os coxas, seria uma inusitada busca da infelicidade. Com uma oração motivadora e treinamentos táticos exaustivos, conseguiu ganhar pontos para tirar o time da asfixia.

Carpegiani só teve um erro no Atletiba: querer ganhar do Atlético como se tivesse jogando em condições de igualdade. Se futebol se ganha no meio campo (e se ganha) era impossível com seu time, ser igual a Otávio, Hernani, Lucho, Rossetto e Pablo.

O componente da repercussão emocional do Atletiba duplica os erros de um treinador. Se fosse a remota hipótese do Atlético repetir o péssimo jogo de Porto Alegre, não faltariam sugestões para afirmar que o discurso de Autuori estava na última página.

O que os coxas precisam é acabar com o discurso ilusório que foi feito após a vitória sobre o América. O que precisa recomeçar no campeonato. E no momento não há técnico mais indicado para essa tarefa: Carpegiani. Mas aí o treinador não pode ser vaidoso. Precisa ter consciência dos limites do seu time.