A delirante lógica do torcedor brasileiro inspira uma coleção de juízos, que é usada como proteção e imunidade pelos cartolas. Essa lógica tem como base o resultado de campo: a vitória posta como única verdade e conforto de tudo, viabiliza a tolerância com o que é ruim. Despreza que, em regra, o que é ruim, provoca no futuro, até muito próximo, danos, que às vezes tornam-se irreversíveis. Talvez, esteja aí, o motivo fundamental para o Brasil não ter um clube com estrutura para manter-se com prestígio internacional.
Já estou quase exausto para tratar do risco que criam as incertezas ao futuro do Atlético. Para atender ambições (algumas irresponsáveis) de Mário Celso Petraglia, permitiu, sem fiscalizar, que fosse alienado todo o seu patrimônio para construir a Baixada. Mais grave é que a falta de transparência, com a concorrência de auditores, faz o torcedor acreditar em soluções messiânicas. Na prática, considerando que o Atlético é titular de 99% das ações da CAP S/A, é possível afirmar que seu passivo circulante é o valor da dívida executada pela construção da Baixada, que com todos os encargos já passa de R$ 400 milhões.
O Coritiba é realista, embora a sua realidade seja penosa. No último balanço, os auditores independentes concluíram que é uma entidade insolvente: o seu ativo não é inferior ao passivo. Concluíram, também, que se fosse dependente contábil, não teria mais continuidade operacional.
É evidente que um balanço não pode considerar que um clube de futebol tem uma torcida, que o ampara no aspecto esportivo contra os números. Mas, tecnicamente, pela conclusão do balanço, o Coritiba hoje só “não fecha” em razão da sua torcida. Mas, essa paixão, às vezes, não deveria atuar em benefício de dirigentes, salvando-os a qualquer custo em troca de vitórias e títulos.
O balanço do Paraná Clube não pode ser analisado, por ser um clube que ficou 10 anos na segunda divisão. Na Segundona não se vive. À muito custo, sobrevive. E no futebol a sobrevivência só é possível com o sacrifício de poucos torcedores, que no Paraná já cansaram.