Origem das ilusões

Há tempo para tudo, aprendemos com São Francisco de Assis. Mas, à certa altura, a vida nos ensina que não há tempo para arrependimento. Bem por isso, sem ter tempo de corrigir novos erros, acompanhei Leonardo Caron, meu neto de 4 anos à Baixada, para ver o Furacão jogar contra e vencer o Cruzeiro, 1×0.

Estávamos lá: meu Leonardo, pela primeira vez, começando expor aqueles mesmos sentimentos e ilusões que carrego há 67 anos; e eu, não podendo disfarçar a emoção de entrar naquele lugar que fiz um quintal da minha casa, agora uma catedral sob a forma de um estádio de futebol.

Como os sentimentos, embora iguais, em razão do tempo, entram em conflitos. Enquanto os olhos do menino Leonardo viam um Furacão perfeito, em especial depois do gol contra de Manoel, os meus viam um time cheio de amarras. Para Leonardo não interessava ver e saber o que os 45 anos de Baixada me ensinaram. O que era importante para mim pela sabedoria dada pelo tempo, para ele era irrelevante: o ataque estático com André Lima, o meio desconexo pelo acabado Lucho González, e a intervenção direta da grande arma atleticana, que é a grama sintética, foram absorvidos pela alegria da primeira vez.

Eis a grande verdade que a televisão mostra, mas não conta, e que no estádio até provoca a curiosidade de uma criança de quatro anos: a velocidade que a grama sintética imprime se transforma em um artificio bem explorado pelo Furacão. A bola que adormece no campo natural, no mínimo dá um toque a mais em velocidade no gramado sintético.

Mas os olhos de criança e de velhos, às vezes, veem a mesma coisa: o Atlético só ganhou do Cruzeiro porque tem um goleiro chamado Weverton. Foram as suas defesas que garantiram a vitória do Furacão. O jogo terminou e antes de sair tive tempo de ver meu neto gritar: Atlético! Atlético! A lembrança foi inevitável: na velha Baixada, da curva da laranja, dos pinheiros a ilustrando, eu gritava pelo Furacão.

E, assim, todos felizes, voltamos para casa. No meu silêncio lembrei de Fernando Pessoa: “A criança que fui chora na estrada. Deixei-a ali quando vim ser quem sou. Mas hoje, vendo que o que sou é nada, quero ir buscar quem fui onde ficou”.

Vitória

O treinador Paulo César Carpegiani não é só inteligente em criar situações táticas para compensar a falta de qualidade individual de um time. É, também, para resumir um jogo. E o fez com felicidade o empate sem gols com o Botafogo, no Rio: “Terminamos pedindo água”. A frase encerra todos os problemas enfrentados pelos coxas: o desgaste do jogo em Medellín, a viagem de 15 horas, e o jogo imediatamente no sábado contra o time de maior ascensão no campeonato, o Botafogo. Fazer uma análise do jogo é bobagem. Não seria 0x0 se não fosse o goleiro Wilson.