Porta-retrato

O imortal Mário Lago escreveu certa vez que “o tempo não comprou passagem de volta. Tenho lembranças e não saudades”. Então, como não posso ter saudades, agarro-me às lembranças. No mínimo, fico feliz.

Bons tempos aqueles em que os atleticanos protegiam o Atlético como uma paixão. Então, por serem esses os tempos, aqueles atleticanos trouxeram quatro meninos para o CT do Caju: Dagoberto, Kleberson, Jadson e Fernadinho.

Dagoberto, o mais talentoso de todos, por ser genioso, apressou os seus passos como meia e goleador para ganhar dinheiro. Ficou rico, mas sem uma história.

Jadson foi fiel à sua personalidade: discreto, agora rico, e sem muitas ilusões, ainda busca acabar bem a sua história. Talvez, o tempo já tenha passado. Mas, quem sabe não esteja faltando a última página.

E, eis que apresento Kleberson. Ah! Kleberson, bom moço. Se Fernando Pessoa o conhecesse, diria que é mais pura representação do discreto: “não faz ruído senão com sossego”. E, assim, em silêncio, com o exemplo da discrição perfeita, quebrou dogma que paranaense nato era uma quinta coluna do futebol brasileiro.

Do Atlético, em 2002, foi para a Ásia jogar pelo Brasil. Era tão especial que a sorte lhe deu a mão em uma madrugada fria, quando Carpegiani atendeu o telefone e era Felipão pedindo conselhos para não correr mais riscos de eliminação como no jogo contra a Turquia. Carpegiani lhe disse: coloque Kleberson e libere Cafu. O resto é uma bela história.

Não sei onde anda Kleberson. Não sei se ficou rico ou não. Só o encontro numa foto com Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo, Cafú, e Roberto Carlos posando como campeão do mundo.

E, então, surge o último: Fernandinho.

De todos, na soma dos atributos, foi o maior. Nem craque, nem ilusão. Simplesmente perfeito no fundamento que seu treinador Guardiola elegeu como a mais importante do futebol atual: meia que desarma, arma, avança e marca gols. Com justiça milionário, campeão no Brasil, na Ucrânia e na Inglaterra, joga pelo Brasil contra a Bélgica. É possível que eu o veja no porta-retrato de campeões.

As coisas mudaram, o Atlético mudou, não é mais dos atleticanos, e isso parece ser um conto-de-fadas.
Mas as minhas lembranças continuam sendo minhas.