O futebol brinca com os sentimentos humanos. Por ser uma fonte de acontecimentos e casualidades, de certezas e desmentidos, às vezes se transforma em um grande mistério.
Esse Atlético de Autuori é o próprio futebol: é um grande mistério. Às vezes, por parecer tão frágil e tão incerto como aquele na noite de horror em Porto Alegre, é capaz de desmentir a si próprio. Quando pouco dele se espera, muito ele dá. Para um time de salário mínimo, com a maioria, ainda saindo do berço, está entre os seis maiores do campeonato.
O segundo tempo, que jogou contra a Ponte Preta, ontem na Baixada, foi precioso. Os 3×0 foi o número justo para o seu jogo. Já ganhando de 1×0 (Thiago Heleno, de pênalti), sem humildade, não recusou o espaço dado pela Ponte depois que essa ficou com dez. Apegado a bola como se fosse objeto do desejo, dominou-a, e com ela avançou as suas linhas, virando do avesso o time de Campinas. Fez o segundo, o mais belo, com Léo e, depois fez o terceiro, com Thiago Heleno, agora, com jeito de centroavante trombador.
E vejam bem. Esse misterioso Atlético de Autuori fez tudo isso, sem dar um único chutão, sem usar do benefício da sorte ou do casuísmo, jogando bola de pé em pé, e contra uma Ponte Preta com os mesmos números, bem organizada por Eduardo Baptista. E tudo isso girando em torno de um moleque de 19 anos, catarina e atleticano da gema, chamado Rosseto.
E nem precisou que o argentino Lucho González jogasse um por cento do que jogava há cinco anos. Tímido, como se entrasse na Baixada sem convite, foi se encostando onde dava. Normal para quem desde maio não dança um tango. Mas, uma ou outra vez, em um lançamento longo ou em um escanteio, mostrou como se bate na bola.
Thiago Heleno foi o herói.
O melhor, em razão do irreprensível comportamento tático, foi Rosseto.
Em tempo: alguns torcedores do Atlético, após os dois gols, voltaram a gritar contra Petraglia. Antes, nos gritos poderia ser destacada uma mensagem de desagrado. Mas, agora, extrai-se uma ofensa ao próprio clube.

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Limites

Quando Coritiba e Palmeiras foram para o intervalo sem gols. E quando nos melhores momentos desse tempo não apareceu nenhum lance de decisão do líder, os coxas devem ter se iludidos com um bom resultado. Mas o futebol não é ingênuo. Para não perder, o Coritiba não poderia errar. E se isso já é impossível para um grande time, imagine para um time frágil como ele tem.
Um time assim pode até surpreender, mas chega num momento em que individualmente não pode falhar. E aí chega o impossível. Quando tinha o Palmeiras sob marcação, o Coritiba viu seu bom goleiro Wilson falhar.
Quando a emoção de um time é controlada no limite, o erro causa descontrole. Daí ter vindo o segundo gol do Palmeiras. O gol de Iago serviu apenas para ficar o consolo de que a derrota foi em razão do erro de Wilson.

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