Por fazer do futebol um negócio em que os conceitos sobre ética são por ele escritos, Mario Celso Petraglia, mais do que um cartola profissional, é um jogador de poker.
Sob o pretexto de que não há vida no futebol sem correr grandes riscos, Petraglia é incomum: não há código que, como cartola, não tenha violado.
No mercado de jogador não tem nada igual. Usando a expressão que gosta de imputar aos outros, “o uso da mão grande”, cria mecanismos para tirar jogadores de outros clubes. Foi, assim, que trouxe Bambu e Cittadini do Santos, e o atacante Rony, do Albirex Niigata, do Japão.
O Athletico foi condenado a pagar R$ 7 milhões ao Santos por Bambu, mas Petraglia vendeu o jogador por R$ 40 milhões ao Nice, da França. Pagou um advogado de prestigio para Rony, contratou-o com uma liminar e daí vendeu-o por R$ 28 milhões ao Palmeiras. Por Mario Celso Petraglia (e, em consequência, o Athletico) já ter antecedentes, a FIFA suspendeu o direito de atuar no mercado de jogadores do Furacão durante um ano.
O ganho financeiro com essas ações foi relevante. Não afirmo que seja só para o Athletico, por que os interesses de outros também são considerados. Quem ganhou R$ 28 milhões do Palmeiras, pagar R$ 6 milhões para os japoneses é um “troco”.
Mas, a questão, aqui, é outra. O futebol é tão prostituído que torna ético esse tipo de conduta, só porque traz lucros? Talvez, Mario Celso Petraglia entenda de que as grandes vitórias ambientadas pela ética de Sócrates (470 a.C) trazem compensações morais, mas não financeiras. Entendo que Petraglia não deveria propor ao Athletico correr os riscos dos conceitos que regem a sua vida.
A suspensão do direito de não contratar por um ano irá ter reflexos no Athletico. A sua caríssima estrutura sempre foi mantida com a circulação de jogadores dentro do mercado nacional e internacional. Não podendo contratar, estará impedido de reforçar o time que joga e, em especial, de contratar jovens para finalizar a sua formação. O exemplo dessa última classe é Bruno Guimarães, que foi vendido por R$ 100 milhões ao Lyon.
A suspensão alcança o Furacão no momento em que o clube busca compor com o Poder Público a divida da Baixada. Por mais que tenha guardado nos negócios com o exterior e nos prêmios de conquistas, terá que fazer sacrifícios para livrar a Baixada da penhora judicial. E, o fato, coincide com a publicidade do acórdão do Tribunal de Contas que, ao contrário do que se informou, não obriga ao Município e ao Estado fazer um novo aditivo. Apenas, sugere.
O Athletico vive como gosta Petraglia: com a faca no peito.